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Machismo e homofobia

Youtuber Jout Jout denuncia preconceito em jogos universitários na UEL

Mariana Sanches e Mateus Reginato - Redação Bonde
12 jun 2018 às 16:19
- Reprodução//Facebook
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"Avante, Londrina, com sua medicina. Realmente, os futuros médicos de Londrina... Sucesso!", comenta a youtuber Jout Jout no vídeo "Jogos Universitários: olha no que deu", publicado no canal dela na última quinta-feira (7). No vídeo, Jout Jout fala sobre músicas e trotes que são realizados durante jogos universitários – eventos que chegam a durar dias, nos quais alunos de diferentes universidades participam de competições esportivas e promovem festas.

No vídeo, a youtuber, que tem mais de 1,7 milhão de inscritos, cita algumas músicas cantadas pela atlética do curso de medicina da UEL (Universidade Estadual de Londrina), a AAAFG (Associação Atlética Acadêmica Francisco Gregori). Até quarta-feira (13), o vídeo já tinha mais de 500 mil visualizações.

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Confira alguma das letras da atlética da UEL comentadas pela youtuber:

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Em resposta ao Portal Bonde, a atlética do curso de medicina da UEL diz não ser representada pelas letras das músicas. "Nosso objetivo é apenas esportivo. Os hinos são antigos. Desde o ano passado, a bateria, que faz parte da atlética, e os alunos foram orientados pela gestão a não cantarem mais essas músicas". Para isso, segundo a AAAFG, foi feita uma competição em 2017 para a renovação dos hinos da atlética.

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O vídeo de Jout Jout foi inspirado nos casos de racismo que ocorreram durante os Jogos Jurídicos do Rio de Janeiro, no começo de junho deste ano. A competição é promovida por faculdades de Direito, públicas e particulares, do estado, reunidas em um agrupamento que recebe o nome de "Liga Jurídica Estadual". De acordo com a Liga, três episódios de racismo foram denunciados envolvendo alunos que fariam parte da torcida da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro.



Em um dos casos, uma integrante da torcida da PUC jogou uma casca de banana na direção de um atleta negro da UCP (Universidade Católica de Petrópolis), depois da partida de futebol entre os times das duas faculdades.

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O outro registro é referente a final do basquete masculino entre PUC - Rio e UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), quando integrantes da torcida da PUC - Rio imitaram macacos diante de torcedores negros da UERJ e, mais tarde, torcedores da PUC - Rio, novamente, chamaram uma atleta de handebol da UFF (Universidade Federal Fluminense) de macaca.


A PUC - Rio acabou perdendo o título de campeã da competição de 2018 e não poderá participar dos Jogos Jurídicos Estaduais do Rio de Janeiro em 2019. A decisão foi tomada pela Liga Jurídica Estadual.

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Em Londrina
Em setembro do ano passado, uma postagem no grupo do Intermed Paraná, um evento de jogos esportivos dos cursos de medicina do Estado, causou revolta entre os participantes. Na publicação, um estudante de medicina da UEL chama as mulheres da UFPR (Universidade Federal do Paraná) de "vagabundas" e pede que estejam limpas para fazer sexo. O comentário que ele publicou seria o trecho de um dos hinos da atlética.


Um dia após o ocorrido, foi solicitada a abertura de um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) contra o aluno dentro da própria UEL, conta Lígia Martin, coordenadora do colegiado de Medicina da universidade. "É inadmissível o que ele fez", diz ela. À época do ocorrido, o aluno foi afastado do curso e perdeu o estágio. Agora, o estudante está de volta normalmente ao curso. Até a publicação desta matéria, o processo corre em segredo de justiça.

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Após o caso, Lígia pediu à atlética do curso que deixasse de participar do Intermed, mas o conselho não foi seguido.


Assim, em maio deste ano, durante o Intermed Paraná 2018, surgiram boatos de que três estudantes do curso de medicina da UEL teriam agredido um aluno homossexual da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) por causa de sua orientação sexual.

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Em nota de esclarecimento sobre o caso, a atlética do curso de medicina da UEL afirmou respeitar qualquer tipo de diferença sexual, afetiva, religiosa, racial e social, usando como "prova" o fato de a atlética "ser composta de membros, diretores e técnicos de diversas orientações, os quais nunca sofreram qualquer ato discriminatório contra sua integridade física e/ou moral".


Segundo a mesma nota, não foi possível descobrir se a agressão de fato aconteceu, "devido à ausência de câmeras no local ou testemunho por parte de membros da numerosa equipe de seguranças que guardavam o evento".

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A AAAFG foi penalizada com a perda de nove pontos na classificação geral do evento e com uma multa no valor de R$ 400, além do banimento e retirada do cheque caução dos supostos agressores.


Em nota de esclarecimento publicada na página do Facebook "Procurados UEL", a LAMP (Liga das Atléticas de Medicina do Paraná) pediu para que "parem de inventar história e denigrir (sic) a imagem de um curso com 51 anos de história". Apesar disso, a nota alega que os responsáveis foram punidos.


Um suposto relato da vítima das agressões também foi publicado nas redes sociais:


"Eu estava com uma tatuagem do grupo LGBT no pescoço e depois da festa fui voltar para o alojamento, mas para acessar a ele tinha que passar por um 'corredor' com pessoas da UEL. Sempre passei lá e nunca tive problemas, eles sempre zoam, mas nessa ocasião um babaca viu a tatuagem e disse: 'tatuagem de viadinho', eu levei na esportiva e respondi: 'sim, porque sou viado mesmo', e dei risada. Então, ele me segurou pelo pescoço e começou a falar de forma grosseira que viado não tinha que estar ali e vieram mais dois me empurrando e gritando: 'TIREM ESSE VIADO DAQUI'. Não houve agressão além dos empurrões. Interviram, eu fiquei assustado, comecei a chorar, me acalmaram, voltei pro alojamento, dormi e no outro dia fui jogar. Quando peguei meu celular, no outro dia, tinha mil mensagens e a notícia já estava publicada em algum lugar. Foi feito denúncia por todas as atléticas, eu tive que dar um depoimento em uma reunião, fizeram reconhecimento dos indivíduos e de imediato já baniram os agressores para sempre, e ofereceram total apoio caso eu quisesse levar o caso para frente."


Reprodução//Facebook
Reprodução//Facebook


Em pronunciamento ao Portal Bonde, a AAAFG disse que as pessoas responsáveis pelos casos não são ligadas à atlética e não representam as pessoas da gestão. "Foram atos individuais e já esclarecidos em notas publicadas em nossas redes sociais."


"Eu não tenho coragem de estar na torcida"
Nicole Orlandini, estudante do terceiro ano de medicina na UEL, sempre gostou de praticar esportes. Ela chegou a ir em um treino da atlética do seu curso, mas acabou desistindo pois não se sentia confortável no ambiente. "Eu percebi que as coisas que eu defendia e acreditava não tinham espaço lá dentro", explica. "Além do mais, não me sentiria bem vestindo a camiseta de uma atlética que se orgulha de ter sido expulsa três vezes dos jogos universitários."


Para a estudante, as letras cantadas são um reflexo do que as pessoas pensam, principalmente em relação às mulheres. "Como mulher é extremamente desnecessário, eu me sinto um pedaço de carne. É ruim tanto para minha própria faculdade quanto para outras. Não é algo exclusivo da UEL. Eu não me sinto bem em participar dos jogos e nem de assistir. Eu não tenho coragem de estar na torcida."


Sobre a relação da comunidade LGBT com a atlética, Nicole acredita ser algo coercitivo. "Tem LGBTs dentro da atlética, mas são extremamente objetificadas. É o palhaço, sabe? O bobo da corte. Você pode estar lá, mas vai ser o personagem que eles vão criar. 'você é o fulano que tem o nome de calouro tal, que se comporta desse jeito e faz palhaçada pra gente rir', por exemplo."


"Falta empatia"
Para a psicóloga Paula Cordeiro, o comportamento de algumas atléticas está ligado à cultura da sociedade, que fortalece a ideia de que violências podem ser consideradas brincadeiras. De acordo com ela, a falta de empatia e de sensibilidade impede que os agressores entendam que o que é engraçado e inofensivo pra eles pode não ser para outras pessoas. "Se eu não me sinto ofendido, não consigo entender como o outro pode se sentir", complementa.


Paula acredita que a paixão pela atlética se assemelhe a um empoderamento através do "pertencer a um grupo". "Através do grupo, perde-se a identidade pessoal e ganha-se a identidade do grupo. O que permite que eles façam coisas (desde ações que se orgulham e que não afetam os outros, até outras consideradas agressivas) e não se responsabilizem individualmente."

De acordo com a psicóloga, o machismo ainda prevalece nesses grupos, muitas vezes, como um resquício de uma normatização do que é correto, certo e melhor. A ideia de certo, neste caso, ainda é ligada ao tradicional: homem, hétero e branco. Por isso, as imagens que fogem desse padrão são agredidas e repudiadas.


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