Pedagoga alerta que o papel dos pais é oferecer um ambiente de qualidade para seu desenvolvimento e promover acolhimento para que a criança se desenvolva no seu tempo
Muitos pais têm dúvidas sobre o desenvolvimento do seu bebê e, na ansiedade de verem os filhos andando, falando, comendo, acabam adiantando fases que deveriam ser vivenciadas por eles em seu próprio tempo, pulando momentos indispensáveis para um processo saudável de desenvolvimento.
Um exemplo muito comum dos estímulos precoces que os pais acham estar fazendo certo para o bebê é o andador, que, além de prejudicar o processo de desenvolvimento, oferece diversos riscos. Segundo a pedagoga da Escola Parlenda, Ana Julia Rodrigues, o corpo é o principal meio pelo qual as crianças aprendem e interagem com o mundo. “Esses dispositivos impossibilitam que a criança perceba o seu próprio corpo. O papel do adulto de estimular uma conquista que ainda não aconteceu é um equívoco. Antes não significa melhor. Não é necessário antecipar fases se oferecermos um ambiente adequado para seu desenvolvimento e acolhermos a criança no seu tempo”, informa.
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Ela exemplifica que, antes de caminhar, o bebê vai aprender a ficar de bruços, rolar, ficar em posições semi sentadas e ajoelhar. Aos pais, cabe dar apoio a essas conquistas, transmitindo a mensagem de que seu filho é capaz, o que traz para a criança uma sensação profunda de bem-estar e autoestima. O estímulo, representado, por exemplo, pelos andadores, interrompe esse ciclo tão importante no início de suas vidas.
Na perspectiva de aprendizagem ampliada, o bebê aprende com o corpo e tem um profundo desejo de compreender o mundo ao seu redor. “Os bebês aprendem participando dos processos sociais. São oportunidades em que podem perceber a si mesmos na relação com o outro e com a sociedade. Em uma ida ao mercado, caminhada na praça ou uma refeição em família, ele buscará interagir com as outras pessoas e explorar tudo o que estiver ao seu alcance”, destaca Ana Julia.
A família pode olhar para o valor de cada momento da rotina, como na hora da alimentação à mesa, em que a criança vai observar como está posta a mesa, analisar o alimento à sua frente e aprender observando e participando dessas situações do cotidiano.
O aprendizado das crianças também pode ir além. Quando os pais proporcionam que a criança conheça os alimentos in natura e deixam a criança tocar o alimento, ela percebe texturas, formas, consistências. Ou mesmo antecipando que é hora de almoçar. “O que vemos é que muitas vezes os bebês são tratados como objetos e presenciamos os adultos tirando-os do chão e pondo na cadeira sem contar a eles o que vai ocorrer, que eles vão se alimentar. Sem antecipações e regularidade, o bebê não consegue prever o que irá acontecer e escolher modos de participar. Ele precisa ser tratado como um sujeito”, observa.
Comunicação não-verbal é a principal linguagem do bebê
Os adultos, que valorizam a conquista da escrita e dos números, perdem tempo precioso ao deixar de acompanhar a evolução do seu bebê, que utiliza a comunicação não-verbal como sua principal linguagem e forma de se relacionar inicialmente com as pessoas.
Exemplo disso é quando o bebê se locomove até um objeto e escolhe um modo de percorrer esse trajeto. Ao invés de interromper o bebê, o adulto deve aguardar e observar. “Nesse instante, quando a gente conversa com o bebê e aguarda que ele se comunique com o olhar, um sorriso, um balbucio, isso é respeitar seu próprio tempo”, aponta a coordenadora pedagógica da Escola Parlenda.
É por isso que, em uma situação cotidiana como uma troca de fraldas, o adulto precisa entender que não se trata de uma tarefa a ser cumprida, mas um momento único entre adulto e criança, que garante uma relação de qualidade e respeito.
Para isso, a pedagoga sugere que os pais narrem para a criança o que vai ocorrer antes mesmo de retirá-la das atividades, informem que a fralda está suja e o bebê vai ficar melhor depois disso, mostrem as mãos, aguardem a resposta do bebê e carregue-o ciente de que este é um momento de relação e conexão. “Na hora da troca da fralda, os pais devem antecipar o que vai acontecer, já que a criança tem o direito de saber o que vai ocorrer e não ser surpreendida com um lencinho gelado tocando sua pele”, alerta.
Bebês conquistam cada fase com garantia da sua autonomia
Os pais devem partir do princípio de garantir ao bebê liberdade para se movimentar e respeitar a conquista em cada momento da sua vida. Se o bebê não descobriu ainda como ficar sentado, os pais devem olhar para o bebê e respeitar a conquista naquela fase, sua capacidade adquirida até ali, sem buscar artifícios para acelerar o processo.
Em várias situações da vida e pequenas ações é possível garantir a participação do bebê como sujeito competente, que está formulando suas observações do mundo para interagir com as coisas e as pessoas. “Aquilo que acontece fora do momento adequado não vai promover aprendizagem. Muitas vezes a noção de estímulo, expressão muito usada para os bebês, pressupõe o que vem de fora, como se fosse um botão apertado para que algo aconteça. Mas aprendizagem é algo que parte de dentro para fora. O bebê é o principal agente do seu processo de aprendizagem, sempre a seu tempo”, conclui ela.
Aqui vão 6 dicas da especialista para apoiar o desenvolvimento do bebê de forma saudável:
1. Garanta um ambiente onde ele possa se mover livremente sem antecipar etapas de desenvolvimento. Por isso, não utilize andadores e, nos momentos de brincadeiras, não limite sua capacidade de movimentação com dispositivos como bebê conforto ou berço portátil.
2. Observe o ritmo da criança e garanta uma rotina de sono, alimentação e brincadeiras que seja condizente com a necessidade do seu filho. Cada criança terá um ritmo diferente!
3. Comemore cada pequena conquista do bebê, aprenda a olhar para novos marcos de desenvolvimento e de aprendizagem. Por exemplo, novos modos de ficar sentado, de segurar um objeto ou de empilhar blocos.
4. Converse com seu bebê, antecipando o que irá acontecer com ele, seja na troca de fraldas ou em um momento de alimentação. Acredite que seu filho está ativamente e intencionalmente buscando compreender o mundo.
5. Fique atento às formas de se comunicar do bebê, acolhendo gestos, olhares, sorrisos, choros ou balbucios. Afinal, a falar se aprende falando e a dialogar, dialogando. Por isso, escute.
6. Permita que o bebê explore os objetos a seu próprio modo. Muitas vezes, eles farão algo completamente diferente do que os pais imaginaram. Acolha esse impulso criativo e de maravilhamento com o mundo.