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Repetição bem produzida

24 fev 2005 às 11:00

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O quarteto tem influências hard rock, metal e punk - Reprodução
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O rock não sobrevive sem clichês, e isso não é necessariamente algo ruim. Ótimas bandas recentes como Hellacopters e Hives perseguem com insistência referências de glórias passadas do quatro por quatro, desde o figurino até a última nota do riff de guitarra. Considerando-se a forma como o rock foi contestado nas últimas décadas – pelos adeptos da música eletrônica, principalmente -, essa postura de valorizar o passado não deixa de parecer contestatória.

O quarteto goiano MQN milita por essa valorização do rock com sobrenome ("and roll"). Seu recém-lançado segundo álbum, "Bad Ass Rock And Roll" (Monstro Discos), se filia a uma das muitas ondas saudosistas do estilo, o chamado stoner rock, cujo representante mais popular é o Queens Of The Stone Age – mas cuja essência pode ser melhor apreendida no som de nomes menos conhecidos, como Fu Manchu e Masters Of Reality.

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É pauleira refém de influências do hard rock e do metal primitivo dos anos 70, mas que também tem uma quedinha pelo punk. Há pouco espaço para respirar nos pouco mais de 30 minutos de "Bad Ass...": tudo é pesado, monolítico, numa idéia fixa de busca por diversão violenta (regada a cerveja) que supere o marasmo. Em Goiânia, a meca do breganejo, deve fazer todo o sentido.

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Mas os integrantes do MQN caem numa armadilha fácil para bandas que valorizam em excesso a ortodoxia roqueira – conseguem compor ótimos riffs, agressivos e na medida certa para embalar rodas de pogo, mas são incapazes de escrever melodias à altura. Tudo soa muito repetitivo, e as letras em inglês macarrônico e os guinchos de Fabrício Nobre (idênticos aos de Chorão, do Charlie Brown Jr, mas isso os indies não vão admitir nunca) não ajudam.

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"Bad Ass..." acaba como um disco inferior à estréia do MQN, "Hellburst" (de 2002), e por não superar os defeitos do primeiro disco, não move a banda um centímetro além da sinuca em que está metida: brasileiro cantando rock em inglês nunca se dá bem de verdade – aquela exceção chamada Sepultura não vale – e os rincões alternativos gringos já estão concorridos demais para que os indies tupiniquins almejem moral no exterior. Diante dessa dura realidade e das próprias limitações do MQN, nem a esmerada produção de "Bad Ass..." (perfeita em peso e timbragens) salva.


LANÇAMENTOS

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Eastern Lane – "The Article" (Rough Trade – importado)


Esta banda inglesa lançou há dois anos seu álbum de estréia, "Shades Of Black", que continha composições sujas e promissoras na linha do desleixado (e festejado) novo rock, mas naufragava por apresentar também baladas chorosas e metidas a sérias. Em "The Article", o Eastern Lane melhora ao aumentar a porcentagem de faixas mais agitadas no repertório: quando fica mais virulento, lembra Trail Of Dead ("Saffron"); quando faz música para dançar, se aproxima dos Strokes ("Feed Your Addiction", "Desires Of Liars", "No. 5", ótima, uma das melhores músicas deste início de 2005). Pena que as últimas canções do álbum, irritantes ao extremo, deixem uma péssima impressão final. Para adentrar o clube dos grandes, o Eastern Lane vai ter que aprender a driblar a irregularidade.
Para quem gosta de: Strokes, Libertines, Razorlight.


The Bees – "Free The Bees" (Virgin – importado)

O futuro é passado, baby. A exemplo do MQN, a banda inglesa Bees é adepta do saudosismo – mas numa praia totalmente diferente. Aqui, a fonte de inspiração é o rock dos anos 60, obsessão que chega à produção, obediente aos timbres e climas do som da segunda metade da referida década. Muitas faixas não soariam estranhas no repertório de Beach Boys ("These Are The Ghosts", "Horsemen", "The Start"), do Pink Floyd fase Syd Barret ("Hourglass") e dos discos psicodélicos dos Beatles ("No Atmosphere", "Go Karts"). O grande destaque é a balada soul "I Love You", tão melosa que chega às raias da ironia – mas fisga o ouvinte sem dó.
Para quem gosta de: The Shins, Beta Band, Belle & Sebastian.


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