Dados da International Obesity Taskforce (IOTF), entidade que estuda meios para combater a obesidade mundial, apontam que cerca de 300 milhões de crianças sofrem com obesidade infantil no mundo todo. No Brasil, passa de 25% a parcela de crianças fora do peso. Os números preocupam ainda mais, quando se percebe que há 10 anos a incidência de obesidade infantil era muito baixa. Há várias causas para explicar esse surto de gordinhos pelo planeta: alterações genéticas, hereditariedade, má alimentação, sedentarismo e até fatores emocionais.
Os especialistas são unânimes em apontar o atual comportamento infantil como o grande vilão. Antigamente, a criança ia à escola a pé, brincava na rua, corria. Não ficava tanto tempo em frente à TV, computador ou videogame. Além disso, as comidas eram mais saudáveis, sem salgadinhos ou refrigerantes. A seguir, o médico Marcelo Reibscheid, pediatra do Hospital e Maternidade São Luiz, criador do portal Pediatria em Foco, fala sobre as causas e consequências do problema, além de dar dicas para uma boa alimentação.
Causas
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Infância sedentária
As horas de lazer ficaram mais raras e os espaços para brincar reduzidos. Correr na rua atrás dos amiguinhos é cada vez mais raro. Somado a isso, ainda temos o problema das comodidades da vida moderna. Temos o controle remoto, o carro, o computador e o videogame que distrai as crianças por horas seguidas. Para mudar o quadro, basta que a criança mexa o corpo, brinque mais, corra mais. Quando a criança está com excesso de peso tem que começar com uma atividade física moderada, bem lúdica, com a intenção de motivá-la a praticar mais exercícios. Caso contrário, a garotada desiste.
Emoções e alimentos
A partir dos oito anos, usar a alimentação como válvula de escape é muito comum. A garotada continua a comer, mesmo se sentindo empanturrada, com dor de barriga e mal estar. Essa busca de saciedade emocional, do alimento como a principal fonte de prazer, pode ser causada por vários fatores - entre eles uma fuga da própria obesidade que já existe. Essa criança não pratica esporte, ganha apelidos na escola, tem dificuldade de ingressar nos grupos. Então, prefere ficar em casa e acaba comendo mais.
Genes e gula
Atualmente, a ciência sabe que há mais de 100 genes associados ao excesso de peso. Mas ainda se conhece pouco sobre a fisiologia da doença. Ter pais obesos influencia muito. Se o pequeno tem só o pai ou a mãe fora do peso normal, ele apresenta 50% de chances de ser gordinho. Agora, se os dois adultos são obesos, as chances aumentam para 80%. A criança que já possui predisposição genética e ainda vive em um ambiente de obesos, com certeza, desenvolverá a obesidade. Por isso, é importante investir o quanto antes na prevenção. Há pessoas que acham que até os três anos a criança pode engordar tudo o que quiser. Mas, quando chega aos quatro, ela já pode estar obesa. Há estimativas que mostram que as crianças que chegam obesas à adolescência têm 80% de chances de permanecer assim na vida adulta.
Os riscos da obesidade infantil
Problemas emocionais: crianças e adolescentes estão em plena formação de sua personalidade, e os impactos emocionais o acompanharão por toda a vida. Obesos são motivo de gozação pelos colegas e são excluídos das brincadeiras. A criança passa a se sentir uma perdedora, não tem vontade de sair de casa, não gosta da imagem que vê no espelho e pode até desenvolver depressão.
Diabetes: o aumento de peso provoca alterações na insulina, que controla as concentrações de açúcar no sangue. Cerca de 50% das crianças obesas desenvolvem diabetes, caso não procurem um tratamento rapidamente.
Problemas cardiovasculares: o coração incha e fica saturado pelo excesso de gorduras. A pressão alta pode afetar crianças gordinhas, e isso aumenta as chances de infarto. Mais de 25% dos pacientes que permanecem obesos, por sete anos, desenvolvem algum problema cardiovascular.
Colesterol alto: o excesso desse tipo de gordura na corrente sanguínea é cada vez mais comum nas crianças obesas a partir dos cinco anos de idade. Esse acúmulo favorece a formação de placas nas artérias, aumentando as chances de doenças cardíacas e derrame cerebral antes dos 30 anos.
Alterações de sono: é comum a criança obesa apresentar apneia enquanto dorme. Trata-se de uma desordem em que a pessoa para de respirar por alguns segundos. Quando os obesos dormem, a musculatura fica relaxada e o peso da gordura na face e no pescoço comprime a garganta e dificulta a passagem do ar. Com isso, o pequeno acorda várias vezes à noite com a sensação de sufocamento.
Descamação, micose brotoeja: os gordinhos são cheios de dobrinhas de pele que, pela dificuldade de secagem, estão permanentemente úmidas e se transformam no lugar ideal para a formação e proliferação dos fungos. Além disso, há o suor excessivo.
Varizes e trombose: o excesso de gordura dificulta a circulação sanguínea. Crianças obesas têm quatro vezes mais chances de ter esses males quando adultos.
Serviço:
www.pediatriaemfoco.com.br