A Fifa suspendeu o envio de dinheiro para a CBF que havia prometido como parte do "legado" que deixaria ao Brasil depois da Copa do Mundo. Novas auditorias estão sendo realizadas e não existe um prazo para a retomada da transferência dos recursos. Passados 17 meses do Mundial mais rentável da história, o Brasil recebeu apenas 0,2% da receita da Copa, de cerca de US$ 5 bilhões.
Durante a preparação para o Mundial, a Fifa anunciou que criaria um fundo de US$ 100 milhões para desenvolver o futebol brasileiro. Até hoje, porém, apenas US$ 8,7 milhões foram liberados e, em terrenos comprados com o dinheiro, os projetos não têm data para ocorrer enquanto novos recursos não forem liberados.
Oficialmente, a entidade não dá explicações à suspensão. Mas, segundo um porta-voz, "requisitos adicionais de informes e auditorias estão atualmente sob discussão com a CBF". Tanto o presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, como os ex-presidentes José Maria Marin e Ricardo Teixeira estão sendo investigados na Fifa por corrupção. Os três também foram indiciados pelo FBI.
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Na CBF, a direção de Comunicação confirma o congelamento dos recursos. Mas aponta que o problema estaria na Suíça. "Segundo a Fifa, tendo em vista os acontecimentos recentes, a entidade está totalmente dedicada na revisão de seus processos de 'compliance' financeiro. O presidente do Comitê de Auditoria e Compliance e o departamento jurídico da entidade optaram por interromper qualquer envio de recursos de projetos de desenvolvimento, onde o Projeto de Legado da Copa do Mundo se encaixa", indicou.
O fundo foi criado em 2013, diante dos protestos no Brasil contra a Fifa em um esforço para demonstrar que a Copa traria vantagens ao futebol brasileiro. Até hoje, apenas US$ 8,7 milhões foram enviados ao País. US$ 3,1 milhões foram usados pela própria Fifa em gastos no Brasil. Outros US$ 5,5 milhões entraram nos cofres da CBF - 40% foi alvo de tributação.
Durante a Copa, em 2014, um centro de treinamento foi inaugurado em Belém. Mas, desde então, pouco se avançou em outros projetos. De acordo com a CBF, US$ 3,3 milhões do fundo da Fifa foram usados para construir centros de treinamentos.
Terrenos foram comprados em Porto Velho (RO), diz a entidade. Em um documento enviado à CPI do Futebol e obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo, um informe da Fifa aponta que ainda estavam sendo procuradores terrenos em Alagoas, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Paraíba, Roraima e Santa Catarina.
Na capital do Tocantins, Palmas, um outro terreno de 40 mil metros quadrados foi comprado e a promessa era de que, até o final deste ano, as obras começariam. Hoje, porém, não existe nenhum sinal de obras. "O processo de concorrência para contratação das construtoras só pode ser iniciado quando se tem a garantia de envio dos recursos por parte da Fifa", explicou a CBF.
A Federação de Futebol do Tocantins é uma velha aliada da CBF. Seu presidente, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), foi um dos políticos que recebeu doações da CBF para sua campanha ao Senado.
Segundo a CBF, o dinheiro do Fundo também foi usado para "o suporte técnico na compra dos mencionados terrenos, elaboração de projetos arquitetônicos e executivos e gerenciamento das obras". Os recursos ainda foram destinados à "elaboração de modelo de gestão e governança a ser aplicado nos Centros de Desenvolvimento do Futebol".
A CBF afirma ainda que realizou "seminários de futebol feminino, com a presença de representantes de todas as 27 federações estaduais, dos 20 clubes mais bem ranqueados, de ex-jogadoras e demais 'stakeholders' da modalidade", entre outras atividades.