Quem mora nos municípios que integram a região dos Campos Gerais nem sempre sabe porque a área Centro-Sul do Estado leva esse nome. Até mesmo historiadores e geógrafos admitem que não há uma definição única para a área. Dependendo dos critérios adotados, a noção de Campos Gerais muda totalmente.
Envolvidos há dois anos com projetos que têm como objetivo conhecer melhor o patrimônio natural, histórico e cultural da região, um grupo de professores e alunos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) vem se defrontando com a necessidade de delimitar com maior definição a extensão dos Campos Gerais.
O assunto começou a ser debatido quando os professores do Departamento de História solicitaram ao Departamento de Geociências uma definição da região para a elaboração de um dicionário histórico e geográfico. Para atender o pedido, os professores de Geografia recorreram inicialmente a mapas elaborados na década de 40, que utilizavam como critério para definição a vegetação da região. Portanto, Campos Gerais era a área coberta dominantemente por campos e matas de araucárias restritas, distribuídas em capões ou ao longo dos rios.
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Porém, o conceito original de Campos Gerais utilizava não só a cobertura vegetal, mas também o relevo, pois restringia a área de campos aos municípios pertencentes ao Segundo Planalto, especificamente os que acompanham a faixa da Escarpa Devoniana (*), delimitada ao norte por Sengés e ao sul por Rio Negro. Onze municípios possuíam essas características.
O professor que coordena o projeto ''Caracterização do Patrimônio Natural dos Campos Gerais do Paraná'', Mário Sérgio de Melo, conta que nesse ponto da pesquisa surgiu o primeiro grande dilema. ''A própria vegetação de campos naturais favoreceu o desenvolvimento de atividades pecuárias na região e o consequente início do tropeirismo por aqui já no século XVIII'', explica.
O dilema é que as sedes das fazendas da época ficavam todas em Castro (45 km ao norte de Ponta Grossa), município cuja sede situa-se no Primeiro Planalto e que, portanto, pelos mapas da década de 40 não era considerado integrante dos Campos Gerais.
''Sentimos então a importância de abranger nessa definição os municípios que tivessem um mesmo traço de identidade histórica, que no caso era o tropeirismo'', justifica. Dessa forma, outros municípios foram ''integrados'' na região dos Campos Gerais - alguns possuem vegetação de campos em apenas parte do seu território, como é o caso de Castro. Já em Ponta Grossa, acontece o contrário. Uma parte do município não conta com áreas de campos, mas ainda assim o município foi incluído em sua totalidade na definição. Entre essas partes está o distrito de Itaiacoca, a leste da cidade.
A pesquisa acabou dando origem a dois projetos, um que leva em consideração o patrimônio natural e outro que se baseia no patrimônio histórico e cultural. Mas o professor Mário Sérgio explica ainda que existem outros critérios para definir a região.
A organização política da área, liderada pela Associação dos Municípios dos Campos Gerais (AMCG), leva em consideração aspectos políticos e econômicos e tem mostrado uma grande flexibilidade nos últimos anos. Conforme mudam as gestões, municípios aderem ou deixam a AMCG.
Existem ainda critérios hidrográficos como a bacia do Rio Tibagi, que são considerados como fator de limitação da região. É o caso da ação do Consórcio Intermunicipal para Proteção Ambiental da Bacia do Rio Tibagi (Copati), que adota essa definição. E dentro da universidade, os professores consideram ainda a área de abrangência da UEPG, que hoje está presente com campi avançados em cinco municípios (Palmeira, Castro, Jaguariaíva, Telêmaco Borba e União da Vitória), além da sede.
Juntando os critérios naturais, históricos, políticos e de influência da Universidade Estadual de Ponta Grossa, a região agora considerada Campos Gerais é composta por 25 municípios.
Leia mais na reportagem de Denise Angelo na Folha de Londrina/Folha do Paraná deste domingo