O engenheiro agrônomo Harri Lorenzi é um dos maiores especialistas em plantas no Brasil. Autor de livros sobre árvores nativas, exóticas, frutíferas e plantas daninhas, ele já catalogou mais de 15 mil espécies da flora nacional.
Fundador e diretor do Instituto Plantarum, com sede em Piracicaba (SP), Lorenzi realiza cerca de 24 expedições anuais, em todo o território nacional, atrás de novas descobertas.
Nesta entrevista à FOLHA, o professor aborda, além de seu trabalho cotidiano, a arborização urbana de Londrina - onde morou por 8 anos quando era pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar)
O senhor vê diferença entre a arborização de Londrina antes e hoje?
Muita. Na década de 70, quando eu chegava a Londrina de avião, o visual era igual ao de uma cidade americana - nos EUA você quase não vê as casas de cima, só as árvores. E Londrina parecia muito com isso, porque o clima e o solo contribuem para um crescimento exuberante das plantas. Londrina é uma cidade perfeita para uma arborização maravilhosa. Recentemente passei aí, e parece uma cidade centenária, já antiga, que só tem prédios. (A região) a partir da Higienópolis, sentido bairro (ruas Paranaguá, Santos, Belo Horizonte...), era meu laboratório, mas com a entrada do comércio, praticamente tudo foi destruído. Na maior parte da cidade, muita coisa foi tirada.
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Qual sua opinião sobre o plantio de espécies anãs (hibisco, murta, etc)?
Isso não é árvore. A origem desse problema é a rede elétrica, as companhias querem que as plantas se adaptem à rede e não fazem nada para amenizar a situação. Isso incentiva o plantio de arbustos, exóticos além de tudo, o que não é correto. Existem árvores de pequeno porte que podem ser utilizadas, mas há um desconhecimento amplo sobre isso.
O comércio também rejeita as árvores...
Eles acham que atrapalham as placas, o que considero um absurdo. O comerciante só se preocupa com o negócio dele, não com cliente que vai estacionar na calçada e ficar no sol. É um egoísmo extremo. Para evitar situações assim, o município precisa ter uma legislação bastante rigorosa. Nas cidades mais frouxas, o poder político sempre quer fazer média com todo mundo.
Por que há tão poucas flores na arborização urbana do país?
Isso acontece não só aqui. Em Miami, foram plantadas tantas palmeiras, para dar um ar tropical, que hoje estão atrás de espécies floríferas para dar cor à arborização. Em Londrina, por exemplo, havia uma grande quantidade de Jacarandá Mimoso, que é uma árvore que floresce em alguns lugares somente, e era na cidade onde a espécie mais florescia. Na capital de África do Sul (Pretória), a floração dos jacarandás é atração mundial. Acho que dentre as espécies floríferas, muitas são adequadas para a cidade e acho importante pensar a questão sob esse aspecto.
Por que há tantas árvores exóticas (originárias de outros países) no Brasil?
Tudo começou quando a família real portuguesa veio para o Brasil e trouxe tudo de lá porque achou que aqui nada prestava. E isso acontece até hoje, as pessoas gostam de cultivar aquilo que não tem. Na média, acredito que 90% da arborização urbana do Brasil é exótica.
Isso é problema?
Acho que sim. Nossas espécies estão desaparecendo porque os ecossistemas onde elas ocorrem estão sendo destruídos. A arborização urbana seria uma excelente oportunidade para perpetuar as espécies nativas. Em termos de preservação, a flora nativa é mais adequada porque está adaptada para fornecer alimento para as aves nativas há milhares de anos. As exóticas não apresentam alimentos apetecidos por essa fauna.
O senhor concorda com a erradicação de espécies exóticas sadias - como ocorre em Londrina?
Desde que haja um programa de colocação de nativas, você pode fazer uma substituição lenta e gradativa. Agora, não precisa derrubar a que está lá, você pode plantar árvores adequadas intercaladamente, e aos poucos ir substituindo. Nada de corte raso porque se sabe que, no momento em que se corta alguma coisa, fica aquele vazio e na maioria das vezes acabam nem replantando. Além disso, benefícios como baixar a temperatura da cidade e proporcionar sombreamento, as exóticas também trazem. Sou totalmente contra essa radicalização de abominar as exóticas, acho que árvore é árvore.
Existem muitas espécies nativas ainda não catalogadas?
Estou trabalhando no terceiro volume de árvores nativas há mais de dez anos, e preciso de 352 espécies para completar o volume. O problema hoje é a dificuldade de encontrar as outras espécies porque as mais fáceis já coloquei nos dois primeiros volumes. Com certeza, têm muitas árvores não catalogadas, mas não sei se teria condições de fazer um quarto volume porque o que sobrar vai ser da Amazônia, e lá é muito difícil fotografar, não existem muitas áreas abertas