Quatro medalhas de ouro, dez no total, e o título de campeão moral da Maratona. A campanha dos atletas brasileiros em Atenas foi a melhor jornada olímpica do páis até hoje, apesar do total de medalhas ser menos do que Atlanta (15) e Sydney (12).
Mas as quatro conquistas principais são muito mais fruto de nichos de excelência isolados do que de uma política esportiva séria e bem fundamentada. Mais do que o brilhante time de vôlei masculino, Emanuel e Ricardo, Scheidt, Grael e Ferreira, a real imagem do Brasil olímpico é a de Diogo Silva, que na disputa do bronze no Taekwondo relembrou o célebre protesto dos Panteras Negras norte-americanos nos Jogos de 68, usando uma luva negra em sua mão cerrada. Tudo para lembra a falta de apoio e as condições inadequadas de treinamento, que atingem muitos esportes no país.
São histórias e mais histórias de atletas que hoje ganham medalhas mas que não tinham uma pista decente para correr, ou um calçado adequado, ou até mesmo um campeonato para disputar, como o heróico time feminino de Futebol, que pela primeira vez contou com uma estrutura melhor em sua preparação (ainda muito longe da reservada a seus colegas homens) e trouxe uma prata que só não foi ouro por azar e incompetência da arbitragem.
Enquanto o ministro e o presidente do COI desfilavam nas elegantes festas de Atenas, o país desperdiçava talentos, deixando seus atletas olímpicos submetidos a pressões desumanas, como Daiane dos Santos. Não custo lembrar a falta de um trabalho psicológico mais intenso com os esportistas, ou como explicar a pane geral que custou uma medalha ao Vôlei Feminino? E nesta área o trabalhoo tem que ser sério e duradouro e não se limitar as exasperantes palestras de auto-ajuda, que chegaram ao absurdo, em Sydney, de fazer com que os atletas caminhassem sobre brasas para provar sua capacidade de superar desafios – algo felizmente não repetido nesta edição.
Da mesma forma, não adianta garantir o patrocínio das empresas estatais a atletas consagrados se não houver um trabalho de base nas escolas públicas de todo o país. E não apenas para formar atletas, mas também cidadãos, mantendo a juventude afastada dos riscos sociais das regiões pobres. Exemplos, como o do líbero Serginho, do Vôlei, existem aos montes entre os atletas que estiveram em Atenas.
Ainda há um longo caminho a ser trilhado para que o país possa realmente comemorar e se considerar uma potência olímpica.
O verdadeiro time dos sonhos
O time dos sonhos dos Jogos não joga com uma bola laranja e nem faz cestas. Ele pula, corta, bloqueia e defende como nenhum outro, sob as caretas quase convulsivas de Bernardinho. Não é a toa que Giba, André Heller, André Nascimento, Nalbert, Ricardinho, Maurício, Dante, Giovane, Serginho, Gustavo, Anderson e Rodrigão (e também os ausentes Henrique e Murilo) formam uma equipe imbatível. Além de talento e união, muito suor para compensar as deficiências individuais e coletivas. Receita para um time campeão.
O padre e o cordeiro
Vanderlei Cordeiro de Lima honra o seu sobrenome. Perdoou um ato que causou revolta ao redor do mundo – a rídicula invasão do padre irlandês que lhe tirou a chance do ouro (se iria ganhar ou não é mera especulação) – e comemorou tranqüilamente o seu bronze. Que deveria virar ouro se houvesse um mínimo de bom senso entre os dirigentes. Sua simplicidade rendeu a Medalha Pierre de Coubertin. Mais olímpico do que isso, é difícil.
Insuperável
Heptacampeão mundial. Quantos atletas podem ostentar este título? De cabeça me vem a memória Robert Scheidt e mais nenhum outro. Pois é esta marca que Schumcher atingiu após a melhor prova de temporada. Spa-Francorschamps é de longe a pista mais desafiadora e complexa da atualidade. Palco perfeito para coroar um super-campeão. Título que veio sem a vitória, a exemplo do ano passado, mas que apenas confirma o sensacional aproveitamento do almeão em 2004. 12 viórias, um segundo lugar e um acidente em 14 corridas. Curiosamente, não venceu apenas nos dois circuitos que ainda preservam a mística dos velhos tempos da F-1: Mônaco e Spa. E para ser o maior em todas as estatísticas faltam apenas quatro posições de honra na largada. E vai demorar muito para surgir alguém capaz de desafiar seus recordes.
Além do título de Schumacher, a corrida mostoru o ressurgimento da McLaren, e de seus dois pilotos para 2005. Raikkonnen ganhou como se fosse Schumacher, sem dar nenhum chance aos adversários. E Montoya fez ultrapassagens arrojadas e mostrou uma combatividade que andava esquecida.
Destaque também para a quadra brasileira. Barrichello espantou os azares do começo da corrida e conquistou um improvável terceiro lugar depois de ter que trocar toda a asa traseira. Tem sorte de correr pela incrível Ferrari. Massa levou a melhor numa disputa ferrenha com Montoya na Eaux Rouge, a curva mais difícil da F-1, e conquistou um ótimo quarto lugar. Pizzoni chegou a liderar a prova e seguia solidamente em terceiro, a frente de seu companheiro de equipe colombiano, quando teve problemas no câmbio. E Zonta conseguiu a proeza de manter o medíocre carro da Toyota na quarta posição até que o motor explodisse.
Nota 10
Para Vanderlei Cordeiro de Lima, não apenas pela excelente corrida, mas pela grandeza de espírito dos verdadeiros campeões. Para Bernardinho e seus pupilos por mais um show de competência, sem deixar de lado a simplicidade. Para o gigante de costeletas brancas que livrou Vanderlei do louco irlandês.
Nota 0
Para a lamentável cena da invasão na Maratona. Mancha para a organização que foi muito boa até então. E para o ex-padre irlandês Cornelius Horan, por mais um de seus papelões.