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Retratos da decadência

11 nov 2005 às 11:00
Supergrass lança álbum com inclinações progressivas - Reprodução
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Das três principais tendências do pop dos anos 90 – o grunge, o britpop e a música eletrônica -, o britpop foi a melhor. Isto porque o grunge revelou apenas uma banda de qualidade (o Mudhoney) e a eletrônica nem isso. O britpop, apesar de ter assombrado o mundo com muita gente insuportável (Oasis, Suede, Elastica, Embrace, Ocean Colour Scene), pelo menos teve uma cota relevante de bons grupos: Blur, Pulp, Supergrass, Super Furry Animals.

Mas atualmente mesmo os melhores representantes do britpop estão imersos em inevitável processo de decadência – criativa e de popularidade. O Supergrass acaba de colocar nas lojas "Road To Rouen" (Parlophone – importado) e o Super Furry Animals oferece "Love Kraft" (Trama). Ambos são indignos dos melhores momentos das duas bandas.

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Produzido pelo brasileiro Mário Caldato Júnior e mixado no Rio de Janeiro, "Love Kraft" se assemelha muito a seus antecessores imediatos, "Phantom Power" (de 2003) e "Rings Around The World" (2001): os Animals continuam sendo uma banda invejável nos quesitos efeitos de estúdio e utilização de timbres inusitados, mas esta qualidade, que anteriormente realçava o colorido de deliciosas canções pop (em "Radiator", de 1997, e "Guerrilla", de 99, os melhores álbuns do quinteto galês), é praticamente a única do grupo hoje.

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"Love Kraft" é arrastado demais. É composto basicamente de tentativas de trip hop ("Psyclone!", "Zoom!") e das velhas intenções psicodélicas ("Oi Frango", "Atomik Lust", "Lazer Beam", "Cabin Fever"), que naufragam no tédio de andamentos excessivamente moderados e melodias burocráticas, sem aquela vocação para grudar na cabeça. Os tempos da empolgação dos hits "The International Language Of Screaming" e "Northern Lites" parecem cada vez mais distantes...

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Já o Supergrass parece estar desesperado para envelhecer em "Road To Rouen". Trata-se de um álbum que merece desconfiança já de saída, pois revela pretensões progressivas de uma banda que se tornou conhecida justamente pelo rock desencanado, festivo, inspirado em Buzzcocks, nos primeiros anos dos Rolling Stones e do The Who. Como o irregular "Supergrass" (de 99) já havia demonstrado, o quarteto inglês não empolga quando envereda por vertentes supostamente mais "densas", sérias.


Isso fica evidente já na faixa de abertura de "Road To Rouen", "Tales Of Endurance (Parts 4, 5 & 6)", com desajeitadas e óbvias mudanças de andamento e uma carência de uma melodia melhor que representa o mal da maior parte do restante do repertório, basicamente uma coleção de esboços de canções. Apenas a manhosa "Low C" e a bela "St. Petersburg" deixam a porta aberta para a possibilidade do Supergrass voltar a fazer ótimos álbuns.

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LANÇAMENTOS


Cansei de Ser Sexy – "Cansei de Ser Sexy" (Trama)

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Que coisa. O álbum de estréia da banda paulistana Cansei de Ser Sexy vem com um CD-R pra você gravar uma cópia pra quem quiser. Paralelamente ao disco, o grupo lança um EP de sete faixas "concebido especialmente para venda exclusiva em shows" (diz o release). Essas meninas (ao que consta, parece que tem um gajo na banda também) fazem música para Paris Hilton, videogame, sobre baladas rock de São Paulo e são "ligadas à moda, às artes plásticas, design e cinema" (essa útil informação também está no release). Ou seja, de pose, elas entendem.


Agora, de música... Confirmando a teoria de que os roqueiros brasileiros são meio lerdos e demoram um bom tempo pra pegar as modinhas gringas, "Cansei de Ser Sexy", o álbum, traz o mais previsível electro-rock, aquela coisa que deixou de ser hype no exterior já há uns três anos. Lovefoxxx é incapaz de cantar no tom. A parte instrumental é ridícula. Os arranjos são primários – em comparação, o funk carioca parece rock progressivo.


As letras são dotadas daquele senso de humor pra arrancar sorriso amarelo: ainda tem pobre de espírito que confunde fazer música bem humorada com fazer música para débil mental. E as melodias são tão infantis que provavelmente nem Kelly Key aceitaria cantar.

Mas como no rock brasileiro o mal geralmente vence (é só lembrar de Pitty), é possível que estas meninas e mais aquele rapaz consigam alguma coisa. E pensar que, enquanto a Trama gasta uma nota preta para divulgar esse lixo, a Patife Band não consegue gravadora para lançar seu próximo disco...


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