Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade

Rock, algum blues e erros em excesso

10 jun 2005 às 11:00
Meg e Jack White em São Paulo: promessa de goleada acabou em bola na trave - Reprodução
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

A América Latina viu antes. Geralmente preteridas nas agendas das grandes bandas internacionais, platéias do México, da Guatemala, da Colômbia, da Argentina e do Brasil, entre outros países, foram as primeiras a assistir aos shows de divulgação do quinto álbum dos White Stripes, "Get Behind Me Satan" (Sum Records), que chegou esta semana às lojas. O giro de Jack (voz, guitarra e piano) e Meg White (bateria) pelas Américas Central e do Sul chegou ao fim no último sábado (4 de junho), com uma apresentação no Credicard Hall, em São Paulo.

Mas, se vão ver só depois, europeus e norte-americanos talvez assistam a shows melhores: na capital paulista, a dupla de Detroit, Estados Unidos, causou comoção mais pela expectativa quase doentia dos fãs, que pareciam dispostos a aplaudir qualquer coisa, do que pela apresentação em si. Jack White fez piadinhas entre as músicas, convidou a platéia para cantar junto e tentou parecer simpático, mas chegou a irritar com suas (inúteis) tentativas de melhorar a qualidade técnica do som – a certa altura, ele interrompeu uma canção no meio, tirou a guitarra, bateu furiosamente nas teclas do piano e saiu do palco (mas retornou, pouco depois).

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


Outro problema foi a seqüência de músicas escolhida pela banda. O início do show anunciava uma apresentação memorável, com interpretações incendiárias de "Dead Leaves And The Dirty Ground", "Black Math" e da nova "Blue Orchid". Dali em diante, entretanto, os White não acertaram na alternância de canções mais agitadas e baladas. Quando sacavam um hit, como "Hotel Yorba", impediam o prolongamento do entusiasmo com andamentos arrastados, variações na estrutura de músicas conhecidas (como em "The Union Forever"), interrupções bruscas e muitos, muitos improvisos: em "Ball And Biscuit" e "Screwdriver", foram tantos que parte do público que estava na parte superior do Credicard Hall preferiu se sentar.

Leia mais:

Imagem de destaque

Prêmio de consolação

Imagem de destaque

Semestre gordo

Imagem de destaque

Sem má vontade

Imagem de destaque

Item obrigatório


O show só não foi um fiasco porque em alguns momentos os Stripes confirmaram sua fama de bons de palco: em "Death Letter" (cover de Son House), Jack White empolgou com a enormidade de barulho que arrancou da guitarra; as versões de "Jolene" (de Dolly Parton) e "I Just Don’t Know What To Do With Myself" (de Burt Bacharach e Hal David) demonstraram bem as duas facetas básicas do som da dupla – delicadeza e ruído – e "Seven Nation Army", compreensivelmente, despertou coros apaixonados do público. Se a banda tivesse esbanjado a mesma competência ao longo de toda a apresentação, a noite de 4 de junho teria sido histórica. Mas foi bola na trave.

Publicidade


O disco – Em 1999, os White Stripes lançaram seu álbum de estréia, no qual (pouco) sabor pop convivia com (muito) barulho e primitivismo, com resultados que não iam muito além do que inúmeras outras bandas de garagem ianques faziam e fazem. A partir do disco seguinte, o ótimo "De Stijl" (2000), as proporções entre melodias assobiáveis e garageira começaram a se inverter – até chegarem às medidas deste "Get Behind Me Satan", onde o piano impera e apenas três das 13 faixas trazem o arrastão de guitarras que fez a fama dos Stripes.


A faceta baladeira de Jack, sugerida várias vezes nos discos anteriores, se desdobra em influências setentistas ("Forever For Her (Is Over For Me)", "White Moon"), tentativas arriscadas (a marimba de "The Nurse") e folk estradeiro ("As Ugly As I Seem"). Os momentos mais pop são "The Denial Twist" e "My Doorbell", ambas com melodia e balanço irresistíveis. Nas poucas faixas com guitarras distorcidas, os amigos de sempre comparecem: Led Zeppelin ("Blue Orchid") e recriações barulhentas do blues ("Red Rain", "Instinct Blues").

Mas esta agressividade fica deslocada dentro do álbum, o que soa inusitado: os White Stripes, a banda das esporrentas "Fell In Love With A Girl" e "Seven Nation Army", fazem do barulho um item alienígena no seu novo repertório. Causa ainda mais espanto o fato de que alcançaram tal feito com maestria, num disco inspirado. Muitos grupos se perderam quando tentaram propor alternativas à sua sonoridade básica. Ainda não foi a vez dos Stripes.


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade