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Sobrevivendo musicalmente

25 nov 2005 às 11:00

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Black Francis tenta alcançar os gritos de outrora - Reprodução
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Certo, os Pixies voltaram. Tocaram nos principais festivais do mundo, fizeram uma turnê em que os ingressos evaporaram, mostraram o quanto são bons a uma geração que era nova demais para ouvir rock na época em que a banda lançou os clássicos "Surfer Rosa" (de 1988) e "Doolittle" (89). Mas o primeiro show da reunião do quarteto foi no início de 2004, o que, para os padrões atuais da indústria do entretenimento, parece que foi há dez anos. Fica a pergunta, então: e agora?

Enquanto Black Francis anuncia em entrevistas, de forma tímida, a intenção dos Pixies de gravar um álbum inédito, a banda ganha tempo para decidir seu futuro ao lançar "Pixies Sell Out" (que a Warner acaba de colocar nas lojas brasileiras), DVD que reúne imagens da turnê de 2004. O pacote traz uma apresentação na íntegra na França e canções pinçadas de shows na Inglaterra, na Escócia, no Japão e nos Estados Unidos.

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Com o som reguladinho e a interferência da platéia domada, é possível ver com nitidez no que foi dar musicalmente a reunião dos Pixies. Como pode assegurar qualquer pessoa que viu vídeos de shows da primeira encarnação do quarteto, mesmo no auge a banda sempre foi claudicante no palco. Na turnê da volta, o grupo repete falhas: Francis e Kim Deal erram letras, a banda atropela andamentos, algumas vezes interpreta clássicos com exagerada moderação.

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Isso representa um fiasco, então? De jeito nenhum – quem tem na manga um caminhão de canções memoráveis só faz um show ruim se quiser. E esse equilíbrio sobre o abismo, onde erros quase amadores são acompanhados por momentos transcendentais, até valoriza a volta do grupo, envolta em acusações de oportunismo. Porque se os Pixies voltaram a tocar juntos por dinheiro, ao menos o fazem com sangue e esforço, e oferecem aos fãs espetáculos dignos, nos quais a paixão de outrora espreita, sem a aura de calculismo que acompanha a maioria das turnês de reunião de bandas consagradas. As tentativas de Francis de alcançar os gritos que ele próprio imortalizou em disco chegam a ser comoventes.

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E há surpresas: ao contrário do que se poderia supor, visto que todos os pixies já são tiozinhos e supostamente estariam preferindo sons mais calmos, o ponto alto do show na França presente no DVD é a seqüência "Crackity Jones", "Broken Face" e "Isla de Encanta", em que a faceta hardcore da banda é lembrada de forma entusiasmada, juvenil, coisa para deixar o povo do novo rock envergonhado. "Hey", apaixonada e arrastada, fica mais arrepiante ao vivo. E até a versão sutil de "In Heaven" (que costumava ser interpretada com esporro indomável, o momento mais selvagem dos shows da primeira encarnação dos Pixies) funciona.


"Pixies Sell Out" é a prova de que, sim, a turnê de reunião da melhor banda dos anos 80 valeu a pena e sobreviveu musicalmente, não precisou apelar para a boa vontade dos fãs. Volta a pergunta, então: e agora? Porque quem tem um passado tão digno e uma importância tão grande não pode viver "de reunião" para sempre.

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LANÇAMENTOS


Babyshambles – "Down In Albion" (Rough Trade – importado)


"Down In Albion" é uma propaganda anti-drogas mais eficiente do que qualquer campanha governamental. O abuso de crack e cocaína está minando a capacidade de compor e de cantar de Pete Doherty. No álbum de estréia da banda que ele formou durante as indefinições sobre sua presença nos Libertines, há uma carência considerável de canções de qualidade. Quando elas comparecem ("Killamangiro", "Back From The Dead"), Doherty trata de estragar tudo com cantoria bêbada, preguiçosa, sem ritmo e com sílabas engolidas. Nos (vários) instantes em que essa auto-indulgência contamina as composições, saem coisas como "Sticks And Stones", patética macaqueação do reggae à Clash. Pelo que dá para notar, o brilho do segundo álbum dos Libertines passou longe.

Para quem gosta de: rockstars em decadência.


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