O projeto de lei da vereadora Elza Correia (PMDB), que previa a criação do Dia Contra a Homofobia em Londrina, foi alvo de muita discussão e polêmica durante a sessão desta quinta-feira (16) da Câmara Municipal. Parlamentares ligados a igrejas evangélicas pediram que a proposta fosse modificada pela colega após a realização de um amplo debate. Outros vereadores defenderam o projeto e disseram que Elza precisou ter muita coragem para apresentá-lo.
A matéria só foi aprovada, em primeiro turno, após horas de discussão. Elza também precisou mudar o texto do projeto para convencer os vereadores mais conservadores. O substitutivo ao projeto de lei, aprovado pela Casa nesta quinta-feira, cria em Londrina o Dia Municipal de Luta Contra a Violência Motivada pela Homofobia e não mais o Dia Municipal Contra a Homofobia.
Discussão
Leia mais:
Espetáculo 'Arte Total' será promovido nesta sexta em Londrina
Família de Londrina realiza sonho de pioneira em doar casa para a caridade após falecimento
Natal de Londrina: passarela no lago Igapó II atrai dez mil pessoas no fim de semana
Prefeitura divulga quase 900 oportunidades de emprego em Londrina
Roque Neto (PR), que já foi padre em Londrina antes de optar pela carreira política, citou o Papa Francisco para defender o combate ao preconceito contra os homossexuais. "Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgá-la?", questionou o vereador, parafraseando o atual chefe de estado do Vaticano. Roque Neto também criticou a intolerância dos que "se dizem cristãos". "Pessoas que se dizem cristãs em cima do altar e não respeitam o próximo fora dele são hipócritas", disparou.
O projeto de Elza Correia também foi elogiado pelos vereadores Professor Fabinho (PPS) e Lenir de Assis (PT). "Sou plenamente favorável a toda e qualquer atitude que traga equiparação às chamadas minorias", garantiu o presidente do Legislativo.
Já Vilton Bittencourt (PSL) e Gerson Araújo (PSDB), que é pastor, se mostraram favoráveis ao projeto em primeiro turno, mas pediram que ele seja debatido com outros setores da sociedade antes de ser discutido em segundo turno no Legislativo.
Junior Santos Rosa (PSC) e Emanoel Gomes (PRB), pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, foram os que emitiram posições mais incisivas contra o projeto de Elza Correia. O primeiro afirmou respeitar os homossexuais, mas destacou que não pode abrir mão de princípios cristãos.
Já Gomes destacou que defende os "direitos da família". "Deus criou o homem para a mulher e a mulher para o homem. Não há como multiplicar homem de homem", argumentou. Ele também afirmou que, atualmente, atende pessoas homossexuais que, na infância, sofreram abusos. "Há uma parte do pessoal LGBT que são comportados e cidadãos de bens, mas outra parte desonra esse grupo", continuou o vereador. Gomes se disse desconfortável para votar a favor da proposta.
O pastor foi o único que votou contra o projeto modificado de Elza Correia. Os outros 17 vereadores presentes na sessão votaram favoravelmente.
Estado laico
Os vereadores também abriram espaço durante a sessão desta quinta-feira para ouvir Débora de Campos, coordenadora do Núcleo de Mulheres e Gênero do PSOL em Londrina e médica do posto de saúde do conjunto Maria Cecília (zona norte) e da Rede Feminista da Saúde. Débora destacou que as pessoas não escolhem ser homossexuais. "Quem gostaria de ser alvo de preconceito e intolerância desde sempre?", indagou.
Ela disse, ainda, que os vereadores precisam lembrar que o estado democrático de direito é laico e não pode sofrer nenhum tipo de influência das religiões. "É antiético e imoral transferir para os outros a nossa religiosidade. Os senhores, como representantes da sociedade, precisam garantir os direitos básicos a todas as pessoas, independentemente da orientação sexual de cada uma delas", ressaltou.