Quando for dada a largada neste domingo, dia 20, às 14h20, para a 1ª bateria da categoria Marcas do Campeonato Metropolitano de Londrina, no Autódromo Ayrton Senna, de Londrina, o piloto Francisco Malaquias estará realizando um sonho: correr em uma competição oficial de automobilismo. Desde 1992, quando foi inaugurado o autódromo, Malaquias - que é deficiente físico - freqüenta a praça esportiva londrinense e não perde uma corrida, das mais importantes ali realizadas.
Ele contou essa semana à Folha Norte que desde a inauguração do autódromo pegou gosto pelos esportes de velocidade e não via a hora de poder acelerar um carro de corrida. Mas teve paciência e hoje poderá ver concretizado esse sonho. Os treinos livres para a etapa de abertura do campeonato, que deverá ter 20 carros da Marcas 1.6 (Gol e Voyage) e mais uns 25 Fuscas da categoria Speed iniciarão às 9 horas.
É quando Malaquias se verá lado a lado com os demais pilotos - a maioria já experientes - e tentará chegar próximo do tempo que os concorrentes farão para pegar um bom lugar no grid. "Não me importo de andar atrás. Acho que no começo vou mesmo fechar a fila (ficar em último). Com o tempo pego o jeito e ficarei mais à vontade no carro. Porque, por enquanto, quando estou na pista, não tem jeito: a boca seca e o coração dispara", diz o estreante, que correrá com um Gol aspirado (não turbo).
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Francisco Malaquias tem deficiência no braço e na mão esquerda, que são mais curtos, sequelas de um acidente simples aos 8 anos de idade, mas que teve o tratamento médico errado. "Era quebradura e não foi tratada como tal. Em função disso, busquei me adaptar e sempre consegui fazer todas as atividades normalmente. Ando de moto, de carro, já pratiquei vários esportes, fui goleiro e por aí vai. Essa diferença nunca foi uma limitação e nunca me impediu de eu buscar os meus espaços", relata.
Tanto que na pista ele tem as mesmas condições de ter um rendimento igual ao de qualquer outro piloto. Para Malaquias, o problemas da deficiência são "os outros": "São as pessoas que olham para nós pondo um limite, sem na verdade conhecer nossa realidade. O meu carro de uso diário, por exemplo, não tem nenhuma adaptação, assim como o de corrida", diz o piloto, que trabalha como supervisor em uma empresa de vistorias para seguros.
Malaquias diz que nunca deixou de acreditar no seu sonho, que se concretizou quando conheceu o empresário Ronaldo Freitas, que atua no mesmo ramo e é piloto há mais de três anos. "Viemos um dia aqui (ao autódromo) treinar e ele gostou tanto da experiência que decidiu correr atrás de viabilizar um carro e a participação numa competição, o que não é nada fácil, já que serão 8 provas e 16 baterias", conta Freitas, que é sócio da equipe Cesinha Competições.
O CARRO E A EQUIPE
Em outubro do ano passado, Francisco Malaquias começou a percorrer as empresas e pedir ajuda a amigos para poder correr em 2011. Já obteve dez patrocínios, mas o valor representa apenas 70% do custo de manutenção do carro. Seus apoiadores são: Expresso Car, Posto Triângulo, Stereo Car Som, Senhorpexinxa (site de compras coletivas), Renato Auto Service, Fix Banners, Dkra Vistorias, Promotos, Protork e Adefil. "Tenho que continuar correndo atrás, porque não é fácil entrar nesse ramo", disse, justificando os custos.
Ronaldo Freitas, seu incentivador, opina que a categoria é de "baixo custo" se comparada a tantas outras. "É uma categoria de acesso e próxima do profissional". Francisco argumenta que muitos jovens gastam até mais e o "dinheiro que não têm" para equipar um carro de rua, modificando-o para participar de rachas. "Gastam um horror e tiram todos os itens que oferecem segurança ao carro, tornando-o um perigo mortal. O que deveriam era vir aqui ao autódromo para pilotar com segurança", prega ele.
CONQUISTA PARA A ADEFIL
Para o presidente da Associação dos Deficientes Físicos de Londrina (Adefil), Paulo Lima, a conquista de Malaquias é de todos os integrantes da entidade. "Temos o compromisso de mostrar à sociedade que é necessário romper certos paradigmas e barreiras que foram sendo impostas ao longo da história. Já temos há anos atletas participando dos Circuitos Paraolímpicos da Caixa e de tantas competições no atletismo, natação e halterofilismo. Chegou a vez do automobilismo", anuncia.
Engajar a Adefil nesse projeto é algo novo, "embrionário", segundo ele. "Mas é importante divulgar a entidade a novos públicos e mostrar que a pessoa com deficiência tem condições de fazer quase tudo o que uma outra faz", afirma Lima.
O presidente disse que pode colocar o nome da entidade para angariar patrocinadores para Malaquias. "Temos muitos empresários que podem nos ajudar. Mas é importante lembrar que é apenas mais uma das vertentes a explorar. Não podemos tornar esse fato mais importante que as várias ações que a Adefil desenvolve junto à sociedade", ressalva.
A entidade tem aproximadamente 1.500 associados. Segundo Lima, o número aumentou muito em razão do trabalho de conscientização feito nos últimos anos pela diretoria, que tem cobrado das empresas e do poder público as oportunidades de trabalho que são garantidas por lei e o cumprimento dos deveres em favor da pessoa com deficiência. "Mas é lógico que ninguém vai dar um emprego por pena. Por isso incentivamos os nossos associados a se capacitarem para atender às necessidades do mercado."