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Um quarto de século à frente

23 abr 2004 às 11:00
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Se você gosta de indie rock, você sabe que deve muito à Rough Trade. A gravadora independente inglesa lançou uma das bandas mais importantes de todos os tempos, os Smiths, tem no currículo uma relação de pequenos grandes grupos (Stiff Little Fingers, Young Marble Giants, Galaxie 500, Beat Happening, Wire) e atualmente concentra em seu cast alguns dos nomes mais incensados do rock contemporâneo, como Strokes, Libertines e Belle & Sebastian, e novatos dos mais promissores (Fiery Furnaces, Eastern Lane, Delays, Hidden Cameras).

A história da Rough Trade teve início em 1976, quando Geoff Travis, ao lado de amigos, fundou uma loja de discos em Londres. Dois anos depois, Travis criou um selo independente com o nome da loja. Desde então, a Rough Trade manteve fama de lançar música de qualidade, embora há alguns anos as atividades da gravadora tenham sido interrompidas devido a dificuldades financeiras e problemas judiciais. Após o retorno, Travis acertou praticamente de saída, contratando os Strokes.

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Para comemorar os 25 anos de criação da gravadora, Travis lançou no final do ano passado a coletânea "Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before", que a Trama coloca agora nas lojas brasileiras. O conceito do disco é sensacional: artistas contratados recentemente pela Rough Trade (não necessariamente novatos: alguns, como o Belle & Sebastian, já têm um tempo na estrada) tocando covers de nomes consagrados do selo.

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A idéia é tão boa que deveria ser copiada por outros selos independentes. A Matador Records, que completa 15 anos em 2004, por exemplo, poderia propor a mesma coisa aos seus contratados. Não seria interessante ouvir o Pretty Girls Make Graves fazendo "Fuck And Run", de Liz Phair? Ou o Interpol tocando "In The Mouth A Desert", do Pavement?

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No caso de "Stop Me If You Think...", a idéia não só é boa como dá certo na prática: pouco entre as 16 faixas da coletânea é dispensável. Apesar de não ter nada dos Smiths (é possível que problemas de direitos autorais tenham impedido que alguma canção da banda fosse gravada), o apanhado resume com precisão a importância que a Rough Trade teve e tem.


A ótima e quase esquecida banda galesa Young Marble Giants é lembrada em duas versões: Adam Green faz "Eating Noddemix", num arranjo bastante parecido com o original, e o Belle & Sebastian mostra que ainda pode ser mais do que a bandeca de "Dear Catastrophe Waitress" ao transformar em discoteca a introspectiva "Final Day". Os Strokes têm duas de suas canções reinterpretadas, em resultados desiguais. O Detroit Cobras causa bocejos ao alterar o andamento e até a melodia de "Last Nite". Por seu lado, o Royal City confere a "Is This It" a delicadeza que a canção sempre pediu, com sussurros, instrumental mínimo e batida que quase chega à valsa. Supera a versão dos próprios Strokes de longe.

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O resto do balaio expõe várias facetas do que ficou conhecido como indie rock. Timidez vocal com guitarras em tons menores (o British Sea Power e The Tyde não têm coragem de mudar nada em, respectivamente, "Tugboat" e "Tell Me", ambas do Galaxie 500), guitarradas saudavelmente bobas (Eastern Lane, mais irreverente do que de costume em "Fa Ce La", dos Feelies, Jefrey Lewis fazendo "Part-Time Punks", dos Television Personalities), choradinhas ao violão (Mysthic Chords Of Memory em "We Could Send Letters", do Aztec Camera, Liz Fraser, ex-Cocteau Twins, cantando "At Last I Am Free", de Robert Wyatt) ou mesmo cabecismo metido a vanguarda (Oneida manda uma chata "Jazz Is The Teacher, Funk Is The Preacher", de James Blood Ulmer).


Como cereja do bolo, os Delays fazem justiça a "Ride It On", do Mazzy Star, numa interpretação que parte do indie rock e quase atinge o inusitado de chegar às raias da new age. Esquisito, contraditório e levemente genial, como toda a história da Rough Trade.

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LANÇAMENTOS


Modest Mouse – "Good News For People Who Love Bad News" (Epic – importado)

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Independente se isso é bom ou não, o rock vive mercadologicamente um momento esquisito. Não existe um sub-gênero dominante dentro do estilo, já que o new metal está com um pé e meio na cova e o tal novo rock insiste em não estourar. Nesse ambiente imprevisível, acabam acontecendo casos curiosos como o da banda norte-americana Modest Mouse, que existe há anos, nunca foi de vender muitos discos e de chamar muita atenção da imprensa, mas que está entrando no circuitão das rádios comerciais ianques com seu sexto álbum, "Good News For People Who Love Bad News".


O culpado pelo sucesso que o disco começa a experimentar é a primeira faixa de trabalho, "Float On", uma reunião de guitarras indie e melodia levemente tristonha, mas com a dose exata de ironia. Ou seja, um retrato do que o Modest Mouse sempre foi. Nesse disco, a trupe liderada pelo vocalista Isaac Brock adicionou acordeom, cordas e metais ao seu som básico. As composições ajudam, sejam lembrando Tom Waits ("This Devil’s Workday"), investindo na pauleira ("Bury Me With It"), no pop desavergonhado ("Ocean Breathes Salty", "One Chance") ou em baladinhas ("Bukowski", "Blame It On The Tetons"). Na surdina, e de onde menos se esperava, um dos melhores discos do ano até agora.
Para quem gosta de: Flaming Lips antes do disco "Zaireeka", Pavement, Built To Spill.


LUTO

Recebi apenas esta semana a informação de que Bira Ribeiro, vocalista da banda curitibana Extromodos, tinha falecido num acidente de carro ocorrido no último dia 11. Ele tinha 22 anos. O Extromodos teve seu primeiro disco, "Pra Ficar", resenhado aqui na coluna há algumas semanas. Meus pêsames à família do músico, aos outros integrantes da banda e aos fãs. Mensagens de solidariedade podem ser enviadas pelo site www.extromodos.com.br.


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