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Preparado para a morte

12 nov 2004 às 11:00
O cantor morreu em outubro do ano passado, aos 34 anos - Reprodução
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Discos póstumos costumam ser armadilhas para resenhistas e fãs de rock. Na maioria dos casos, a memória afetiva fala mais alto do que o senso crítico – e qualquer colagem apelativa de gravações não-finalizadas acaba elevada ao status de último suspiro de genialidade. "From A Basement On The Hill" (Anti – importado), o primeiro álbum do cantor e compositor norte-americano Elliott Smith lançado após sua morte, é um raro caso de disco póstumo que não necessita de condescendência ou elogios antecipados. Ainda que não seja o melhor álbum da carreira de Smith, tem qualidades suficientes para ser apreciado além da comoção pós-morte.

É o disco em que o cantor trabalhava até poucos dias antes de ser encontrado esfaqueado, em sua residência em Los Angeles, em outubro do ano passado. Smith estava com grandes ferimentos no peito: mesmo socorrido, morreu logo depois. Ele tinha 34 anos. A polícia local ainda não conseguiu apurar se o cantor se matou ou se foi vítima de homicídio. O produtor Rob Schnapf e Joanna Bolme, baixista da banda de Stephen Malkmus e ex-namorada de Smith, foram designados pela família do cantor para finalizar as gravações.

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Se o resultado final foi fiel ao que o autor pretendia, "From A Basement On The Hill" não significaria nenhuma mudança de rota. Comenta-se que a intenção de Smith era gravar um álbum mais cru que os anteriores, mas a tosqueira domina os arranjos em apenas duas das 14 canções (mais uma vinheta): "Shooting Star" e "Don’t Go Down", ambas de feições garageiras, ainda que envelopando melodias e versos agridoces que são puro Elliott Smith. As guitarras apitam alto ainda em "Coast To Coast", mas numa levada elegante, semelhante aos momentos mais agitados de "Figure 8" (disco de 2000) e a coisa mais próxima de Led Zeppelin que o falecido cantor já entoou.

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O resto do repertório pode ser alocado em sub-áreas cuja divisão já é conhecida de quem ouviu os discos anteriores de Smith: baladas minimalistas que remetem a Nick Drake ("Let’s Get Lost", "A Fond Farewell", "Twilight", "The Last Hour", "Memory Lane"), harmonias delicadas inspiradas na segunda fase dos Beatles ("Pretty (Ugly Before)", "Strung Out Again", "A Passing Feeling", "Little One", "A Distorted Reality Is Now A Necessity To Be Free") e mergulho copioso nas raias do desespero ("King’s Crossing").

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Como o fantasma de um possível suicida ronda "From A Basement On The Hill", fãs mais dedicados não vão resistir à tentação de buscar referências à tragédia iminente nos versos cantados por Smith. Mas, dentre alusões a desejos de se isolar ("vou queimar todas as pontes que eu cruzar/ e encontrar um lugar lindo para me perder"), a baixa auto-estima ("eu me sentia tão feio, não sabia o que fazer"), a amores perdidos ("o seu amor é triste, estrela cadente") e à idéia fixa de fazer o sofrimento cessar ("não posso me preparar para a morte mais do que já me preparei"), não há nada de novo na lira do cantor. Todos os discos anteriores de Smith poderiam passar por obras derradeiras. Como retratos de uma alma desesperada que buscava se curar através de alguns dos momentos musicais mais belos do pop das últimas décadas.


LANÇAMENTOS

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Bloc Party – "Bloc Party" (Dim Mak – importado)


Das várias bandas surgidas nos últimos anos que têm influências do Gang Of Four (leia-se Futureheads, Dogs Die In Hot Cars), o quarteto londrino Bloc Party é um dos seguidores mais aplicados – tanto no som dançante aliado a guitarras cruas quanto no ideário esquerdista. Este EP compila seis faixas de singles lançados no Reino Unido e o grupo já tem um álbum de estréia pronto, que deve chegar às lojas em fevereiro do ano que vem. Aqui, o Bloc Party sugere um futuro promissor – a música agitada com vocais melancólicos e letras existencialistas está quase no ponto. "Banquet", com refrão choroso à Cure, é a grande canção do repertório e alimenta a expectativa pelo debute.
Para quem gosta de: Gang Of Four, Futureheads, Franz Ferdinand.
Para comprar: www.peligro.com.br


Dears – "No Cities Left" (Spin Art – importado)

Os canadenses do Dears estão na beirada do hype: este segundo álbum da banda foi saudado pela crítica inglesa como a volta dos Smiths. A influência fica nítida nos arranjos requintados e nas melodias amarguradas entoadas pelo cantor Murray Lightburn, cujo timbre vocal lembra o de Damon Albarn, do Blur. As referências são saudáveis, mas os Dears padecem de irregularidade. "No Cities Left" começa com uma potente seqüência de faixas, das quais o destaque é "Lost In The Plot" – que alterna ternura e fúria -, mas o disco perde força do meio em diante. Fica para a próxima.
Para quem gosta de: Smiths fase "Strangeways, Here We Come", baladas do Blur, Tindersticks.


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