O rock tem lá suas limitações – rítmicas, melódicas, harmônicas, de timbragens. A partir de certo ponto, realmente inovar dentro do estilo ficou muito difícil. É por isso que a imensa maioria dos representantes da nova geração do 4 por 4 tem referências facilmente identificáveis: Libertines emula The Clash, Interpol se atém a Joy Division e Echo & The Bunnymen... Nada contra: se você não é um maluco com uma sacada inovadora na cabeça, não faz mal algum que você recicle o som dos outros para render um punhado de canções memoráveis.
Dogs e Editors são grupos ingleses (o primeiro de Londres, o segundo de Birmingham), acabaram de lançar seus álbuns de estréia e ambos saudavelmente não têm pretensões diferentes do desejo de ser mais uma banda de rock. O disco dos Dogs, "Turn Against This Land" (Island – importado), arrota influências de Clash e da primeira leva do novo rock: Strokes e Libertines. Em "The Back Room" (Kitchenware – importado), os Editors demonstram seu apreço pelo pós-punk inglês, em canções metidas a intensas, dramáticas, derramadas. Podem ser colocados no mesmo escaninho de Interpol e Elefant.
O álbum dos Dogs é melhor. Mais divertido, mais dançante, cheio de melodias e refrões adesivos (que cumprem requisitos para o clichê "hits em potencial"), ainda que tudo seja um pouco derivativo demais: os riffs de "Selfish Ways" e "It’s Not Right" chupam na cara dura as levadas de, respectivamente, "Barely Legal" e "New York City Cops", dos Strokes. Aliás, quem estiver muito desesperado pelo terceiro álbum da turma de Julian Casablancas, pode encomendar "Turn Against This Land" na importadora sem medo: os Dogs são uma espécie de versão mais pesada e emo do quinteto nova-iorquino.
Em momentos mais ("Donkey", "Red", "Tarred & Feathered") ou menos chorosos ("End Of An Era", "Heading For An Early Grave"), o vocalista Johnny Cooke e seus comparsas dosam com competência a mistura de angústia adolescente e guitarras cheias de farpas. "Turn Against This Land" aparece bem na lista de candidatos a álbum de estréia do ano – até porque a concorrência (Bloc Party, Kaiser Chiefs) não é lá muito ameaçadora.
Já os Editors não convencem em "The Back Room" por dois motivos. Em primeiro lugar, cometem a mesma falha de nove em cada dez novas bandas: oferecem apenas duas ou três canções de qualidade no meio de muita encheção de lingüiça. A segunda razão: caem demais na pseudo-intensidade refém das influências de Joy Division e Echo & The Bunnymen e que resulta em músicas que ambicionam ser "atmosféricas", "densas", mas que no fim das contas são apenas modorrentas. O Interpol ficou ainda melhor quando deixou um pouco de lado as obsessões oitentistas e decidiu ser mais roqueiro. Há esperança para os Editors.
LANÇAMENTOS
At The Drive-In – "This Station Is Non-Operational" (Fearless – importado)
Você lê aquele monte de resenhas com elogios ao Mars Volta e não consegue entender como tem gente que enxerga qualidade naquele lixo? Para matar saudades da época em que Cedric Bixler e Omar Rodriguez realmente mereciam aplausos, corra atrás de "This Station Is Non-Operational", coletânea que reúne faixas de álbuns e EPs da banda anterior da dupla, o At The Drive-In, lados B e raridades. A gênese do som do Mars Volta já estava lá: porradaria que nascia no emocore ("One Armed Scissor") convivendo com psicodelismo ("Napoleon Solo"), vertentes às vezes misturadas na mesma canção ("Lopsided"). Para o fã que já tem os álbuns e os EPs, a coletânea vale por uma releitura insana de "Initiation" (canção do primeiro álbum da banda), por uma cover fiel da deliciosa "This Night Has Opened My Eyes", dos Smiths, e pelo DVD, que traz clipes e outras coisinhas.
Para quem gosta de: Fugazi, System Of A Down, Rage Against The Machine.