A crise aberta pela "Máfia das Apostas" que ofuscou qualquer brilho do Campeonato Brasileiro deste ano parece estar ainda muito longe de seu final. Primeiro, porque ainda existem muitos fatos a serem esclarecidos e muita gente a ser investigada. Por enquanto, tirando alguns dias de prisão preventiva para alguns dos envolvidos e a demissão de Armando Marques, que já havia demonstrado sua incompetência em tantas outras oportunidades, ainda não se chegou a uma conclusão sobre o funcionamento do esquema, que pode envolver muito mais gente.
E, infelizmente, entre os penalizados encontram-se algumas equipes que foram evidentemente prejudicadas com a anulação das 11 partidas, em ato quase ditatorial do Sr. Luiz Zveiter, que deve estar adorando os holofotes diários sobre sua pessoa. O nobre magistrado fala sem parar desde o dia em que surgiram as evidências dos crimes cometidos por Edilson Pereira de Carvalho dizendo uma hora que três partidas não corriam risco, depois que as 11 seriam investigadas e, finalmente, que todas foram sumariamente anuladas por estarem "contaminadas". Não sei qual foi o tipo do exame bacteriológico utilizado, mas ele com certeza foi injusto e prejudicial a várias equipes.
É totalmente legítima a grita dos times que se sentiram prejudicados por perderem preciosos pontos na competição, referentes a partidas onde não houve nenhuma evidência clara de favorecimento pelo causador deste imbroglio todo. Se a palavra do árbitro não é nem um pouco confiável (não é ele que tem que dizer quando e quem prejudicou), basta uma análise isenta e imparcial das partidas por ele apitadas para separar as que transcorreram sem problemas daquelas que apresentam atitudes suspeitas do senhor do apito.
Triste é ver que as belas vitórias do Santos sobre o Corinthians, em exibição de gala de Robinho, e do Figueirense sobre o Juventude, com show de Edmundo, simplesmente deixam de existir para o STJD e para a CBF. Se a turma que (des)cuida do futebol brasileiro foi incompetente e ponto de deixar isto acontecer, os profissionais dos clubes que foram prejudicados não deveriam pagar por isso.
Se quisesse recuperar a credibilidade do campeonato o tribunal teria que analisar com bastante cuidado todos os jogos passíveis de "contaminação" e anular apenas aqueles em que o árbitro tivesse real influência no resultado final. Fazem parte desta "operação" desde lances capitais, como pênaltis existentes e não marcados e vice-versa ou mesmo provocações como as denunciadas pelo argentino Sebá, do Corinthians.
O time da Fiel foi o maior beneficiado pelo cancelamento das partidas, já que terá a chance de jogar novamente dois clássicos em que saiu derrotado de campo - sendo que em apenas uma delas existe algum indício de "operação" do esquema. E irá fazê-lo em situação muito melhor do que na época das partidas, já que hoje o time está muito mais sólido e os adversários, ao menos o Peixe, sofreram mudanças significativas de elenco.
Isto mostra que a decisão apressada do STJD influi significativamente na tabela, tanto entre as equipes que lutam pelo título, quanto pelas que tentam escapar do rebaixamento.
Mas seria demais esperar coerência e justiça de uma entidade que considera o Sport o campeão de 1987 ou que tirou Fluminense, Grêmio e Bahia da Segundona em sucessivas viradas de mesa. Não é de se duvidar que em 2006 seja disputada a segunda edição da Copa João Havelange.
Hora da verdade
Até o meio da próxima semana serão definidos mais 17 classificados para a Copa do Mundo, e também as nove equipes que decidirão, junto com a Austrália, as cinco vagas restantes na repescagem.
Na América do Sul, onde Brasil e Argentina apenas cumprem tabela, a classificação dificilmente escapará de paraguaios e equatorianos, restando para Uruguai ou Colômbia a boa chance de ir a Copa se vencer o confronto contra os australianos.
Nas Américas Central e do Norte, México e Estados Unidos já estão garantidos, a Costa Rica é favorita à outra vaga direta, e a Guatemala deve disputar a repescagem contra o vencedor dos dois confrontos entre Azerbaijão ou Bahrein (com mais chances para o primeiro, que venceu a primeira partida que foi anulada por um erro incrível do juiz que deu um tiro livre indireto ao invés de mandar repetir a cobrança de um pênalti em que houve invasão da área).
No continente africano teremos boas brigas na última rodada. No Grupo 1, Togo precisa de apenas um empate fora de casa contra o Congo para debutar na Copa. Mas se perder, dá a vaga para Senegal, que dificilmente deixará escapar a vitória contra Mali. No Grupo 2, Gana deve finalmente conseguir a tão sonhada vaga para a Copa já que precisa apenas de um empate com Cabo Verde.
No 3, os camaroneses estão muito próximos de mais um Mundial, bastando vencer o eliminado Egito em casa. A Costa do Marfim perdeu a vantagem que tinha até a última rodada e agora precisa vencer o Sudão, fora de casa, e torcer contra Camarões. Sem trocadilho com certa espécie destes crustáceos, barbada!
No Grupo 4, Angola tem a grande chance de estabelecer a grande zebra das Eliminatórias, eliminando a Nigéria. Para isso precisa vencer, fora de seus domínios, a lanterna Ruanda. Aos nigerianos cabe fazer a sua parte, vencer em casa o Zimbabwe, e secar o adversário. Devemos ter três seleções falando português na Copa. Na última chave, Tunísia (joga em casa e por um empate) e Marrocos fazem o único confronto direto por uma vaga, justamente o mais indefinido de todos.
Na Europa, que ainda tem duas rodadas a serem disputadas, Holanda (Grupo 1); Portugal (3); Itália (5); e Polônia (6), estão a uma vitória da Copa (no caso dos portugueses até um empate serve). Dos quatro, dificuldades maiores para os poloneses, que só terão uma partida, fora de casa, na última rodada, contra a Inglaterra, que também luta pela vaga. Nessas chaves, República Checa (1), Eslováquia (ganha da Rússia na última rodada na chave 3) e Noruega (5), ficam com vaga na repescagem. Já Inglaterra ou Polônia (a vice do grupo 6) classifica direto, como um dos dos melhores segundos colocados de todos os grupos.
No Grupo 2, com a Ucrânia classificada, sobra para Grécia ou Turquia a briga pelo segundo lugar. Os gregos estão dois pontos atrás mas tem um jogo a mais para disputar. Mas mesmo assim os turcos têm mais chances.
No 4, a França, com a volta de estrelas como Zidane, tem um confronto direto pela liderança contra a Suíça e depois vence fácil os cipriotas. No sufoco, fica com a vaga e manda os relojoeiros para a repescagem.
No 7, Sérvia e Montenegro e Espanha devem manter as colocações atuais e irem, respectivamente, para a Copa e para a repescagem. E no Grupo 8, Croácia e Suécia decidem em confronto direto que se classifica e quem ainda terá mais uma batalha pela frente, ou até mesmo a vaga garantida com um dos melhores segundos colocados.
Rumo certo
Com uma atuação brilhante de Flávio, o Paraná deu um importante passo para se consolidar no grupo de ponta do Brasileirão e pode até almejar uma improvável vaga na Libertadores. Se mantiver o ritmo, ao menos conquista um lugar na rentável Copa Sul-Americana.
Rumo errado
Já o Coxa precisa interromper a fase decadente para evitar qualquer risco de integrar o indesejado grupo dos desesperados que lutam contra o rebaixamento. A derrota para o Goiás, definida em apenas seis minutos de jogo, acendeu uma grande luz vermelha no Couto Pereira.
De volta ao rumo
O Furacão venceu muito bem o Fortaleza, fora de casa, e aos poucos se distancia da zona de risco. Mas o melhor foi ver a volta, com direito a golaço, de Dagoberto.
Nota 10
Para Flávio, o grande responsável pela vitória tricolor no Mineirão.
Nota 0
Para Luiz Zveiter, pela decisão de suspender as 11 partidas apitadas por Edilson Pereira de Carvalho sem a confirmação efetiva da existência de fraudes em todas elas.