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Inspiração e fadiga criativa, tudo ao mesmo tempo

16 abr 2004 às 11:00
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Existem alguns momentos em "Nadadenovo", álbum de estréia da banda recifense Mombojó, que quase fazem o ouvinte exclamar: "Até que enfim, o Lobão conseguiu colocar um CD que presta encartado na revista dele!". "Nadadenovo" acompanha a terceira edição da ambiciosa publicação Outracoisa, editada pelo veterano cantor carioca, de distribuição nacional e que segue a linha editorial de apresentar cultura pop de qualidade distante dos canais da grande mídia.

Nas edições anteriores, os discos que vinham encartados eram dos desnecessários B Negão (ex-Planet Hemp) e Wander Wildner (um dos aríetes deste flagelo chamado rock gaúcho). O Mombojó é bastante superior musicalmente, ainda que "Nadadenovo" traga todos os erros que são admissíveis num disco de estréia arquitetado por uma banda cujos integrantes têm idades que variam entre os 17 e 21 anos.

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Formado em 2001, o septeto alicerça sua massa sonora seguindo preceitos de duas correntes que mudaram a música pop nos anos 90: a primeira, de âmbito nacional, foi o manguebeat, que vendeu o hoje clichê de misturar influências estrangeiras com suingue inspirado em Jorge Ben (e não Benjor), ritmos regionais e sotaque nordestino. Não precisa ter vergonha de sentir uma pontadinha no estômago ao ouvir essas referências – afinal, o precedente aberto por Chico Science deu corda pra que muita gente chata (Eddie, Cordel do Fogo Encantado, Sheik Tosado, quase tudo do trabalho de Otto) enforcasse uma proposta que parecia interessante.

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A segunda corrente, de âmbito mundial, foi "Ok Computer", disco do Radiohead de 1997, que estabeleceu como novo padrão dentro do rock o estudo apurado de timbres inusitados de teclados e guitarras, em formato super-produção. Ao misturar as duas tendências, o Mombojó mostra um apuro na escolha de timbragens surpreendente para uma banda iniciante, ao mesmo tempo em que finca os dois pés num balanço que lembra demais o mundo livre s.a.: nos arranjos, nas melodias, nas harmonias que remetem ao mesmo tempo ao dub e à MPB "tradicional", e especialmente nas interpretações contidas do vocalista Felipe S, que recicla a manha de Jorge Ben como fazia e faz Fred Zeroquatro. Ainda que de forma mais lírica do que panfletária.

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A verve experimentalista do Mombojó, não no sentido de soar vanguardista mas na pretensão saudável de adicionar sabores incomuns a canções pop, é bem-vinda considerando-se que as bandas nacionais que andam em evidência no rádio não costumam se arriscar em nada, mas por vezes entorna o caldo. As vozes distorcidas ao final de "Absorva", por exemplo, mais chateiam do que dão à música o ar viajante que a banda ambiciona, o que indica a sinuca em que Felipe S e seus companheiros caem com freqüência ao longo de "Nadadenovo": confundir psicodelia com leseira, ambiência com modorra.


Dessa forma, o septeto muitas vezes justapõe inspiração com fadiga criativa na mesma faixa, como acontece em "O Céu, o Sol e o Mar", "Adelaide" e "Faaca", onde o suingue no piloto automático, acompanhado pelos sussurros quase sempre tediosos de S, é redimido por guitarras bem colocadas (o guitarrista Marcelo Machado é ótimo) e surtos de excitação.

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Nesse caleidoscópio de batuques regionais, sotaques, teclados lounge, pós-rock (Stereolab é referência nítida) e modernidade, o Mombojó às vezes quase justifica os elogios rasgados que vêm recebendo, mas volta a pecar ao não conseguir construir melodias memoráveis e prolongar o entusiasmo. As exceções são "A Missa" e "Nem Parece", as únicas boas do começo ao fim, e que prenunciam a grande banda que Felipe S e companhia podem se tornar. Por enquanto, anda faltando acertar o ponto dessa salada.


LANÇAMENTOS

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Longwave – "The Strangest Things" (BMG)


O quarteto Longwave é mais uma banda nova-iorquina apaixonada pelo rock inglês. Só que, ao contrário do Interpol, que é Joy Division toda-vida, o grupo se inspira nas bandas shoegazer (Ride, principalmente) ao empilhar linhas de guitarras ao mesmo tempo melódicas e com uma quedinha pelo esporro, quase sempre em acordes menores. A vantagem do Longwave em relação a seus inspiradores é que os vocais são audíveis e bem pronunciados, e o quarteto consegue compor boas melodias. "Wake Me When It’s Over", "Everywhere You Turn" e o single "Tidal Wave" são as melhores músicas do segundo disco do grupo (o primeiro a sair no Brasil), mas no todo o repertório sofre de uma inquietante irregularidade. Os indies vão adorar de qualquer jeito – nem que seja pra ter na estante mais um CD com o nome do produtor Dave Fridmann (que trabalhou com Flaming Lips, Delgados, Mogwai, e é membro do Mercury Rev) no encarte.
Para quem gosta de: Idlewild, faixas mais roqueiras do Interpol, novo rock.


Lambchop – "Aw C’mon", "No You C’mon" (Merge – importado)

A banda de mais de dez integrantes liderada pelo vocalista e guitarrista Kurt Wagner dá sua cartada mais ambiciosa, ao lançar dois discos separados no mesmo dia (na Europa, existem versões que compilam os dois CDs num álbum duplo). Depois do fracasso de crítica de "Is A Woman" (2002), Wagner deve ter concebido estas novas 24 canções sob o espírito do "vai ou racha". O resultado final fica no meio do caminho. "Aw C’mon" e "No You C’mon"soam como uma coletânea do Lambchop, ao apresentar canções que apenas recriam algo que a banda já fez – country, rock alternativo, soul, blues, folk, e, principalmente, pop camerístico, empapuçado de cordas e inspirado em Burt Bacharach. O resultado é desigual e não foge ao lugar-comum: se os melhores momentos dos dois discos fossem compilados num CD simples, sairia bem melhor.
Para quem gosta de: Broadcast, High Llamas, Magnetic Fields.


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