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Impacto intacto

08 out 2004 às 11:00
Os integrantes do Clash: punks salvando o rock do punk - Reprodução
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A capacidade de provocar impacto daquele início permanece intocada: o riff de dois acordes, acompanhado da batida marcial, é reforçado pela linha de baixo de poucas e ameaçadoras notas, que anunciam de forma eloqüente a entrada da melodia. A música se chama "London Calling". Mesmo nome do terceiro álbum do Clash, que, lançado em 1979, é um dos poucos discos que merecem realmente o carimbo clichê de "redefinidor do rock".

Uma edição comemorativa dos 25 anos de lançamento de "London Calling" chegou às lojas no final do mês passado nos Estados Unidos e na Inglaterra. É um disco triplo: o primeiro CD traz o álbum original na íntegra, o segundo é uma coletânea de registros da pré-produção do disco, batizada de Vanilla Tapes, e o terceiro é um DVD com o documentário "The Last Testament: The Making Of London Calling", imagens raras e os vídeos promocionais da faixa-título, de "Train In Vain" e "Clampdown". Alguma chance dessa edição ser lançada no país onde Pitty é rainha? Difícil...

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O grande atrativo para quem já possui "London Calling" seriam as 21 faixas das Vanilla Tapes. Todos os registros são versões embrionárias de músicas que acabariam no álbum, exceto uma releitura de "Remote Control", canção do primeiro disco da banda, e cinco inéditas que nunca haviam sido lançadas oficialmente. Algumas músicas de "London Calling" aparecem com nomes diferentes – "Paul’s Tune", por exemplo, mostra a banda ajeitando a parte instrumental de "Guns Of Brixton".

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As cinco inéditas, diga-se, são meio dispensáveis. As melhores são uma versão reggae de "The Man In Me", de Bob Dylan, o country desajeitado "Lonesome Me" e a crueza punk de "Heart & Mind". As outras duas, a instrumental "Walking The Slidewalk" e o reggae interminável "Where You Gonna Go (Soweto)", não se sustentam nem pelo prisma da curiosidade. As versões primárias das canções do álbum são divertidas e evidenciam a essência garageira da banda, mas obviamente não chegam perto das gravações definitivas. O DVD não representa muita novidade para os fãs, pois traz depoimentos que já constavam do documentário "Westway To The World".

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Mas mesmo que os extras fossem muitos bons seria difícil que tirassem o brilho do álbum em si. "London Calling" flagrava o Clash na beirada do precipício da pretensão, disposto a adicionar todo tipo de referências ao som tosco pelo qual se tornara conhecido. Ao ambicionar novos rumos para si, a banda abriu novas trilhas para o próprio rock, então encurralado na sinuca do primitivismo punk (o mesmo que, meros dois anos antes, havia "salvado" a lavoura).


As abordagens são variadas ao longo das 19 faixas, lançadas originalmente em LP duplo: ska ("Wrong ‘Em Boyo"), reggae ("Guns Of Brixton", "Rudie Can’t Fail"), rock clássico (na versão de "Brand New Cadillac"), baladão tipicamente anos 70, com piano e metais ("The Card Cheat"), e até disco music (no refrão de "I’m Not Down"). Em "Lost In The Supermarket" e em "Spanish Bombs", melódicas e com timbres limpos de guitarra, o Clash dava a lição que seria seguida à exaustão posteriormente: a economia punk não precisa necessariamente ficar a serviço da sujeira. Tal conselho e o ecletismo que pauta o repertório seriam decisivos no estabelecimento da identidade do rock da década seguinte, que não teve pudores em se misturar com funk, R&B, ska, reggae e em resgatar o rockabilly. É nesse sentido que "London Calling" é tão importante quanto bom musicalmente.

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Mesmo quando a banda apresentava tijoladas que remetiam aos seus primórdios ("Hateful", "Koka Kola"), elas vinham embaladas por consistência e refinamento de composição inauditos pela patota dos três acordes. Se o punk salvou o rock, o Clash salvou o rock do punk.


Pena que isso foi insuficiente para salvar a própria banda: entrincheirados numa guerra de egos, Joe Strummer, Mick Jones e Paul Simonon partiriam para a aventura megalômana de "Sandinista!" (um álbum triplo!), atingiriam seu auge de sucesso com o radiofônico "Combat Rock" (1982), antes do trio original se dispersar e se meter em empreitadas musicais com ares de esgotamento criativo. Bem diferente do ambiente sonoro inigualável de "London Calling", onde o rock respirava plenamente, nunca ficava ofegante.

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CORREÇÃO


Na coluna "Rock em meio ao caos", foi informado que o Hurtmold seria carioca. Na verdade, a banda é paulista.


DESCANSO

Este colunista entra em férias a partir da próxima semana. A coluna volta no dia 12 de novembro.


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