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Várias pulgas atrás da orelha

03 jun 2005 às 11:00

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Quarteto tem influências de Mike Patton e Dead Kennedys - Reprodução
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O System Of A Down não é apenas uma grande banda de rock pesado. Quando se verificam quais são os males que acometem hoje as paradas de sucesso dos Estados Unidos – r&b pasteurizado, os rappers picaretas de sempre, rock anódino e insosso -, o quarteto liderado pelo vocalista Serj Tankian é um oásis de criatividade entre os campeões da indústria do disco, uma ilha de esquisitice num ambiente sonoro onde a falta de personalidade parece regra.

A banda acaba de lançar "Mezmerize" (Sony), seu terceiro álbum (quarto, se for contada a excelente coletânea de sobras "Steal This Album!", de 2002), que faz parte de um projeto ambicioso de lançar dois discos quase simultaneamente – o seguinte, "Hypnotize", sai no segundo semestre. A idéia de soltar dois álbuns no mesmo dia ou com apenas alguns meses de diferença geralmente resulta em tiros pela culatra (vide os dois "Use Your Illusion", dos Guns’N’ Roses) ou em desempenhos irregulares (no início do ano, o Bright Eyes colocou no mesmo dia nas lojas o melhor disco de sua carreira, "I’m Wide Awake, It’s Morning", e o pior, "Digital Ash In A Digital Urn").

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Mas o System Of A Down tem crédito na praça e, a julgar, por "Mezmerize", a idéia de disponibilizar praticamente de uma vez um número tão grande de músicas retrata antes um momento criativo de intensa produção do que uma iniciativa ególatra. Prova disso é que o primeiro disco do projeto é enxuto, com 11 petardos que somados não chegam a completar 40 minutos.

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O início do álbum é desnorteador e típico do System Of A Down: a guitarra acústica e as harmonias vocais da curtinha "Soldier Side" são prontamente soterradas pelo peso cavalar de "B.Y.O.B.", com diversas quebradas de andamento, trechos trash metal que não devem nada ao Slayer e um refrão curiosamente pop, melódico e irônico: "todo mundo vai para a festa/ se divertir para valer" (verso encaixado numa canção sobre o horror da guerra...).

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A referência suprema do quarteto continua sendo as bandas de Mike Patton – Faith No More, Mr. Bungle, Fantômas -, na alternância esquizofrênica de levadas e nos vocais de Tankian, que sem cerimônia vai do sussurro a berros psicóticos. Outra influência evidente é Dead Kennedys, não só pelos cortes bruscos na estrutura das canções, mas também na forma como as interpretações galhofeiras facilitam a digestão de temas espinhosos como política externa ianque, guerras, o vazio do esqueminha rádio-MTV e do mundo das celebridades, a falência do tal sonho americano...


O grande destaque do disco talvez seja o guitarrista Daron Malakian, que assume os vocais principais em algumas faixas, assina todas as canções (algumas em parceria com Tankian) e desenha o labirinto de passagens do som do System Of A Down com riffs metaleiros, técnica sem exibicionismo e sutileza, quando necessário.

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Sem medo de arriscar várias possibilidades, o quarteto não só adiciona estranhamento às paradas como expande as fronteiras gastas do metal: o moleque com camiseta do Iron Maiden talvez não entenda a hilária letra de "Cigaro" (com referências insistentes ao tamanho do órgão sexual do autor da música), o acordeão deslocado de "Radio/Video", as brincadeiras vocais à Pato Fu de "This Cocaine Makes Me Feel Like I’m On This Song", as melodias infantis de "Violent Pornography"... O System Of A Down está aí mesmo para colocar pulga atrás da orelha dos conformistas do rádio e da MTV e da dos revoltadinhos de camiseta preta. Não dá para pedir mais de uma banda.


LANÇAMENTOS


Oasis – "Don’t Believe The Truth" (Sony)

Quem explica esse fenômeno chamado Oasis? Como uma banda tão medíocre conseguiu enganar tanta gente a ponto de alguns indivíduos considerarem que ela possui alguma qualidade e até a saudarem como alguma coisa importante? E parece que o poder de picaretagem dos irmãos Gallagher continua afiado: tem até quem diga que este patético "Don’t Believe The Truth" é o melhor disco do grupo em muitos anos (o que é uma piada de saída: é notório que o Oasis nunca gravou um álbum sequer que prestasse). Aqui, as guitarras serra elétrica de Noel foram levemente amaciadas, o que reforçou o caráter sub-Beatles desta bandinha. Mesmo quando o Oasis tenta variações, é incapaz de soar minimamente original: "Mucky Fingers" é plágio descarado de "I’m Waiting For The Man", do Velvet Underground, e "Part Of The Queue" é imitação de Doves e Badly Drawn Boy. No fim das contas, "Don’t Believe The Truth" é outro fracasso. Considerando-se que em mais de dez anos de carreira e em seis álbuns o Oasis só conseguiu fazer uma música de qualidade (uma!), "Live Forever", dá para dizer que se trata da pior banda do mundo.
Para quem gosta de: Oasis e de jogar dinheiro fora (o que é praticamente a mesma coisa).


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