O clássico do terror brasileiro “O Despertar da Besta”, de 1970, será exibido nesta quinta-feira (13) gratuitamente pelo Cineclube Alma, às 19h30, em Londrina. A sessão será realizada na Vila Cultural Alma Brasil na rua Argentina, 693, Vila Brasil e a classificação indicativa do filme é de 18 anos.
Dirigido por José Mojica Marins, o Zé do Caixão, filme escolhido para a atividade é um dos marcos do movimento Cinema Marginal. “O Despertar da Besta” é um filme surrealista que mergulha nas profundezas perturbadoras da mente humana, misturando elementos de horror, crítica social e experimentação cinematográfica. A trama segue um grupo de pessoas que participam de um experimento científico com uso de substâncias alucinógenas, o que desencadeia uma jornada frenética através dos desejos reprimidos e dos medos mais sombrios da psique humana.
Esse é o terceiro ciclo temático do Cineclube Alma, que anteriormente exibiu filmes do Cinema Novo e do Cinema de Vanguarda. Conforme Maran, o Cinema Marginal teve seu início no auge da ditadura militar, e tem como características principais a desesperança, a precariedade de custeamento dos filmes e o pessimismo em relação ao futuro por conta da repressão social e política.
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“O Cinema Marginal é denominado assim por causa do filme ‘A Margem’, de Ozualdo Candeias, que é uma figura importantíssima para entender esse movimento. Outro expoente é o Jairo Ferreira, que idealizou aquilo que chamou de Cinema de Invenção, mas que tem as mesmas características. São filmes que fazem referência ao Cinema Novo, mas apresentam um experimentalismo estético radical e muito forte, abordando personagens que são anti-heróis e estão à margem da sociedade”, afirmou.
O coordenador-geral do cineclube, Yan Maran, explicou que “O Despertar da Besta” foi escolhido principalmente por ser uma obra de Zé do Caixão, um importante representante tanto do Cinema Marginal quanto do cinema independente brasileiro. “Nesse filme, a gente vê um experimentalismo estético muito forte, inclusive sonoro e musical, refletindo o início do Tropicalismo. É uma obra importante para quem quer estudar o Cinema Marginal, junto com ‘O Bandido da Luz Vermelha’, que já exibimos, e o ‘Vampiro da Cinemateca’, que vamos passar na semana que vem”, destacou.
Maran disse ainda que, para viabilizar a exibição de todos os filmes que integram o Cineclube Alma, os responsáveis precisam entrar em contato previamente com os detentores dos direitos autorais das obras. Ele frisou que isso é obrigatório por lei e muito importante porque mantém um controle que permite ao autor saber onde o filme está sendo exibido, e se quem o exibe está tendo lucro com isso.
“Além disso, é uma forma de garantir a qualidade da cópia exibida, porque ou o detentor dos direitos disponibiliza o filme oficialmente ou quem solicita deve ter uma cópia de qualidade. A maioria dos detentores com quem conversamos são familiares dos autores, e eles liberaram os filmes de forma gratuita para nós. É muito bacana ver como essas pessoas estão tendo o cuidado com a obra de seus familiares, e todos elas parabenizaram o projeto e ficaram felizes por a gente estar fazendo esse resgate”.
Ainda segundo o coordenador-geral do cineclube, o balanço do projeto é muito positivo até o momento. “Já trouxemos vários filmes importantes e a gente tem feito um recorte temático muito legal. O público tem comparecido, e a participação das pessoas tem sido sensacional. Nossos debates têm sido muito legais, e estou muito feliz com o projeto”, concluiu.
Após a exibição do filme, como nas sessões anteriores, haverá um debate mediado pelo coordenador-geral do Cineclube Alma, Yan Maran, e pelo produtor-executivo do projeto, Abílio Perez. Nessa semana, o cineclube terá a participação especial do fotógrafo e documentarista Luciano Pascoal, que durante o bate-papo vai falar um pouco sobre a sua história e paixão pela obra do diretor José Mojica Marins.
PRÓXIMOS EVENTOS
O Cineclube Alma exibirá mais dois filmes do Cinema Marginal, nos dias 19 e 26 de junho. Na sequência, o quarto e último ciclo do projeto em 2024, também composto por quatro filmes exibidos às quintas-feiras, terá como tema o Cinema Indiano.
Essa temática foi selecionada, entre outras razões, porque o produtor-executivo do projeto, Abílio Perez, realizou parte de seus estudos de doutorado na Índia, tendo feito pesquisas sobre a arte cinematográfica daquele país, em conexão com outros tópicos.
Perez ressaltou que a cinematografia indiana, apesar de desconhecida nos territórios dominados pela indústria de Hollywood, é a maior do mundo, tanto em número de produções por ano quanto em número de tíquetes vendidos nos cinemas.
“Essa produção, além de abundante, é variada. Abarca filmes de arte, comerciais ou alternativos, bem como apresenta variações regionais relevantes, com diferenciações estéticas, de circuitos de exibição, e no diálogo estabelecido com outras expressões artísticas, como a literatura, a música, o teatro e as artes visuais. O pouco conhecimento dessa filmografia no Ocidente reflete tanto a hegemonia do interesse da indústria norte-americana quanto o eurocentrismo da crítica especializada, ambas convergindo para uma das diversas estruturas de persistência das relações históricas coloniais”, realçou.
De acordo com ele, a programação do Cineclube Alma forma uma visão panorâmica da história do cinema, abrangendo produções de diferentes movimentos, períodos históricos e nacionalidades. “Avaliamos isso como muito apropriado para o reinício do cineclube, pois essa visão panorâmica serve de embasamento para a compreensão e análise de outras filmografias, em eventuais ciclos futuros”, concluiu.