Estima-se que metade dos pacientes diabéticos não sabe que está doente. Em países em desenvolvimento, esse índice chega a 80%. Essas pessoas evoluem longos anos sem nenhum sintoma que possa revelar a doença. Quando passam a apresentar sintomas, eles são muitas vezes tão vagos e inespecíficos que são confundidos com cansaço e estresse. Somente quando o paciente passa a urinar muito, beber muita água e a emagrecer é que as pessoas procuram atendimento médico. Esse período de doença, assintomático, pode durar vários anos preciosos e pode definir a evolução da doença para um curso benigno e sem complicações, ou para uma patologia grave e debilitante, com complicações vasculares terríveis.
Muitos pacientes chegam ao consultório queixando-se de que tem a glicose "um pouco elevada", sem saber que são diabéticos. Quando cientes sobre o seu diagnóstico, muitas vezes, têm resistência em aceitar o fato, pois continuam afirmando que é apenas uma elevação pequena na glicemia. Em outros casos, eles até "aceitam o diagnóstico", mas continuam pensando que é um diabetes "leve", como se existisse diabetes leve. Outras vezes, nos deparamos com pessoas mal orientadas por colegas que desconhecem a importância de um diagnóstico precoce do diabetes para que se possamos instituir um tratamento precoce. Com isto, perdemos o timing para esclarecer e prevenir as complicações crônicas da doença.
Diagnóstico
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Fazer um diagnóstico baseado em um valor laboratorial é outro grande problema do diabetes, pois, muitas vezes, um diagnóstico deixa de ser feito durante muito tempo. Valores normais e anormais dependem de padronizações muito bem definidas, mas que variam de acordo com o quadro clínico apresentado. Um exemplo disso é o valor de normalidade da glicemia de jejum. Quando dizemos que glicemias de jejum normais estão entre 70 e 100mg/dL, isso não significa que não tenhamos diabéticos com glicemia de jejum de 95mg/dL ou pessoas normais com glicemia de jejum de 110mg/dL. Daí que esses valores devem ser analisados em conjunto com outras variáveis como antecedentes familiares de diabetes, peso corporal, nível de estresse, tempo de jejum, medicamentos utilizados, etc.
Outro motivo de confusão são os valores de glicemia que definem o diagnóstico de diabetes como maior ou igual a 126mg/dL. Entretanto, quem poderá dizer que uma pessoa com glicemia de jejum de 125mg/dL não é diabética? Chegamos ao extremo de encontramos pacientes com glicemia de jejum de 80mg/dL que já revelam o diabetes quando submetidos a uma curva glicêmica. Suspeitamos deles ao analisarmos seus antecedentes familiares de diabetes, seu peso corporal e outras alterações laboratoriais sugestivas da doença, como um HDL colesterol baixo e triglicérides elevado.
Memória Metabólica
Há alguns anos, vem sendo confirmadas evidências contundentes de que o excesso de glicose na circulação e nos órgãos dos diabéticos, na fase inicial da doença, pode marcar para sempre a memória de suas células, principalmente, aquelas sujeitas às agressões crônicas da hiperglicemia como os rins, retina, coração e membros inferiores. Esse efeito é tão importante na evolução da doença que nos faz acreditar que após um longo período inicial de negligência no controle do açúcar no sangue, muito pouco podemos fazer para prevenir as lesões que incapacitam os pacientes.
São bem conhecidas e temidas as seqüelas do diabetes mal controlado, de maneira que quase nada podemos fazer frente à falência renal, a não ser a hemodiálise e o transplante; diante das lesões de retina que levam à cegueira; frente ao infarto agudo do miocárdio, principal causa de morte nesses pacientes, e nas graves lesões periféricas para prevenir as amputações.
Prevenção
Algumas vezes, não entendíamos o porquê de alguns pacientes diabéticos sofrerem tais conseqüências apesar de estarem relativamente bem compensados e manterem glicemias consideradas normais. Hoje, sabemos que muito provavelmente eles sofrem das conseqüências da memória metabólica de suas células, lesadas no início da doença, através de um descontrole glicêmico prolongado.
As lesões iniciais parecem ser causadas pelos famosos radicais livres produzidos a partir do excesso de açúcar a que essas células foram expostas. Dito dessa forma parece natural pensar no tratamento utilizando-se as vitaminas antioxidantes. Entretanto, já está bem estabelecido que os antioxidantes disponíveis, principalmente os suplementos vitamínicos, não tem nenhum efeito benéfico no tratamento do diabetes. Quando utilizados em grandes doses, eles podem até ser deletérios e não faltam evidências científicas para isso. Uma pesquisa recente e de grande credibilidade demonstrou que o betacaroteno, vitamina A e vitamina E podem aumentar a mortalidade destes pacientes.
As pesquisas estão evoluindo no sentido de encontrarem sustâncias capazes de desligar ou apagar a tal memória metabólica. Para tanto, alguns medicamentos usados para o controle do diabetes e para o tratamento da hipertensão arterial têm se mostrado promissores em reduzir as substâncias que, em última análise, causariam as lesões da memória metabólica. Esta já é uma possibilidade terapêutica ao nosso alcance, entretanto, a única certeza que ainda temos na prevenção desse processo é o diagnóstico precoce do diabetes e o controle metabólico rigoroso no início da doença.
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