Qualificar a relação afetiva, propiciar momentos interessantes e de atenção, oferecer o estímulo adequado, promover a interação mediada, desenvolver autonomia aliada à responsabilidade, brincar, rolar no chão e contar histórias. Tudo isso auxilia no desenvolvimento intelectual e cognitivo de uma criança. Parece fácil, mas a tarefa não é nada simples.
''Este é um desafio que pais e escolas enfrentam diariamente. Mas, basicamente, a inteligência pode ser desenvolvida por quatro aspectos: estimulação adequada, conquista de desafios, resolução de problemas e superação de dificuldades'', explica o psicólogo Marcos Méier, mestre em educação e uma das referências em metodologia da educação de todo o País, que fez palestra recentemente no Colégio Universitário, em Londrina.
Nesta entrevista, Meier destaca erros comuns na educação e dá dicas simples aos pais sobre como valorizar a importância da interação pai-filho e pai-escola, que é uma das principais características potencializadoras da capacidade de aprendizagem das crianças.
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De que forma a relação afetiva pode contribuir no desenvolvimento da inteligência dos nossos filhos?
Tudo aquilo que diz respeito ao toque é extremamente importante para a criança. O contato, pele com pele, toque, abraço, beijos, brincadeiras, fazer cócegas. A criança que manifesta a necessidade do carinho fica em volta da gente fazendo manha, numa choradeira o tempo todo. Já o adolescente tem medo que essa necessidade tenha a cara da infância e é por isso que ele evita que a mãe o leve para escola e lhe dê um beijinho no rosto em frente aos amigos, por exemplo. Mas é nesse momento que começam os erros dos pais, porque achando que os filhos não querem mais carinho passam a não demonstrar esse afeto dentro de casa.
Essa falta de afetividade também se reflete na vida adulta?
Sim. Mas os adultos possuem uma capacidade incrível de ocultar e disfarçar essa necessidade. O homem se manifesta através do silêncio e do mau humor. A mulher fica contraditória, quer algo, mas acaba dizendo outra coisa. No caso do idoso, aquele que ganha afeto fica 40% menos doente do que os outros. Percebendo essa importância precisamos marcar a nossa relação de afeto com os nossos filhos.
Na sociedade em que vivemos tanto as mulheres quanto os homens trabalham fora. Há uma grande preocupação em torno do tempo que é dedicado às crianças. De que forma é possível melhorar a qualidade na relação?
Existe um mito de que tempo de qualidade substitui a quantidade. Não é verdade. Temos sim que ter tempo de qualidade, mas precisamos também de tempo de exclusividade, que é diferente do que normalmente os pais imaginam. Saia só com um dos seus filhos e gaste o tempo só com ele. Converse, bata papo, vá ao cinema ou a um parque juntos porque é nesse momento que ele vai se abrir e contar coisas da escola, por exemplo. Não dá para acreditar que somente alguns minutos de qualidade vão suprir uma distância enorme. O que acontece é que muitos pais colocam de lado todas as regras, limites e só brincam e fazem bagunça. Eles acabam tendo um tempo de intensidade e não de qualidade.
E como evitar esses erros?
Quando os pais interferem muito, muitas vezes são eles que ''conquistam'' a autonomia pela criança e não a criança em si. A criança é que tem que conquistar desafios, resolver problemas e superar dificuldades. Quando a criança passa por essas etapas o cérebro percebe que precisa construir novos caminhos, novas conexões, novas sinapses para dar conta dessa nova exigência. Mas essas novas conexões só são provocadas se o cérebro sentir a necessidade que vem do desafio, do problema, da dificuldade.
Então as sinapses têm relação direta aos estímulos dados à criança?
O estímulo é um outro fator, que forma novas conexões cerebrais. Mas deixar uma criança na frente da televisão o dia todo não é nada estimulante. O estímulo tem que ter qualidade, intensidade, diversidade e quantidade. Só assim ele será legal e adequado. A gente tem que estimular a criança através de coisas diferentes, criativas, novos jogos, brincar, rolar no chão, pular muito. No dia a dia há coisas tão simples de se fazer que às vezes não percebemos. Por exemplo, você mostra para seu filho um prédio que tem três andares e uma janela em cada. Pergunte a ele quantas janelas o prédio tem no total. A criança, sem saber a tabuada, vai imaginar e calcular esse total. Essa criança fica empolgada com matemática e, na escola, vai ter uma continuidade do desenvolvimento do cálculo mental.
O ambiente pode influenciar nesse desenvolvimento?
Existe uma teoria dos ''ambientes modificantes'' do autor israelense Reuven Feuerstein que tem pesquisado a qualidade da relação pai e filho e a qualidade da relação professor-aluno. Quanto maior for essa qualidade, mais a criança aprende e se desenvolve de forma inteligente. Se o pai gosta de aprender e fala positivamente sobre a aprendizagem, os filhos também terão vontade de aprender e vão para frente.
Quais seriam as principais dificuldades da educação?
É diferente dar aula para uma criança de hoje, que já nasceu na era da internet. Por isso é importante que o professor participe de formações continuadas, palestras e cursos de atualização. Um dos erros que os pais cometem é o autoritarismo que cobra da criança que ela não desobedeça. O não desobedecer implica em não discutir, não debater, não refletir, não argumentar. A superproteção também não é boa, porque não deixa a criança conquistar desafios, superar dificuldades. E o terceiro problema, que infelizmente é o que a gente mais encontra, é a negligência. Eu não dou nada para meu filho e não exijo nada dele. Existem crianças negligenciadas nas ruas e dentro de casa também. É fundamental que os pais saibam mais sobre a educação dos seus filhos e interajam mais junto a escola.