Um crescimento de 25% no número de adolescentes grávidas nos últimos cinco anos, o não uso de preservativos na primeira relação sexual por 70% dos jovens e o crescimento da Aids e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) entre menores. Estes são algumas das preocupações de médicos pediatras, ginecologistas e obstetras, psicólogos e profissionais das redes estadual e municipais de saúde.
Eles estão reunidos em Curitiba em dois eventos simultâneos que discutem problemas ligados à adolescência, a II Jornada Paranaense da Adolescência e o Fórum Nacional de Ética em Anticoncepção na Adolescência.
"Um dos nossos objetivos é sensibilizar a classe médica sobre a necessidade de conscientizar pais e adolescentes sobre as consequências de uma gravidez precoce", diz a médica Lucimara Gomes Baggio, presidente do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Paranense de Pediatria, uma das entidades organizadoras dos eventos. Muitos médicos, segundo ela, não gostam de tratar de adolescentes porque sofrem pressão dos pais.
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Um dos obstáculos é a proibição pelo Código Civil de prescrição de anticoncepcionais a adolescentes sem a permissão dos responsáveis. "Os pais sempre acham que seus filhos não praticam o sexo e acham que os médicos estão incentivando-os quando dão uma receita de anticoncepcional", diz Lucimara. Por isso, os participantes elaboram um documento, hoje, a ser entregue ao Congresso Nacional, propondo mudanças na atual legislação.
Para a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa do Adolescente da Secretaria de Saúde Estadual de São Paulo, é impossível não se pensar, hoje, em iniciativas públicas de atendimento integral ao adolescente. "Os números são alarmantes. A cada 17 minutos uma criança está dando à luz outra criança no Brasil", diz, lembrando que a gravidez aumentou muito nos últimos cinco anos, principalmente na faixa entre 10 e 14 anos. Em 2000, 35 mil jovens entre 10 e 14 anos ficaram grávidas no País.
Pesquisas revelam que 85% dos jovens conhecem os problemas e doenças a que estão expostos. Mesmo assim, resistem a adotar medidas preventivas, colaborando para o crescimento nas estatísticas. 24% das adolescentes grávidas, por exemplo, já tiveram um filho anteriormente. O uso de drogas e incidência de Aids e DSTs entre os jovens também assusta. "Nestes assuntos existe o pacto do silêncio. Se o adolsecnte experimenta uma droga e gosta ele não conta aos pais, assim como também vai ocultar se for contaminado por alguma doença sexual", diz Albertina.
Com experiência de 29 anos de trabalho junto aos adolescentes, ela afirma: "Falta a sociedade discutir este problema de verdade. O adolescente se sente soziinho nesta hora, cheio de cobranças de sucesso, e ele tem medo de não corresponder. Só com muito diálogo e carinho é possível resolver".