Em busca do sonho de se tornar campeão olímpico, um em cada quatro atletas decidiu ultrapassar a fronteira do Brasil. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S.Paulo mostra que a estratégia foi adotada por esportistas de 19 das 42 modalidades que serão disputadas nos Jogos do Rio. Apesar de alguns nomes ainda não terem sido confirmados, o mapeamento faz uma projeção dos esportistas que devem representar o País a partir do dia 5 de agosto. Os brasileiros estão distribuídos em 21 países, mas a maior concentração ocorre nos Estados Unidos e na Itália. A procura por competitividade é o principal fator para a ida ao exterior.
Esse é o caso do nadador Thiago Pereira, que se mudou para Los Angeles pela segunda vez em 2014. "Nos Estados Unidos é muito fácil ter oportunidade de nadar com (Michael) Phelps e com Ryan (Lochte). Pego um voo de uma ou duas horas e estou em uma competição que eles estarão", disse o medalhista olímpico do Minas Tênis Clube.
A escassez de competidores com resultados expressivos atinge principalmente esportes com menos tradição no Brasil, como a esgrima. Às vésperas de sua quarta Olimpíada, Renzo Agresta treina ao lado de representantes da seleção italiana, em Roma. "Se o Brasil tivesse alguns atletas com o mesmo nível dos adversários que tenho na Itália, não precisaria morar aqui", lamentou.
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A Confederação Brasileira de Esgrima possui um acordo de cooperação com a federação italiana da modalidade desde 2010. Além de Renzo, os esgrimistas Athos Schwantes e Guilherme Toldo vivem no país.
Nos Jogos do Rio, o Brasil voltará a ter um representante no ciclismo de pista depois de 24 anos. E Gideoni Monteiro se prepara para o desafio no Centro Mundial de Ciclismo, em Aigle, na Suíça. A decisão foi tomada em conjunto pela comissão técnica do atleta da categoria Omnium e pela Confederação Brasileira de Ciclismo, que possui uma parceria com a União Ciclística Internacional. "Aqui posso fazer as mesmas corridas que meus adversários. Posso testar minha evolução e ter um parâmetro em relação ao desempenho dos outros", explicou. Gideoni acredita que a pacata cidade de Aigle permite que sua vida esteja totalmente voltada para sua preparação.
A bicampeã olímpica de vôlei Sheilla aceitou o desafio de atuar na Turquia e não se arrepende da escolha. "Foi uma temporada muito positiva na qual pude trabalhar o meu físico. Joguei por uma grande equipe e disputei um dos campeonatos mais fortes do mundo, que é a Champions League. A Turquia está crescendo muito no vôlei e hoje tem uma das ligas mais fortes. O intercâmbio entre jogadoras é muito grande nas ligas da Europa".
Difundido nas escolas, o handebol enfrenta dificuldade na profissionalização. Os resultados da modalidade começaram a aparecer depois da ida dos atletas aos países europeus. O desenvolvimento da seleção feminina só foi possível graças ao convênio entre a Confederação Brasileira de Handebol e o time austríaco Hypo, que durou três anos. O primeiro título mundial, conquistado em dezembro de 2013, coroou esse investimento.
Uma das pioneiras no processo migratório foi a pivô Dani Piedade. Depois de mais de dez anos na Áustria e dois anos na Eslovênia, ela disputa a segunda temporada no Siófok KC, da Hungria. "Temos uma estrutura muito melhor. Sinto falta de ter uma liga com mais equipes no Brasil, a gente ainda precisa de muito para chegar ao profissional", lamentou.
O polo aquático vive uma situação semelhante. A pedido do técnico croata Ratko Rudic, os atletas deixaram o País para ganhar bagagem. Com esse objetivo, Gustavo "Grummy" disputa a Liga Italiana pelo Trieste. A vida pessoal, entretanto, também pesa na escolha. Erica Sena, da marcha atlética, mudou-se ao Equador para viver ao lado do marido Andrés Chocho.