Bandas de rock são como seres humanos: podem morrer em vida sem sequer perceber. Seria exagero dizer que o grupo texano ...And You Will Know Us By The Trail Of Dead entrou para o clube dos zumbis do indie rock, mas não há dúvidas de que ele acaba de dar o maior passo em falso de sua curta carreira. "Worlds Apart" (Interscope – importado), quarto disco da banda, que chega no próximo dia 25 às lojas dos Estados Unidos, é um caso típico de moleques doidos para serem levados a sério e que não sabem como.
O Trail Of Dead se tornou conhecido, diga-se, por seu caráter juvenil: shows com quebra-quebra de instrumentos, música pesada e acelerada, letras de uma infantilidade tão atroz quanto deliciosa (o refrão do hino "Mistakes & Regrets": "se eu pudesse fazer uma lista/ dos meus erros e arrependimentos/ colocaria seu nome no topo/ e em todas as linhas seguintes"), bordões debilóides do tipo "kill! kill! kill!" ou "Hail Satan" ("Viva Satã"). No cerne da receita, influências maciças de Fugazi, Sonic Youth e Pixies.
O primeiro disco da banda numa grande gravadora, "Source Tags & Codes" (2002), é um dos grandes álbuns de rock desta década e uma aula de como estrear numa major: o repertório era mais pesado do que os outros dois discos que o Trail Of Dead havia lançado por selos independentes, ao mesmo tempo em que tinha um tom mais pop. Mas "Source..." vendeu pouco e agora é sucedido por "Worlds Apart", que parece uma negação de seu antecessor: frágil, acovardado, uma súplica às paradas.
Foi um parto complicado: o baixista Neil Busch deixou o Trail Of Dead após as gravações e o disco, que deveria ter saído no segundo semestre do ano passado, ficou meses na geladeira da gravadora, que preferiu centrar esforços na divulgação dos CDs mais recentes de U2, Eminem e Gwen Stefani (a loira chata do No Doubt). Ninguém perdeu por esperar – o Trail Of Dead caiu na vala dos que miseravelmente confundem amadurecimento com burocracia.
A exemplo de "Sources...", o novo disco traz interlúdios, vinhetas e cordas, mas desta vez a serviço de melodias e riffs pobres. O primeiro item desabonador é a predominância dos vocais do guitarrista e baterista Conrad Keely, quando qualquer conhecedor do Trail Of Dead sabe que o grande charme da banda sempre foi a alternância de faixas cantadas pelo próprio Keely, por Busch e pelo outro guitarrista e baterista, Jason Reece. Este último aparece pouquíssimas vezes, e o baixista não solta o gogó uma única vez.
Nas composições, ao invés de privilegiar o som sujo que o tornou famoso, o Trail Of Dead arrisca baladas grandiloqüentes e rockões inspirados nos anos 60 e 70 – "Will You Smile Again For Me" é uma bobagem interminável com cores progressivas, "Let It Dive" lembra o simulacro de banda de rock chamado Oasis, "The Best" parece escrita pelo Queen... Quase tudo soa derivativo, frígido, sem personalidade. A razoável "Summer 91" até agrada com melodia à Pink Floyd e levada de guitarra que remete ao britpop, "And The Rest Will Follow" é bonitinha, mas... Para apreciá-las de verdade, só com boa vontade.
Os dois momentos que se salvam em "Worlds Apart" são "Caterwaul" e "Classic Art Showcase", a primeira um Trail Of Dead puro-sangue, e a segunda aparentando ser a única oportunidade em que a banda realmente acertou uma tentativa de adicionar algo novo à sua sonoridade. Mas estes moleques são novos e ainda podem compensar certos erros.