Uma família curitibana de origem polonesa, numa noite fria do inverno de 1962. Esta é a base da história contada pelo curta-metragem "Polaco da Nhanha", dirigido por Eloi Pires Ferreira, que acaba de ser filmado e entra agora em fase de finalização. A montagem será assinada pelo experiente Mauro Alice e o lançamento está previsto para janeiro de 2001.
O diretor, que também escreveu o roteiro, conta que o trabalho de reconstituição de época foi complexo. Detalhista, ele chegou a regravar várias imagens do "Telenotícias Transparaná", o principal noticiário da época na TV, com o mesmo apresentador, Sérgio Luiz.
Em cena, a televisão ligada funciona como pano de fundo. Além do telejornal, as imagens revelam vários filmes e propagandas da época. "Foi um trabalho difícil de garimpagem", explica Ferreira.
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Apesar de não ter sobrenome polonês, ele explica que também é um descendente, pelo lado materno. Os 15 minutos de filme inevitavelmente trazem vários elementos autobiográficos. "O protagonista, que é o avô, é muito parecido com o meu próprio avô, que veio de uma família de lavradores poloneses", diz.
Na trama, ele é um contador de histórias e causos, que consegue atrair a atenção do neto. Quando toda a família sai para ir ao teatro, apenas os dois ficam em casa, com a TV da sala ligada. Entre comerciais, notícias e seriados da época, o menino revisita suas origens através dos relatos do avô.
Algumas destas histórias são recordações dos anos 30, o que dificultou ainda mais o trabalho de reconstituição de figurino e cenografia. As locações foram feitas nos municípios paranaenses de São Luiz do Purunã e Pien, onde há muitos casarões antigos de poloneses. "Estes locais representam os arredores de Curitiba de décadas passadas", explica.
Alguns quarteirões do bairro curitibano Jardim Botânico, onde as ruas ainda são de paralelepípedo e as casas antigas conservadas, também foram utilizadas nas locações do curta. Os móveis foram emprestados por famílias de origem polonesa e a maioria dos figurinos fazem parte do acervo do Teatro Guaíra.
Em tom de crônica, "Polaco da Nhanha" tem a pretensão de "cuidar da memória e resgatar coisas que estão se perdendo". O diretor lembra que Curitiba é uma das cidades do mundo com maior concentração de descendentes poloneses, algo em torno de 600 mil pessoas. "Portanto, ao focalizar o ambiente de uma casa de polacos, também resgata-se muito da identidade curitibana".
Gravado em 35 milímetros, "Polaco da Nhanha", tem um orçamento próximo a R$ 120 mil, parcialmente garantido pela Lei Municipal de Incentivo a Cultura. Após o lançamento, o diretor pretende exibí-lo em festivais de curtas do Brasil e exterior, além de incluí-lo no circuito de cinemas em Curitiba.
A expectativa é superar o público de cem mil pessoas que assistiu ao último curta-metragem dirigido por Ferreira, "Valdir e Rute", lançado há três anos.
Otimista com o futuro do cinema paranaense, ele e um grupo de realizadores, incluindo o cineasta de Londrina Caio Júlio Cesaro, estiveram reunidos na última quinta-feira com a secretária de Cultura Mônica Rischbieter, em Curitiba.
Eles apresentaram 13 curtas e longas-metragens realizados em Curitiba, Cascavel e Londrina. Todos estão com as etapas de filmagens concluídas, apenas aguardando recursos para a finalização. "É uma safra muito boa, que pode garantir grande representatividade para o Paraná", diz Ferreira. Os cineastas esperam para as próximas semanas uma resposta da secretária de Cultura.