Nesses trinta anos de história, a Associação de Pais e Amigos dos Surdos de Foz do Iguaçu fez coisas que Eva Terezinha Vera jamais imaginou quando matriculou um deficiente auditivo na escola em 1979. Três anos depois nasce a APASFI, em 1982. Nos trinta anos que completará em dezembro a entidade já aprendeu a ensinar. Já achou que amarrar as mãos de uma criança daria certo. Já achou que quem não ouve poderia falar. Já descobriu que estavam ensinando errado e tiveram que reaprender a ensinar.
As técnicas ultrapassadas que insistiam na reabilitação da fala não funcionavam. "Muitas vezes os surdos terminavam a 4ª série com 13 ou 14 anos." exemplificou a educadora Marcia Madalena da Silva Hames. Depois de muita insistência dos próprios surdos o oralismo foi abandonado. A partir de 1997 a APASFI adotou o método bilinguista: dava ao surdo uma língua materna – a língua de sinais (libras). Deu um idioma a quem era proibido de se comunicar. Com esse idioma os surdos podiam aprender o português. Podiam aprender a linguagem do meio em que vivem.
A entidade contratou profissionais que abdicaram de fins de semana e feriados para aprenderem a falar com as mãos. Construiu uma família-escola: os alunos preferiam dormir na escola a dormir em casa. As professoras viraram confidentes, melhores amigas, mães, irmãs, avós e tias. E só porque os surdos não tinham quem falasse a língua deles em casa.
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A entidade já provou que o mundo também é possível aos surdos. Eles não têm mais as vontades determinadas por achismos dos outros. As mãos falam o que sente o coração. Mostrou que surdez não é deficiência. Deu independência a quem antes não conhecia os significados de palavras. Devolveu direitos a inocentes, privados antes apenas por pré-conceitos existentes na sociedade. Mostrou que a língua das palavras não é a única. Que o silêncio também fala, também vive, também sente. E que os gestos podem ser a coisa mais importante na vida de alguém. Que gestos dão cidadania, dão independência. Que eles trazem felicidade.