Descobrimos uma quantia considerável de petróleo na costa brasileira. Uma ótima notícia para a economia e o desenvolvimento do Brasil. É como se o país tivesse ganho uma carta no Jogo da Vida para poder pular casinhas e disparar no jogo do desenvolvimento.
Essa visão über otimista sobre o futuro do país está nas propagandas da Petrobras que não cansam de aparecer em horário nobre. Vamos ter um novo país, dizem. Temo dizer que não estou tão otimista assim. O pré-sal será bom para nós? Não tão bom assim.
Por quê? Bom, sem querer entrar no mérito da viabilidade ou não da extração de óleo e gás em altas profundidades, o que mais me preocupa em relação ao pré-sal é o foco que essa descoberta colocou no petróleo.
Em 2007, quando a descoberta veio à público o Brasil estava dando um pontapé muito bem vindo ao programa nacional de biodiesel, o diesel feito de matéria-prima renovável. E o nosso etanol estava ganhando cada vez mais espaço e visibilidade aqui e no exterior.
Essa agitação em torno do pré-sal não desbancou essas iniciativas, mas trouxe o petróleo de novo ao assunto do dia. E, como qualquer pessoa bem informada sabe, com ou sem pré-sal, o petróleo é uma tecnologia em fim de carreira. A hora agora é de pesquisar - e viabilizar - novas alternativas.
O Brasil já atua em duas frentes importantes: produz biodiesel (que já está sendo adicionado ao diesel mineral desde 2008) e produz etanol, cujo consumo tem aumentado significativamente graças aos carros com motor flex.
Recentemente as fábricas de motores anunciaram que já possuem tecnologia para que os carros flex (e os movidos só a álcool) não precisem de gasolina na partida a frio. E que em breve os carros novos já virão de fábrica com o dispositivo.
No entanto, ainda temos um caminho longo pela frente na produção de combustíveis renováveis. A produção de álcool ainda é marcada, infelizmente, pelo uso de mão-de-obra em condições análogas à escravidão. Ainda se queima a lavoura antes da colheita.
No biodiesel a grande dificuldade é conseguir uma rede de produção capaz de colocar o combustível no mercado a preços competitivos com o do diesel. Hoje o litro de biodiesel é mais caro que o do diesel, causando um problema econômico em expansão à medida que a adição dele ao diesel aumenta.
O diesel é fundamental para a economia brasileira. A logística de produção do país é quase que inteiramente dependente do transporte viário e, portanto, também desse combustível. O aumento do custo do diesel pode ser catastrófico. Também estamos fazendo muito pouco para implantar alternativas para o transporte de cargas.
O Brasil tem poucos projetos de desenvolvimento de veículos elétricos e híbridos (que combinam combustível e eletricidade). Não encontrou uma matéria-prima (viável) para o biodiesel que não seja a soja. E está aproveitando pouco recursos já disponíveis, como a biomassa.
Deixar passar essa oportunidade única de desenolver tecnologias que serão vitais no futuro pode custar caro para o Brasil. Vamos continuar na periferia do desenvolvimento mundial. Vamos ter que nos submeter a tecnologias que não dominamos e que podem não ser as melhores para nosso país. E podemos novamente usufruir pouco dos recursos que nossa terra possui.
O pré-sal é bom. Vai trazer recursos úteis para o país. Mas melhor ainda é começar a trabalhar duro para garantir uma presença de destaque quando a nova onda tecnológica chegar. O pré-sal vai ajudar o Brasil e fechar a Era do Petróleo em grande estilo. Espero que, no entanto, também não nos impeça de começar a Era dos Combustíveis Renováveis com o pé direito.