Dois jogos e duas realidades totalmente diversas. A estréia da seleção nas eliminatórias foi muito boa. Para a primeira partida em uma competição tão importante não há o que reclamar, principalmente pela vitória fora de casa contra os colombianos, diante de uma torcida entusiasmada e barulhenta. O jogo não foi um primor de técnica mas teve belas jogadas individuais e boas tabelas, quase sempre do lado brasileiro.
A surpresa foi a ótima atuação de Zé Roberto, que soube aproveitar o espaço que teve. A Colômbia concentrou a marcação (que aliás não é o forte da equipe) em cima de Alex, Rivaldo e Ronaldinho e com isso outros jogadores puderam aparecer mais no jogo. Destaque também para Roberto Carlos e para as entradas de Kaká e Renato, que deram mais velocidade ao jogo. Sem contar a providencial ajuda de Maturana, que a exemplo dos nossos técnicos deu uma aula de teimosia deixando Aristizábal no banco de reservas.
Já contra o Equador as coisas não correram tão bem. Jogando contra um time que marcou muito melhor, o Brasil dependeu demais de lampejos individuais dos seus craques. Só que isso quase não aconteceu e o jogo foi sonolento. O Equador foi muito mais organizado e bem posicionado em campo e só não empatou a partida porque o juiz fingiu não ver um pênalti – daqueles escandalosos – cometido por Roque Júnior.
E se no primeiro jogo a idéia medrosa de jogar com três volantes e apenas um atacante funcionou, o esquema não deu certo na segunda partida. Ronaldinho ficou sozinho na frente, Rivaldo mostrou que no momento não pode ser titular da equipe e até Ronaldinho Gaúcho se perdeu na forte marcação.
O pior é perceber que Parreira simplesmente não preparou o time para jogar com outra formação mais ofensiva. É a única justificativa para as burocráticas alterações no decorrer da partida. Pelo visto só o técnico ainda não percebeu que Renato é infinitamente melhor do que Emerson e que Kaká merece uma vaga como titular. E já que o Brasil pouco finalizava, porque insistir com Rivaldo totalmente fora de jogo tendo o artilheiro Luís Fabiano no banco.
A cabeça de um técnico de futebol é um mistério indecifrável.
Mas a análise das duas primeiras rodadas mostra que o Brasil deve garantir até com certa facilidade a vaga na próxima Copa. A liderança isolada representa um bom começo de caminhada, muito mais confortável do que o das últimas edições. Os outros concorrentes mostraram muitos altos e baixos, tanto que somente Brasil, Chile (grande surpresa nesse início de competição) e Argentina não perderam nenhum jogo. Mas se Parreira não mudar a forma da equipe atuar as dificuldades serão maiores do que as esperadas.
Dida – Pouco exigido contra a Colômbia. Contra o Equador teve mais trabalho e foi bem, apesar de bater roupa algumas vezes.
Cafu – O de sempre. Muita saúde e boas jogadas de ataque. Melhor contra a Colômbia, quando teve mais espaço. Sente a falta de uma ajuda efetiva dos meias pois o time joga muito pelo outro lado do campo.
Lúcio – Chutões e a velha falta de classe de sempre. Errou bisonhamente no gol dos colombianos e foi um pouco melhor contra o Equador.
Roque Júnior – Lembra muito o Júnior Baiano. Tem boa técnica, porte avantajado, mas abusa da sorte e adora fazer um pênalti como no jogo contra o Equador (nisso está muito bem acompanhado por Lúcio). Foi salvo pelo juiz. Alex, do Santos, é melhor do que os dois titulares juntos.
Roberto Carlos – Um dos melhores em campo contra a Colômbia, não foi tão bem contra o Equador. Mesmo assim foi um dos poucos que mereceu aplausos na noite de ontem.
Emerson – Merece uma homenagem da CBF pelos (bons?) serviços prestados à Seleção (o melhor foi ter ficado fora da última Copa do Mundo). Com a medalha no peito volta para Roma e cede o lugar a Renato.
Gilberto Silva – Muito bem contra a Colômbia, defendendo com segurança e armando boas jogadas ofensivas. Contra o Equador esteve irreconhecível, errando passes e até abusando da violência em lances isolados.
Zé Roberto – Calou os críticos com uma atuação brilhante contra a Colômbia. Mas no jogo seguinte voltou ao velho feijão-com-arroz. É um bom jogador mas não para a função pretendida por Parreira.
Ronaldinho Gaúcho – Suspenso contra a Colômbia voltou no jogo com o Equador. Não encontrou o espaço certo para jogar ao lado de Rivaldo e Zé Roberto. Teve poucos momentos inspirados mas fez um gol por estar bem posicionado na área.
Rivaldo – Mal nos dois jogos. No primeiro ainda fez boas tabelas e conclusões a gol mas contra o Equador perdeu duas chances claras e deveria ter sido expulso no início do jogo por uma entrada criminosa em um adversário. Merece férias da seleção até voltar a ter ritmo de jogo.
Ronaldinho – Boa movimentação e belas jogadas contra a fraca defesa colombiana. Sumiu em meio a retranca equatoriana graças a péssima escalação do time.
Alex – Titular no primeiro jogo mostrou a excelente fase que atravessa. Parreira não gosta muito dele e tentou "queimá-lo" com o posicionamento pelo lado direito. Mas o meia é craque e deu um jeito de escapar da armadilha.
Renato – Entrou bem nas duas partidas e provou que a camisa de titular, por mérito, seria dele. Mas com Parreira e Zagallo no banco...
Kaká – Outro que mostrou que merece uma vaga na equipe. Os ares de Milão parecem ter recuperado o belo futebol ausente nas últimas partidas pelo São Paulo.
Diego – Jogou pouco tempo para mostrar alguma coisa.
Nota 10
Para a Seleção de Parreira contra a Colômbia. Um bom começo de uma difícil batalha.
Nota 0
Para a Seleção de Parreira contra o Equador. A vitória foi boa, mas a forma como ela veio foi sofrível.