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Ianques de dar sono

27 fev 2004 às 11:00
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Sim, as coisas estão ruins, e lembre-se de que sempre podem piorar um pouco. Se você reclamava que até três meses atrás tinha que pagar 30 reais num CD novo, é bom se acostumar a ir pagando 40, 45 – aumentar os preços das versões nacionais de discos gringos foi a solução inteligentíssima das grandes gravadoras para "vencer" a pirataria.

Nesse contexto nebuloso, onde daqui a pouco vai estar mais barato comprar CD importado do que nacional, o fã de rock é obrigado a bater palmas para séries como esta Made In US, que a EMI pôs nas lojas brasileiras no final do ano passado. No pacote, os lançamentos mais recentes dos ianques Black Rebel Motorcycle Club, Liz Phair, Ima Robot, Dandy Warhols e Ok Go chegam às prateleiras a preços entre 22 e 25 reais.

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É caro, ainda mais pra você, que não teve o seu salário reajustado recentemente (nem vislumbra possibilidade de isso acontecer), e também levando em conta que a EMI tinha prometido que os CDs da série custariam em torno de 15 reais. Mesmo assim, como já dito, na comparação direta com preços de outros lançamentos gringos que não vieram de turma, é melhor não reclamar.

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Made In US é irmã da série Made In Europe, destaque desta coluna há umas semanas atrás, e que despeja por aqui discos de Ed Harcourt, Thrills, Audio Bullys, Starsailor e Athlete. O princípio ativo dos dois pacotes é o mesmo: agradar o público indie com lançamentos de artistas de médio, pequeno e minúsculo porte das safras recentes do rock alternativo. Pena que Made In US seja bem mais fraca do que sua irmãzinha d’além oceano.

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Se você não gostar de nada em "Take Them On, On Your Own", segundo CD da banda californiana Black Rebel Motorcycle Club, não se dê ao trabalho de tentar conhecer os outros títulos do pacote. O trio faz rock garageiro com riffs eficientes, e os decora com melodias entorpecidas que remetem diretamente ao Jesus & Mary Chain.


O problema é que a banda dos irmãos Reid tem uma personalidade musical tão única que quem se atreve a imitá-la quase sempre se estrepa. Prova disso é aquela infeliz subdivisão do indie brasileiro conhecida como guitar – moleques bocós de franjinha que sequer sabem afinar guitarras e que precisam urgentemente de um fonoaudiólogo e de uma apostilinha de escola de inglês.

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Assim, o Black Rebel desce bem melhor quando vai na pauleira: "Stop", "Six Barrel Shotgun", "We’re All In Love", "Rise Or Fall" e "Heart + Soul" trazem riffs tão pesados que chegam a lembrar o Queens Of The Stone Age. A banda acerta também numa deslocada baladinha acústica, "And I’m Aching". Mas quando tenta emular o arrastão do Mary Chain ("In Like The Rose", "Shade Of Blue"), não há cristo que salve.


Quanto a Liz Phair... A cantora surgiu na primeira metade da década de 90 para provar que rock feito por mulheres não significava necessariamente chatice – coisa que não foi fácil, se você lembrar que naquela época o L7 estava estourado. Seu disco de estréia, o impressionante "Exile In Guyville" (1993; o título é uma referência a "Exile On Main Street", melhor disco dos Stones), justaponha indie rock simples a letras que forneciam subsídios para a compreensão do universo da moça solteira na casa dos 20/30 anos mais numerosos do que uma caixa de DVDs com uma temporada completa de "Sex And The City".

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Liz se apresentava como uma PJ Harvey menos trágica, uma Suzanne Vega da geração X, uma Sheryl Crow que deu certo. Depois, casou, lançou mais discos, engravidou, se divorciou, assinou com uma grande gravadora e... Sim, leitor, quando o resenhista recorre ao odioso truque de falar demais sobre o passado de um artista é porque o presente já foi pro vinagre.


"Liz Phair", seu quarto disco, comunga com o rock baladeiro de gente como Corrs, Michelle Branch e Natalie Imbruglia – e, não, isso não é nada bom. Destroçado pela crítica (que, você sabe, no fundo é toda indie) sem perdão, o álbum foi interpretado como uma patética tentativa de Liz de entrar de vez para o mercadão. Não é à toa que o site Pitchfork Media, indie xiita, deu nota zero para o CD.

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Se não é pavoroso, "Liz Phair" não poderia ser mais decepcionante. No lugar da tosqueira de outrora, guitarras límpidas. Onde antes se podia ouvir refrões com a mais graciosa falta de técnica, comparece agora o mais previsível blá blá blá radiofônico. Nas letras, Liz ainda arranca fagulhas que demonstram a compositora inteligente que era, ao desfilar o tradicional rosário de tiradas irônicas sobre relacionamentos. Nada que salve o barco. Já que falamos em seriado americano, vale como uma trilha para "Dawson’s Creek".


A presença dos Dandy Warhols no pacote é no mínimo questionável, já que "Welcome To The Monkey House", quarto disco da banda, já havia sido lançado no Brasil meses antes do anúncio de Made In US. Você já leu sobre ele nesta coluna, então é melhor não desperdiçar caracteres: evite. Os Warhols deixaram de ser um pastiche de Velvet Underground para se tornarem um pastiche de Duran Duran. Se já eram ruins antes, imagine agora.

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A inclusão de Ima Robot e Ok Go também é um mistério, mas por outro motivo: nem o indie mais aplicado deve ter ouvido falar dos dois. Seria uma grande sacada da EMI? Que nada, ambos são péssimos. O Ima Robot lança o álbum de estréia, que leva o nome da banda, e tem como únicas credenciais o baixista Justin Meldal-Johnsen e o baterista Joey Waronker.


Ambos fazem parte da banda de apoio de Beck. Waronker, em particular, é um dos músicos de estúdio mais requisitados do pop americano, com participações em discos de Vines, R.E.M., Smashing Pumpkins, Johnny Cash, Badly Drawn Boy, Elliott Smith. Pena que o som do Ima Robot não chegue nem perto da qualidade dos melhores artistas desse balaio.

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O cérebro da banda é o vocalista Alex Ebert, que escreve todas as músicas de um combo saudosista da new wave e da mistura de funk com rock proposta pelo pessoal daquela época. É parecido com Hot Hot Heat, mas com mais peso e menos inspiração. Ou com o Beck da fase "Midnite Vultures". Quase nada em "Ima Robot" é aproveitável. Se você caiu na arapuca do The Rapture, arrisque. Mas daqui a seis meses é batata que você vai ter um pequeno abacaxi na sua coleção de CDs.


O Ok Go também lança um álbum de estréia que leva simplesmente seu nome. O quarteto é adepto do power pop, aquela linha de melodias docinhas acompanhadas por guitarras dos diabos que tem como exemplares mais famosos Weezer, Wannadies, Rentals e Fountains Of Wayne. O problema é que o Ok Go faz baladas demais e segue uma triste lógica: se você estragar o Weezer um tantinho, começa a ficar parecido com Blink 182, Bowling For Soup...


Em vez de pagar os 22 reais sugeridos pela EMI, baixe "There’s A Fire" que você já tem em mãos tudo que presta em "Ok Go". A banda vem de Chicago, terra de gente pretensiosa como Smashing Pumpkins e Tortoise. No caso, o que faltou ao Ok Go foi justamente vontade de ser diferente.


PROMOÇÃO


O ganhador da promoção Extromodos foi ZENO CARDOSO, de Londrina. Ele leva para casa o CD da banda curitibana, "Pra Ficar". A votação dos leitores indica que o rock alternativo deve continuar imperando neste espaço: foram lembrados nomes como Coldplay, Thrills, Interpol e Flaming Lips. Estamos aí.


DICA

Alguns sócios fundadores vão embora, mas o rock não pode parar. Na próxima terça-feira, dia 2 de março, a Terça Tilt volta a dar as cartas no bar Valentino, em Londrina (Avenida Bandeirantes, perto do Moringão). Desta vez, comandam a discotecagem este colunista, que manda o indie rock tradicional, e Rodrigo Amadeu, do Cherry Bomb, que avisou que não toca música nova e vai pela garageira. A partir das 21h30, com entrada franca.


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