Alimento de uso milenar, a soja conquistou o público brasileiro e não faltam profissionais que indiquem seu uso para se obter benefícios para a saúde. Os ''milagres'' propostos são inúmeros, da superação dos efeitos da menopausa até a prevenção de uma série de tipos de câncer. Mas, nesse ambiente de tanta confiabilidade, surgem dúvidas quanto aos efeitos colaterais.
Cientistas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos publicaram na revista científica Human Reproduction estudo que revela a redução de espermatozóides durante o consumo de soja. Os pesquisadores observaram que os participantes que consumiam em média uma porção de comida à base de soja em dias alternados, apresentavam uma redução de 41 milhões no número de espermatozóides. A concentração considerada normal de espermatozóides no sêmen fica entre 80 e 120 milhões por mililitro.
A explicação para esse efeito colateral em relação aos hormônios masculinos, segundo a pesquisa, está na alta quantidade de isoflavonas, substância de efeitos parecidos aos do estrogênio (hormônio feminino), encontradas em grande quantidade nas proteínas da soja.
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Além da infertilidade, outro efeito colateral que vem sendo discutido é a ginecomastia, o aumento do volume mamário nos homens. Segundo a nutricionista, Flavia Pagano, o exagero de consumo de produtos de soja por homens vegetarianos, confirmou o efeito. ''É como se o homem em questão tivesse se tratado com estrógenos (ou seja, hormônios da mulher). Este tipo de problema é raro, e com a suspensão temporária dos produtos de soja, a ginecomastia tende a regredir'', afirma a nutricionista.
Segundo a professora e nutricionista Rejane Dias das Neves Souza, uma pesquisa como essa deve ser repetida por outras instituições para que seus resultados sejam dados como oficiais. ''No campo da ciência, para se declarar algo como comprovado é necessário que vários cientistas apontem os mesmos resultados'', afirma.
Em Belfast, na Irlanda do Norte, pesquisadores do hospital Royal Victoria, têm de dedicado ao estudo desde 2004 e divulgam os mesmos resultados.
A nutricionista Elaine Cristina de Melo desconsidera qualquer dano atribuído à soja. ''Até hoje as pesquisas sempre apontaram benefícios. Ela é utilizada tanto para ajudar na reposição dos hormônios femininos na menopausa como também para diminuir os sintomas da andropausa, que é o período de queda da taxa hormonal no homem durante o processo de envelhecimento. O importante é usar a soja nas devidas proporções. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aponta que seu uso deve ser de até 25g diários para se obter benefícios'', esclarece.
Já o médico pediatra, Jonilson Favareto, avalia que o problema está no excesso do uso do alimento. ''O uso bem indicado da soja, nas proporções corretas da pirâmide nutricional, não constitui risco para a saúde. O perigo está no uso em excesso'', afirma.
Consumidores mantêm cautela
Depois de substituir o leite de vaca por sucos de fruta à base de soja, o universitário João Talis de Oliveira Mercadante decidiu rever o hábito ao tomar conhecimento da pesquisa de Harvard. ''Eu não vou ficar esperando que seja noticiado que outras pessoas ficaram estéreis para ter cuidado com a soja. Ela pode ser ótima para muitas coisas, mas se a Harvard aponta esse resultado, e se publicou em uma revista científica, já é suficiente para que eu dose o consumo'', afirma.
O medo de efeitos colaterais preocupa chega aos pais. A bibliotecária Fernanda Serrano tem evitado o uso na alimentação de seu filho de três anos. Ela conta que trabalha em uma universidade e faz buscas em banco de dados para vários cursos, entre eles o de nutrição. ''Tenho conhecimento dos estudos sobre a soja que várias instituições têm feito. Como há alguns casos que alertam para o uso nos meninos de dois a sete anos, pelo estímulo do hormônio feminino, eu cortei radicalmente os sucos de soja na alimentação do meu filho'', afirma.
O auxiliar de administração, Willian Mendonça, que planeja com sua esposa a gravidez ainda este ano, tem procurado conhecer os ingredientes dos alimentos que consome, para saber a quantidade de proteínas de soja. ''Tomei conhecimento da pesquisa e ainda que outros especialistas digam que não há provas suficientes, eu não vou arriscar. Quando se trata de saúde, como podemos arriscar?'', questiona.