Desde 2002 diversas entidades da sociedade civil organizada reunidas na Frente Nacional de Combate aos acidentes com Álcool tentam convencer os brasileiros e os parlamentares do país de que o uso dessa substância deveria ser evitado.
O álcool é um produto altamente inflamável e dentro do ambiente doméstico, quando é usado na limpeza e para acender churrasqueiras, por exemplo, é um dos principais responsáveis por acidentes com queimaduras graves em adultos e crianças, segundo o médico Jorge Curi, vice-presidente da Associação Médica Brasileira. Ele ressalta que queimaduras geralmente envolvem situações graves, sequelas e recuperações demoradas, incluindo a realização de cirurgias múltiplas.
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Risco de queimaduras
A difícil recuperação de uma queimadura, principalmente em crianças, e o gasto elevado do sistema de saúde já justificaria a suspensão da venda do álcool líquido nos supermercados, segundo a Frente Nacional de Combate aos Acidentes com Álcool. Curi argumenta que existem outros produtos para limpeza, mesmo de ambientes hospitalares, que têm desempenho eficaz e não são inflamáveis.
O médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, comenta que em âmbito doméstico o álcool funciona como desinfetante e não desinfectante, ou seja, sozinho não tem poder de aniquilar as bactérias de superfícies e utensílios. Por esse motivo ele não é insubstituível, pois outros produtos químicos de limpeza podem produzir os mesmos efeitos. Jean ressalta, no entanto, que quando se fala na higienização das mãos, o álcool em gel 70 graus ainda é o produto mais eficaz e deve ser associado à lavagem com água e sabão.
Álcool gel ou líquido?
Em junho de 2007 diversas marcas do produto disponíveis no mercado nas versões em gel e líquido foram testadas pela Proteste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor. O teste constatou que os álcoois com graduação de 46 a 65 graus exterminaram entre 98 e 99,6% dos microrganismos, o que, segundo a Associação, é comparável ao resultado de outros produtos de limpeza bactericidas. A avaliação também indicou que uma chama de 26 graus de temperatura é suficiente para levar o álcool à combustão, além do fato de que o gás desprendido pelo produto pode incendiar ao contato com o fogo.
Outra constatação foi que as embalagens nas quais o produto é vendido também aumentam os riscos de acidentes, pois não trazem travas de segurança para impedir que crianças possam abrir e ingerir o conteúdo. Além disso, a boca larga dos recipientes dificulta a dosagem na hora do uso. Segundo a Frente Nacional de Combate aos Acidentes com Álcool, a versão líquida da substância agrava os acidentes justamente porque ela se alastra rapidamente pelo corpo e pelo ambiente. Os testes da Proteste apontaram que nesse quesito o álcool em gel é mais seguro, pois demora mais para se espalhar.
Venda do álcool já foi proibida
Em 2002, a venda do álcool líquido chegou a ser proibida por uma resolução da Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, posteriormente derrubada na Justiça. Para a Abraspea, Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool, a proibição da venda do álcool para o consumidor doméstico faria com que o comércio ilegal aumentasse e, com isso, subissem também o número de acidentes.
[Estatísticas sobre acidentes
Os dados sobre pessoas vítimas de acidente com álcool no país não são exatos. Segundo o Ministério da Saúde, 7.271 pessoas foram internadas por causa de queimaduras em 2011. O ministério informa que esse número representa acidentes com substância inflamável, o que inclui álcool, gasolina, diesel, querosene, etc, e que não há um recorte exclusivo para os acidentes causados por álcool. De acordo com a Ary Alcântara, os dados reunidos pela Abraspea a partir do Datasus, que reúne os números e natureza das internações no Sistema Único de Saúde, as vítimas de queimaduras por álcool seriam cerca de duas mil.
Os defensores da proibição do álcool também explicam que o Brasil é um dos poucos países do mundo em que a comercialização da substância é permitida.
Divergências à parte, o uso do álcool em casa, seja para a limpeza ou outros fins, demanda ao menos alguns cuidados de segurança. Entre as orientações da Proteste, estão o cuidado para manter o produto longe do alcance de crianças e animais, não manusear o álcool próximo ao fogo, não armazená-lo em locais quente e não reutilizar as embalagens. (Fonte: BBel, Estilo de Vida)
Redação Bonde