It's only rock'n roll, but they like it: tudo em "Under Blackpool Lights", o recém-lançado primeiro DVD do duo norte-americano White Stripes, parece planejado para lembrar épocas clássicas do 4 por 4. Da fotografia granulada - a filmagem foi em Super 8 - ao repertório, preso à associação extremada com o blues e o folk que caracterizou as duas primeiras décadas do rock.
"Under Blackpool Lights" foi lançado em dezembro nos Estados Unidos pela BMG e deve sair no Brasil pela Sum no início deste ano. O DVD traz imagens gravadas em dois shows antológicos que Jack (voz, guitarra e teclados) e Meg White (bateria) fizeram em Blackpool, Inglaterra, em janeiro de 2004, e tem ao todo 26 músicas.
Os Stripes desfilam alguns hits óbvios - "Seven Nation Army", "The Hardest Button To Button", "You're Pretty Good Looking (For A Girl)" -, mas evitam certos sucessos (nada de "Fell In Love With A Girl" ou da cover de "I Just Don't Know What To Do With Myself") para valorizar pérolas menos conhecidas de sua discografia e versões. No primeiro caso, se enquadram interpretações arrepiantes de "Do" e "Truth Doesn't Make A Noise".
No segundo quesito, entre covers de gente como Leadbelly e Bob Dylan, destaca-se uma releitura brilhante de "Jolene", da cantora country Dolly Parton, balada adaptada à dinâmica popularizada pelos Pixies: versos-calminhos-refrão-tijolada. O caráter de praticamente todo o show é blues, com longos solos de guitarra, paradinhas e improvisações.
Numa geração de instrumentistas econômicos, Jack White não teve dificuldades para ser tachado de guitar hero, e "Under Blackpool Lights" deixa evidente sua criatividade às seis cordas: o moço surpreende com afinações inusitadas, peso encardido e solos com um quê de virtuosismo. Nem sempre compensa a ausência de um baixo ou de uma segunda guitarra – em "Black Math", parece que ele toca uma música e Meg, outra.
No fim das contas, o DVD atenua a ansiedade dos fãs ante o providencial respiro que a dupla deu na carreira em 2004. Jack e Meg estão gravando o quinto álbum e há uma certeza: se o que vier por aí for digno do que foi registrado em "Under Blackpool Lights", os White Stripes só vão aumentar sua importância dentro do rock.
LANÇAMENTOS
Super Furry Animals – "Songbook: The Singles - Vol. 1" (Sony)
Este disco compila 21 canções da primeira década de atividade dos Super Furry Animals. A exemplo do Blur, o quinteto galês sempre foi especialista em álbuns irregulares – "Guerrilla", de 1999, é o único excelente de ponta a ponta - e singles matadores. As assobiáveis "The International Language Of Screaming" e "Demons", do disco "Radiator" (97), fizeram com que a banda fosse rotulada de britpop, devido ao tom retrô e às melodias reverentes a glórias passadas do rock britânico. O restante da coletânea, entretanto, mostra que o som dos Animals é bem mais variado do que o dos limitados Oasis, Suede e Ocean Colour Scene: "Northern Lites" tem influências caribenhas, "Play It Cool" traz teclados lounge e a linda "Juxtapozed With U" é soul de branco. Pena que "Songbook" também flagre a derrocada criativa da banda, que nos últimos anos tem enganado com baladinhas anêmicas como "Hello Sunshine" e "It’s Not The End Of The World?". Com um novo álbum no forno, é possível enxergar que o auge dos Animals já passou.
Para quem gosta de: Blur, Pato Fu, Pulp.
Arcade Fire – "Funeral" (Merge – importado)
O álbum de estréia desta banda canadense figurou em boa parte das listas de melhores de 2004 – principalmente entre as publicações mais indies. Gravado entre falecimentos de parentes dos integrantes do grupo, "Funeral" é obviamente tenso, soturno, melancólico. A instrumentação é preciosista, e, aliada ao tom lúgubre, lembra Echo & The Bunnymen e outros seguidores de Leonard Cohen, como Nick Cave & The Bad Seeds e Tindersticks, com uma ou outra guitarra mais ácida. Triste e belo, ainda que um tanto superestimado pela crítica.
Para quem gosta de: Tindersticks, Czars, Nick Cave.