Dizem que uma refeição a gente come primeiro ''com os olhos''. Mas, se um prato colorido e variado é capaz de estimular o desejo e o apetite, o benefício para a saúde é ainda melhor - quanto mais colorido, mais nutrientes indispensáveis para o organismo.
Cada cor, explica a nutricionista Gisele Centenaro, de Londrina, está relacionada a certos tipos de vitaminas e fitoquímicos, substâncias que as plantas produzem para se proteger de vírus, bactérias e fungos, e que, ao serem ingeridas, trazem benefícios também para o corpo, atuando na prevenção de doenças como as cardiovasculares e o câncer.
''Os pigmentos coloridos dos vegetais e frutas protegem as células contra a ação dos radicais livres, fortalecem o sistema de defesa, favorecem a homeostase da flora bacteriana intestinal e previnem contra doenças crônico-degenerativas'', aponta o médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Durval Ribas Filho.
Leia mais:
'Caso Panetone' reacende debate sobre contagem de calorias e terrorismo nutricional nas redes
Uso de creatina não é para todos e consumo em excesso pode ser prejudicial
Confira cinco mentiras sobre alimentação que sempre te contaram
Relatório aponta que 28% dos alimentos industrializados têm sódio em excesso
Não é exatamente uma regra, mas cada cor representa substâncias importantes e benefícios diferentes. São seis grupos de alimentos, divididos em branco, vermelho, amarelo, verde, marrom e preto ou roxo. ''Os de cor vermelha, por exemplo, contêm uma substância chamada licopeno. Considerado um antioxidante natural, ele protege o organismo de substâncias químicas agressivas às células, e é capaz de prevenir o câncer'', explica o médico.
Uma das descobertas recentes, aponta o nutrólogo, é a concentração de flavonóides na casca de frutas cítricas, que favorecem a diminuição do colesterol ruim (LDL), 20 vezes maior do que em outras frutas. ''É um antioxidante potentíssimo, que já se usa até em cosméticos'', diz, chamando a atenção também para o poder antioxidante de ervas como alecrim, coentro, tomilho e manjericão, e de vegetais como brócolis, couve-flor e repolho.
Os estudos científicos ainda não comprovam, mas indicam, segundo a nutricionista, que a melhor forma de se obter os benefícios é consumir os produtos in natura ao invés de em cápsulas ou suplementos. E mais: para trazer benefícios, a ingestão deve ser um hábito.
Mas, se as cores beneficiam, o contrário também se aplica. ''Uma pessoa que ingere sempre os mesmos alimentos, as mesmas cores e sabores, pode desenvolver deficiências nutricionais'', alerta Gisele. As refeições monocromáticas, em que o bege é a cor predominante, como a do macarrão ou pão, ressalta o médico, ''aceleram o processo de envelhecimento e predispõe o organismo a várias doenças, como colesterol alterado, câncer ou diabetes''. Na dúvida, não custa seguir um dos lemas da nutrologia: ''Quem quer que seja o 'pai' de uma doença, a 'mãe' foi uma dieta deficiente''.
Cada cor, uma propriedade e indicação
Vermelho: a cor da força
Exemplo: Pimentão vermelho, tomate, morango, melancia, goiaba Estes alimentos são indicados contra depressão, cansaço, ou falta de desejo sexual. O vermelho, proveniente do lipoceno, aparece associado à vitamina C, formando uma duplacom o efeito antioxidante, que entre vários benefícios previne o câncer e colabora para o tratamento do estresse.
Verde: limpeza do organismo
Exemplos: Abacate, abobrinha, alface, quiabo, repolho, brócolis, kiwi Nestes alimentos o pigmento responsável é a clorofila, considerada um importante energético celular. Desintoxica as células, inibe as radicais livres, protege o cabelo e a pele. Impede que o organismo absorva as substâncias químicas.
Preto ou roxo: retardam o envelhecimento e cuidam do coração
Exemplos: Ameixa, uva, jabuticaba, beterraba, repolho-roxo, alcachofra Contém antocianina, pigmento ligado à vitamina B1. Os alimentos desta cor retardam o envelhecimento, neutralizam as substâncias cancerígenas, antes que elas alterem o código genético. Auxiliam o sistema nervoso, pois favorecem a circulação e protegem o coração. Também contém boa qualidade de ferro.
Amarelo ou laranja: reforçam as defesas
Exemplos: Mamão, cenoura, laranja, milho, abóbora São ricos em betacaroteno, fundamental para a manutenção dos tecidos e cabelos. Ricos em vitamina C, participam da ação colágeno e tem ação antioxidante contra os radicais livres. Também beneficiam a visão e fortalecem o sistema de defesa. Alguns destes alimentos também são capazes de prevenir o câncer de mama.
Marrom: regulador do intestino
Exemplos: Soja, aveia, arroz integral, trigo, lentilha, nozes São ricos em fibras, por isso favorecem o bom funcionamento do intestino, prevenindo a prisão de ventre. Também têm efeito antioxidante, vasodilatador e combatem a ansiedade e a depressão.
Branco: fortalecimento
Exemplo: Banana, batata, couve-flor, feijão branco, leite Fontes de potássio e cálcio contribuem para a manutenção dos ossos, favorecem a regulação dos batimentos cardíacos e são fundamentais para o funcionamento do sistema nervoso e dos músculos.
Medicina chinesa alia cores, emoções e sabores
Na medicina tradicional chinesa, a cor dos alimentos também é importante para a boa saúde. Mas, além das cores, os alimentos são classificados, segundo a nutricionista e acupunturista Gisele Guarino Centenaro, de Londrina, conforme yin e yang, os cinco elementos da natureza (madeira, fogo, terra, metal e água), as estações do ano, as cinco emoções, os cinco sabores e segundo a ação em alguns órgãos. ''Para os chineses, os alimentos têm interferência direta em nossa saúde, em nível nutricional, físico, emocional e energético'', ressalta.
A nutricionista explica que cada cor tem relação com algumas emoções e com a energia que produzem em determinados órgãos. Assim, alimentos verdes, por exemplo, de sabor ácido ou azedo, em excesso ou falta, agem no fígado e interferem em sentimentos como raiva, irritação, ressentimento e frustração.
''Se você anda muito irritado é prudente não exagerar em alimentos ácidos ou azedos. E se você anda um pouco lento, sem reação, é recomendado ingeri-los. É um exemplo simplificado de como os chineses veem a alimentação'', explica.
Gisele ressalta que, assim como na medicina ocidental, é preciso ter uma alimentação equilibrada, ''diversificada em cores, sabores e temperaturas (dependendo da estação)''. ''O excesso ou a falta de cada um deles pode agredir os órgãos e as emoções a que se referem''.