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Fraquezas e virtudes

11 fev 2005 às 11:00
Em "I'm Wide Awake...", o cantor evidencia influências rancheiras - Reprodução
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Conor Oberst despontou como menino prodígio indie em 1994, quando tinha 14 anos e integrava uma esquecível bandinha chamada Commander Venus. Após o fim do grupo, o rapaz virou objeto de culto com o Bright Eyes, típica banda-de-um-homem-só, e projetos paralelos como o pauleira Desaparecidos – entre os admiradores, está Michael Stipe, do R.E.M., que o convidou para a turnê Vote For Change, realizada no segundo semestre do ano passado nos Estados Unidos para tentar evitar que Bush filho continuasse mais quatro anos no poder (dá para imaginar a relevância que a referida iniciativa teve...).

Apesar da rasgação de seda, a impressão que sempre ficou é de que Oberst ainda ia fazer coisa melhor. Os discos do Bright Eyes continham composições de qualidade, mas no todo eram um tanto inconsistentes, irregulares. Oberst hoje tem 24 anos, e a idade já não serve mais como desculpa. No final de janeiro, ele lançou no mesmo dia dois álbuns, "Digital Ash In A Digital Urn" e "I’m Wide Awake, It’s Morning" (Saddle Creek – importados). E não teve pudores de mostrar as próprias fraquezas e ao mesmo tempo provar que cresceu.

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"I’m Wide Awake..." estava pronto quando Oberst decidiu retornar ao estúdio e gravar outro disco. Decisão infeliz: "Digital Ash..." é a pior coisa que este rapaz já lançou. O álbum perverte levemente o formato musical enxuto do Bright Eyes – composições eminentemente acústicas, com sabores country e folk – ao rechear as melodias torturadas de Oberst com batidas computadorizadas, efeitos e ecos. Algo próximo do (chatíssimo) Smashing Pumpkins fase "Adore", ou da claustrofobia eletrônica das faixas mais experimentais de "Kid A" e "Amnesiac", do Radiohead.

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Mas não se trata de ruptura: as composições continuam gentis, bucólicas. Mas são tão ordinárias que "Digital Ash..." lembra um The Cure em coma alcoólico, um New Order descerebrado. E o disco ainda é prejudicado pela comparação direta com o gêmeo – "I’m Wide Awake..." desponta como o primeiro grande álbum de 2005.

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Aqui, Oberst não inventou e privilegiou violão, saliva e climas rancheiros. Influências caipiras se manifestam em sua plenitude – Violent Femmes, Neil Young, Gram Parsons (tem até participação de Emmylou Harris) – e o Bright Eyes se aproxima da excelência de quase-contemporâneos como Elliott Smith, Beck em faceta acústica e Badly Drawn Boy, antes deste último despirocar e se transformar num mero mala de gorrinho.


Há dois doces momentos de agito, o folk tradicional "At The Bottom Of Everything", com historinha e tudo, e a estradeira "Another Travellin’ Song", e dois instantes de leveza, a apaixonada "First Day Of My Life", recomendada para as viúvas de Smith e de Nick Drake, e "Landlocked Blues", mais próxima de Neil Young. O tom do restante do disco, entretanto, é de desespero – por vezes sutil ("We’re Nowhere And It’s Now"), mas na maioria do tempo escancarado mesmo: "Old Soul Song (For The New World Order)", "Poison Oak" e "Road To Joy" são dilacerantes, arrasadoras. Nessas nuances, nasce um álbum perfeito. Se continuar nessa toada e aprender a errar menos, Oberst vira Bob Dylan.

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LANÇAMENTOS


Magneta Lane – "The Constant Lover" (Paber Bag – importado)

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Que graça o rock teria sem garotas? Este poderoso trio de meninas de Toronto, Canadá, lançou no segundo semestre do ano passado este promissor EP de estréia, que reivindica luz própria no crepúsculo do novo rock. Apesar das seis músicas serem muito parecidas entre si, está tudo no lugar certo, pronto para fisgar quem passou os últimos três anos procurando novidades nos New Musical Express da vida: melodias simples e grudentas, guitarras econômicas e sujinhas, aquela postura arrogante de quem adoraria ter nascido em Nova Iorque... A faixa-título é a melhor do repertório – e sugere que esperar um álbum cheio das moças pode valer a pena.
Para quem gosta de: Sleater-Kinney, Donnas, Strokes.


Athlete – "Tourist" (Parlophone – importado)

Quando surgiu, ainda ontem, a banda inglesa Athlete cheirava a rock psicodélico inspirado em Blur e Pavement com uma leve tendência ao baladismo. A segunda opção prevaleceu neste segundo álbum do grupo, que chegou às lojas britânicas no final de janeiro. Os momentos de agitação são raros e o Athlete investe na fórmula fácil de grandiloqüência lamentosa, com mal disfarçada intenção de ganhar uns trocos na esteira do superestimado Coldplay. Claro que é chatíssimo – o único momento de brilho é a faixa-título e olhe lá. Se já existe o Chris Martin original para incomodar, qual a necessidade de um clone?
Para quem gosta de: Coldplay, Keane, Starsailor.


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