O terreno ocupado por mais de 100 famílias, ao lado do Jardim São Jorge, na zona norte de Londrina, parecia um canteiro de obras na manhã ensolarada deste sábado . As obras, no caso, são barracos. Os materiais: madeira, lona, plástico, fibras de zinco e amianto. Tudo reaproveitado.
Nas mãos, martelos, serrotes e enxadas. Na cabeça, o sonho de que aquele lugar se transforme em moradia fixa, sem cobrança de aluguel. Dário Rodrigues da Boa Morte, de 18 anos, está desmontando um guarda-roupa velho que ganhou para aproveitar as tábuas. Quer fazer uma parede.
Ele passou a noite sob uma cobertura de plástico. No chão de terra, um acolchoado serviu de colchão. Dois cobertores ''corta-febre'' o abrigaram do frio. ''É um começo de vida''.
Leia mais:
Confira dicas de segurança para se proteger durante as compras de Natal em Londrina
20 equipes iniciam maratona para criar soluções para uma cidade inteligente
Após reforma e ampliação, Londrina entrega Escola Municipal na Zona Norte
Receita Federal retém R$ 3 milhões em produtos nos Correios de Londrina
Dário trabalha como carregador no Ceasa (Centrais de Abastecimento do Paraná) e ganha pouco mais de R$ 100,00 por mês. ''Não dá para pagar aluguel'', conta. Ele morava um pouco com a mãe, no Novo Amparo (zona Leste), e um pouco com o pai. ''Não tinha muito espaço.''
Aos 72 anos, o segurança aposentado Antônio Bispo também quer uma vida nova. Ele morava no Residencial do Café, com o filho, ''num terreno muito miudinho''. Resolveu viver sozinho no Jardim São Jorge, com aluguel de R$ 60,00. ''Está difícil pagar.''
Pretende construir uma casinha no terreno com a ajuda dos filhos que são pedreiros. Numa estrutura de madeira e plástico, dormiu num colchãozinho que trouxe de casa. Não vai sair do terreno para não perder o lugar.
O caminhoneiro Pedro Vieira de Almeida, de 50 anos, estava meio constrangido. ''Nunca enfrentei esse tipo de coisa. Fico até com vergonha'', disse. Ele trabalha como motorista de caminhão numa firma há sete anos. ''Não é para me engrandecer, não, mas acho que o único empregado fixo nesse terreno sou eu''.
Ele e a mulher resolveram ir para o terreno para voltarem a viver juntos. Com quatro filhos pequenos, estão sem casa. Há três anos deixaram de pagar aluguel no Jardim Acapulco por falta de condições. A esposa e os filhos foram para Jataizinho, morar com a sogra dele. ''Não posso ficar junto porque não me dou bem com meu cunhado''.
Leia mais na reportagem de Carina Paccola na Folha de Londrina/Folha do Paraná deste domingo