Em depoimento à CPI da Covid, a médica de Maringá, Nise Yamaguchi, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro a questionou sobre dados científicos relacionados ao uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19.
"Ele [Bolsonaro] na primeira ocasião, ele queria saber o que tinha de dados científicos da hidroxicloroquina. E eu fiz essa reunião a seguir com o Conselho Federal de Medicina para caracterizar o que tinha de científico. A dúvida dele era com relação ao tipo de possibilidade com relação ao que estava acontecendo no mundo", afirmou a médica.
"Ele estava curioso para saber por que o Brasil e a França estavam em contato e queriam também discutir a questão da disponibilidade do medicamento em relação a esse momento tão difícil. O que eu disse para ele é que os médicos estavam divididos e que existia uma discussão com relação à parte científica do medicamento", completou.
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A médica também afirmou que manteve reuniões com o bilionário Carlos Wizard e também com o ex-assessor especial da Presidência, Arthur Weintraub.
Alteração da bula
Também na CPI, a médica negou ter sido responsável pela minuta de decreto que alterava a bula da cloroquina para recomendá-la para o tratamento da Covid-19. Segundo o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, o documento foi apresentado em reunião no Palácio do Planalto no ano passado.
Nise disse que "de forma alguma" escreveu a minuta do decreto. A médica também afirmou que o texto não tratava de alteração de bula do remédio.
"Não fiz nenhuma minuta. Não conhecia esse papel. Estava bastante cheia a sala. Eles me pediram para conversar sobre a questão da cloroquina ", disse.
"Inclusive depois da reunião eu descobri que eles estava se referindo a uma minuta, que jamais falava de bula, falava da possibilidade de haver uma disponibilização de medicamento", afirmou a médica.
Após a declaração, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que fará uma acareação; entre Barra Torres e Nise.
Mesmo antes de ser questionada, a médica afirmou que sua iniciativa de alterar a bula da hidroxicloroquina por decreto presidencial era baseada em resolução da Anvisa e também era decorrência do momento difícil da pandemia. "Baseada nessa resolução e nessa situação que eu entendia que era importante fazermos a ampliação dos tratamentos de acordo com o julgamento do médico", afirmou.
A médica também afirmou que sua defesa do tratamento precoce decorre de "uma ciência bastante profunda".
Gabinete paralelo e imunidade de rebanho
Nise Yamaguchi afirmou não participar e mesmo desconhecer um "gabinete paralelo", que assessoraria o presidente Jair Bolsonaro em temas relativos à pandemia, fora da estrutura do Ministério da Saúde.
"Desconheço um gabinete paralelo e muito menos que eu integre. Sou uma colaboradora eventual. Participo como médica, cientista, em reuniões técnicas", afirmou.
A médica também relativizou sua opinião passada sobre a tese da imunidade de rebanho, se esquivando de perguntas mais diretas do relator Renan Calheiros (MDB-AL). Nise Yamaguchi assistiu a um vídeo em que aparece defendendo a tese, mas depois afirmou que o contexto era outro. E disse que sempre considerou a vacinação como parte da tese da imunidade de rebanho.
"A resposta não é simples, porque a imunidade de rebanho tem sido declarada como ir para as ruas, fazer a convivência normal", afirmou.
"Para aquele momento [início da pandemia] era bastante conveniente e necessária a discussão [sobre imunidade de rebanho]", afirmou. A médica, no entanto, evitou retirar o seu apoio a essa tese. Nise Yamaguchi também disse que nunca discutiu pessoalmente a tese de rebanho com o presidente Jair Bolsonaro.