O aparente ressurgimento do futebol carioca, tanto nas rodadas iniciais do Campeonato Brasileiro, quanto, principalmente, na Copa do Brasil, apenas amplia o contraste da situação dos times dos dois mais tradicionais centros futebolísticos do país. Enquanto os fluminenses tem como meta o título da segunda principal competição do país, três dos quatro grandes paulistas continuam na luta pela conquista da América.
Apesar de ainda estarem muito aquém de outras épocas mais gloriosas, os grandes clubes do Rio de Janeiro se apresentaram em melhores condições para este Brasileirão, com destaque para o Fluminense, que é o que tem elenco mais qualificado e uma revelação de muito futuro: Lenny. Com isso, além de um bom começo na Série A, o tricolor conquistou larga vantagem na disputa por uma vaga na semifinal da Copa do Brasil, vencendo o forte Cruzeiro no Mineirão.
Pela mesma competição, o Flamengo, mesmo sem uma grande equipe e levado mais pela garra e apoio da torcida nos jogos em casa, conseguiu uma bela goleada sobre o Galo Mineiro, e também praticamente carimbou sua passagem à próxima fase. A dupla Fla-Flu segue, assim, com chances de voltar a decidir o título da competição para tentar apagar o gosto amargo das derrotas nas finais dos dois últimos anos.
Além dos dois, é certa a presença de mais um representante do estado nas semifinais do torneio, já que Vasco e Volta Redonda disputam uma das vagas. A restante deve ficar com os mineiros do Ipatinga, que já deixaram de ser surpresa. Apesar de vários jogadores terem saído da equipe após o vice-campeonato estadual, o time segue firme e conseguiu um belo empate em 1x1 com o Santos, na Vila Belmiro.
Libertadores
Se na Copa do Brasil são os cariocas que dão as cartas, a Libertadores é território paulista -- três dos cinco representantes brasileiros ainda vivos na competição vem de São Paulo. Como o Goiás dificilmente reverterá a desvantagem de dois gols para o Estudiantes, as esperanças de mais um título brasileiro na competição sul-americana está concentrada nos pés de Palmeiras, Corinthians, São Paulo e, o único intruso da turma, Internacional.
Deles, os três últimos tem mais chances de seguir em frente. A não ser que aconteça uma daquelas coisas que só ocorrem nos grandes clássicos, o São Paulo deve passar pelo alviverde paulista e continuar a caminhada rumo ao quarto título continental. Já os corintianos, apesar de demonstrarem em vários momentos do jogo contra o River Plate que ainda sofrem com o estigma de time caseiro, dependem apenas de uma vitória simples contra os argentinos no jogo de volta. É a maior chance de provar que o time pode se tornar realmente internacional e mostrar que o Título Mundial não veio por acaso.
Espanha x Inglaterra
Se algum deles conseguir o título continental terá pela frente no final do ano o vencedor de Arsenal e Barcelona, que decidem o título europeu. De um lado, a eficiência defensiva e o contra-ataque mortal do time inglês, invariavelmente concluídos pelos pés de Henry. Do outro, a técnica refinada do time comandado por Ronaldinho Gaúcho, Eto'o, Giuly e Deco, que mesmo atravessando um momento não tão feliz ainda é o que melhor jogou nos últimos meses. Quem gosta de futebol bonito torcerá pelo Barça, quem gosta de futebol competitivo e não troca um bom esquema tático pela individualidade, tem no Arsenal o seu ideal.
Telê
Se o time do holandês Rijkaard vencer, será uma bela homenagem a Telê Santana, talvez um dos últimos técnicos que priorizava a técnica e a lealdade ao invés da competitividade. Quem aprendeu a gostar de futebol na época da fantástica seleção de 1982 não esquecerá jamais como o futebol pode ser um jogo bonito. Aquele time só pode ser comparado aos que ganharam os títulos de 1958, 1962 e, talvez, 1970 e está vários degraus acima dos de 2002 e, principalmente, de 1994.
Parreira, aliás, poderia fazer um time à altura daquele se deixasse de lado a teimosia e o gosto por alguns brucutus. Bastaria montar o meio campo com Juninho Pernambucano, Kaká, Ronaldinho e Alex (ou mesmo Ricardinho) -- em 82 o time de Telê jogava com Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico. Daquela seleção, a única peça destoante era o trombador Serginho.
Mas se perdeu duas copas com o Brasil, Telê foi devidamente recompensado com duas conquistas mundiais pelo São Paulo, em 92 e 93. O tricolor viveu nas mãos do técnico seu período mais glorioso, desfilando técnica, sem perder a competitividade. Como treinador, o Fio da Esperança conseguia até mesmo tirar talento de onde menos se esperava, como dos pés de Júnior Baiano, que sob a batuta do mestre se transformou num zagueiro de estilo clássico e menos violento. Pena que não existam mais Telês por aí.
Nota 10
Para Telê Santana e seus serviços prestados ao futebol arte.
Nota 0
Para os torcedores brigões de São Paulo e Palmeiras por mais um espetáculo de selvageria.