Os calouros indígenas da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) passaram por uma atividade de acolhimento na instituição. A atividade foi organizada pela Prae (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis).
Depois de aprovados no 22º Vestibular Indígena do Paraná, os estudantes conheceram os espaços que irão frequentar nas próximas semanas. Com sonhos distintos, eles caminharam pelas salas de aula e laboratórios e expressaram o sentimento de sonho realizado por entrar na universidade. A atividade incluiu passeio pelos dois campi, para conhecer os principais locais, como auditório, ambulatório de saúde, laboratórios e Reitoria.
Para Luiz Carlos Kog Te Salles Batarse, vice-cacique da comunidade indígena Mococa, do município de Ortigueira, a lembrança da aprovação é inesquecível. “Minha mãe chegou falando ‘Luiz, você passou! Você passou!’, e eu soltei um grito. 'Meu Deus, eu vou ser médico!'", afirma. Da aprovação à chegada na UEPG passaram pouco menos de 30 dias. O calouro em Medicina gostou do Bloco M e do Hospital Universitário, onde vai estudar.
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“Estamos distantes 54 quilômetros do nosso município e eu cresci vendo a dificuldade do meu povo em ter um médico. Aí eu coloquei em mente que quando eu crescesse iria prestar vestibular”, conta. A idade chegou e, com ela, a prova. Foram seis tentativas antes da tão sonhada aprovação. “Eu sempre pensava, uma hora vai chegar, uma hora eu vou conseguir. E no vestibular passado eu consegui passar”, completa. A chegada a Ponta Grossa, na semana passada, veio com planos. “Já procurei casa para alugar, que seja bem perto da UEPG, quero começar as aulas”.
Luiz é um dos seis alunos indígenas que conseguiram uma vaga na instituição por meio do Vestibular dos Povos Indígenas, que aconteceu dias 07 e 08 de maio. Eles vão estudar Medicina, Farmácia, Direito e História. A UEPG aplicou as provas para 136 candidatos no polo de Manoel Ribas, em parceria com a UEM (Universidade Estadual de Maringá). O processo de escolha dos cursos é diferente do vestibular tradicional – primeiro, são feitas as provas e depois a opção pelo curso, de acordo com a classificação.
Andreely Muvagtanh Alves também vai frequentar o Bloco M. Depois de cinco anos como professora, ela quis mudar de vida. A escolha? Farmácia. “Decidi fazer Farmácia porque tem várias áreas para atuar, até fora da aldeia”. O sonho da caloura é trabalhar como perita criminal. “E se não der certo, pelo menos terei várias áreas para atuar”, avalia.
A nova vida de Andreely, longe da comunidade indígena de Faxinal, vem carregada de novos jeitos de enfrentar a rotina, como ficar longe dos dois filhos pequenos. “A gente sente falta da família, das comidas da casa. Eu tenho dois filhos, já tenho saudades deles, mas o meu objetivo é ficar aqui e já está sendo legal”, conta. Com casa já alugada e a mudança feita, a expectativa pelas aulas está a mil. “A ansiedade é grande para começar as aulas, para ver como é a área, ainda mais as aulas práticas”.
Inclusão
Como os alunos indígenas passaram no Vestibular no meio do semestre do ano letivo de 2023, as aulas para eles começarão a partir de agosto. Até esta hora chegar, a Prae organiza atividades de integração, como rodas de conversa, orientações sobre o acadêmico online e Google Classroom, procedimentos de protocolo SEI, informações sobre os cursos escolhidos, esclarecimento sobre a Política de Permanência Indígena e demais serviços e atendimentos.
Muito além do ingresso, a Prae atua para garantir a inclusão e a permanência dos acadêmicos na universidade. A pró-reitora da Prae, professora Ione Jovino, ressalta que a UEPG, além de trabalhar na aplicação das provas, também atua na organização do Vestibular, nas discussões e deliberações que antecedem o evento. “Talvez seja uma questão até maior que o número de indígenas que estão inseridos ou precisam acessar o ensino superior. Faz com que avancemos na construção de uma pluralidade forjada nas relações do dia a dia”, ressalta.
Os aprovados recebem um auxílio financeiro mensal de R$ 1.125,00 (para estudantes sem filhos), e R$ 1.687,50 (para indígenas com filhos). A bolsa é condicionada à frequência, que precisa ser de, no mínimo, 75%. A UEPG também fornece alimentação, com isenção no RU (Restaurante Universitário), e vale-transporte.