"Para quem convive com o esporte e que trabalha com isso não existe evento mais espetacular que as Olimpíadas", a definição foi feita pela londrinense Liadne Prandini, de 24 anos, que atuou como uma das voluntárias nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Em entrevista ao Bonde no Dia do Voluntariado - 28 de agosto -, a tutora em uma escola particular da cidade e árbitra de atletismo nos finais de semana, contou que trabalhou no Estádio Olímpico, o Engenhão, por quatro dias e teve a oportunidade de tirar uma foto com o velocista jamaicano Usain Bolt – tricampeão olímpico dos 100m, 200m e revezamento 4x100 –, e foi presenteada com um uniforme jamaicano dado pelo velocista Asafa Powell. Ela ainda acompanhou a premiação de Thiago Braz, que ganhou a medalha de ouro no salto com vara e bateu o recorde olímpico de 6.03m.
"A experiência foi incrível. Muito mais do que eu poderia imaginar! Eu pude viver 12 dias dessa festa tão grandiosa, foi uma realização pessoal e profissional incrível. Foi realmente muito especial, acho que nem todos os melhores adjetivos descreveriam o que eu vivi na Rio 2016", enfatizou. "Eu auxiliei a equipe de material na colocação das barreiras, fui cestinha dos atletas, levando seus pertences até a sala indicada. Auxiliei também os atletas na câmara de chamada antes de entrarem nas provas com suas sapatilhas, número, uniformes e na montagem do setor do lançamento do dardo para a final masculina. Havia uma coordenadora que delegava as funções de acordo com as preferências individuais de cada um. Eu sempre procurei fazer coisas diferentes justamente para explorar tudo que o atletismo tem a me oferecer", complementa.
Liadne explicou que a ideia de participar dos Jogos teve início há seis anos. "Em 2010 eu fiz o curso de arbitragem em atletismo e desde então atuo dentro do Paraná nas competições. Eu não sabia se daria tempo de me tornar árbitra categoria C para poder atuar diretamente na arbitragem do atletismo nas Olimpíadas, mas eu tinha certeza de que não queria ficar de fora do maior espetáculo esportivo do mundo. Por isso, em novembro de 2014 fiz minha inscrição para ser voluntária", contou. "Quero que as pessoas saibam que o que eu vivi não foi um sonho. Eu entendo por sonho pequenas frações de momentos que você vive. Raramente lembramos dos nossos sonhos ao acordar e se lembramos, não ficam guardados na memória. A Rio 2016 foi a realização de alguns anos batalhando por esse objetivo e todos os momentos vividos lá serão guardados com muito carinho dentro do meu coração para sempre", argumenta.
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Foto com os ídolos
Mesmo trabalhando, Liadne tinha um sonho: conseguir tirar uma foto com Usain Bolt. A persistência fez com que ela conseguisse uma foto com o astro jamaicano e ainda converssse com o Asafa Powell. "A foto com o Bolt era uma questão de honra. No mundo do esporte, José Aldo e Usain Bolt são meus ídolos! A mesma persistência que eu tive em conseguir a foto com o Aldo eu tive com o Bolt. Como arbitra sei que após as provas realizadas, os 3 primeiros colocados passam por exame antidoping. Na sexta-feira, após a final do revezamento dos 4x100m, eu sabia que tanto a equipe da Jamaica, como EUA e Canadá passariam pelo exame e, posteriormente, iriam para a sala de imprensa dar entrevista e só então iriam embora", diz.
"Eu sabia onde ficava tanto a sala do doping quanto da imprensa e por onde os atletas saem para ir embora. Uma amiga embarcou nessa aventura junto comigo e tivemos acesso à sala onde estavam todos os atletas. Porém, nesse momento todos queriam apenas o Bolt, então eu aproveitei e fui atrás dos outros atletas que admiro muito, como Yohan Blake e Asafa Powell, da Jamaica, e André de Grasse, do Canadá", continua.
"Perto das 2h da manhã o Bolt voltou à pista, mas não para correr e sim para lançar dardo. Ele estava gravando cenas para seu documentário e mais uma vez eu fui lá atrás dele e fui ignorada. Quando descobri por onde ele sairia, fiquei lá esperando, no momento em que os seguranças dele saíram do seu lado para conter os voluntários que estavam ali esperando, eu corri pelo cantinho e fui para o lado do Bolt, finalmente consegui minha foto. Porém, todo mundo queria apenas o Bolt, e o Asafa estava um pouco mais atrás, esperando todo esse frisson passar. Foi então que me dirigi ao Asafa. Disse para que mim mesma que ele era o cara, que a Jamaica não é só Usain Bolt e que ele já tinha feito história no atletismo. Pedi uma camiseta de lembranças do Asafa. Ele prontamente abriu a mochila e me deu", comemora.
Mais emoção
Liadne conta ainda que se emocionou ao ouvir o Hino Nacional durante a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos, e também quando a pira olímpica foi apagada. A voluntária salientou que nunca havia sentido tanto orgulho de ser brasileira. "O encerramento foi incrível. Não conseguia cantar o Hino Nacional que começava a chorar. Quando a bandeira estava indo embora, passou um filme na minha cabeça, minha única vontade era de sair correndo e falar 'não, por favor, não se vá...'. A hora que pira olímpica apagou, deu uma dorzinha no meu coração. Eu não me lembro de ter sentido tanto orgulho em ser brasileira como senti nesse encerramento. Em ver o Maracanã inteiro cantar o Hino Nacional. Fiquei muito satisfeita em ver que o Brasil não decepcionou na festa", finaliza.
Rio de Janeiro
Ao Bonde, Liadne afirmou que a estrutura do Rio de Janeiro para receber os Jogos Olímpicos foi impecável. Apesar de trabalhar no Engenhão, a voluntária visitou o Maracanãzinho e o Parque Olímpico. Ela falou sobre alimentação, transporte público e segurança na Cidade Maravilhosa.
"A alimentação do Engenhão não era nada de extraordinário. Único problema era que só tinha um buffet, então a fila era enorme e normalmente não tínhamos muito tempo para jantar. Quanto à hospedagem era cada um por si, o evento não disponibilizou nada. Eu fiquei na casa da minha tia, logo economizei bastante", explicou. "Cada voluntário recebeu um RioCard, que tinha o limite de quatro passagens por dia e funcionava em qualquer transporte público. Ônibus ganharam uma faixa exclusiva, metrôs e trens tiveram horários estendidos e o VLT, inaugurado para as olimpíadas, passava pelas principais vias de entrada a cidade: aeroportos, rodoviária, centro, entre outros", relata.
Sobre a segurança a voluntária conta que já foi algumas vezes para o Rio, mas desta vez, se sentiu mais segura na cidade. "Foi a primeira vez em que caminhei na rua sozinha às 23h, pois havia uma viatura em cada esquina. Além disso, agentes circulavam a pé no centro, dentro do parque olímpico e nas estações de metrô. Carros do exército andavam pelas ruas e na orla de Copacabana. Em questão de segurança e transporte público a cidade está realmente de parabéns, foi prioridade e funcionou muito bem!", elogia.