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Ser piloto

Londrinense supera deficiência e realiza sonho

Jaime Kaster - Folha Norte
19 fev 2011 às 15:51

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- Folha Norte
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Quando for dada a largada neste domingo, dia 20, às 14h20, para a 1ª bateria da categoria Marcas do Campeonato Metropolitano de Londrina, no Autódromo Ayrton Senna, de Londrina, o piloto Francisco Malaquias estará realizando um sonho: correr em uma competição oficial de automobilismo. Desde 1992, quando foi inaugurado o autódromo, Malaquias - que é deficiente físico - freqüenta a praça esportiva londrinense e não perde uma corrida, das mais importantes ali realizadas.

Ele contou essa semana à Folha Norte que desde a inauguração do autódromo pegou gosto pelos esportes de velocidade e não via a hora de poder acelerar um carro de corrida. Mas teve paciência e hoje poderá ver concretizado esse sonho. Os treinos livres para a etapa de abertura do campeonato, que deverá ter 20 carros da Marcas 1.6 (Gol e Voyage) e mais uns 25 Fuscas da categoria Speed iniciarão às 9 horas.

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É quando Malaquias se verá lado a lado com os demais pilotos - a maioria já experientes - e tentará chegar próximo do tempo que os concorrentes farão para pegar um bom lugar no grid. "Não me importo de andar atrás. Acho que no começo vou mesmo fechar a fila (ficar em último). Com o tempo pego o jeito e ficarei mais à vontade no carro. Porque, por enquanto, quando estou na pista, não tem jeito: a boca seca e o coração dispara", diz o estreante, que correrá com um Gol aspirado (não turbo).

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Francisco Malaquias tem deficiência no braço e na mão esquerda, que são mais curtos, sequelas de um acidente simples aos 8 anos de idade, mas que teve o tratamento médico errado. "Era quebradura e não foi tratada como tal. Em função disso, busquei me adaptar e sempre consegui fazer todas as atividades normalmente. Ando de moto, de carro, já pratiquei vários esportes, fui goleiro e por aí vai. Essa diferença nunca foi uma limitação e nunca me impediu de eu buscar os meus espaços", relata.

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Tanto que na pista ele tem as mesmas condições de ter um rendimento igual ao de qualquer outro piloto. Para Malaquias, o problemas da deficiência são "os outros": "São as pessoas que olham para nós pondo um limite, sem na verdade conhecer nossa realidade. O meu carro de uso diário, por exemplo, não tem nenhuma adaptação, assim como o de corrida", diz o piloto, que trabalha como supervisor em uma empresa de vistorias para seguros.


Malaquias diz que nunca deixou de acreditar no seu sonho, que se concretizou quando conheceu o empresário Ronaldo Freitas, que atua no mesmo ramo e é piloto há mais de três anos. "Viemos um dia aqui (ao autódromo) treinar e ele gostou tanto da experiência que decidiu correr atrás de viabilizar um carro e a participação numa competição, o que não é nada fácil, já que serão 8 provas e 16 baterias", conta Freitas, que é sócio da equipe Cesinha Competições.

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O CARRO E A EQUIPE


Em outubro do ano passado, Francisco Malaquias começou a percorrer as empresas e pedir ajuda a amigos para poder correr em 2011. Já obteve dez patrocínios, mas o valor representa apenas 70% do custo de manutenção do carro. Seus apoiadores são: Expresso Car, Posto Triângulo, Stereo Car Som, Senhorpexinxa (site de compras coletivas), Renato Auto Service, Fix Banners, Dkra Vistorias, Promotos, Protork e Adefil. "Tenho que continuar correndo atrás, porque não é fácil entrar nesse ramo", disse, justificando os custos.

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Ronaldo Freitas, seu incentivador, opina que a categoria é de "baixo custo" se comparada a tantas outras. "É uma categoria de acesso e próxima do profissional". Francisco argumenta que muitos jovens gastam até mais e o "dinheiro que não têm" para equipar um carro de rua, modificando-o para participar de rachas. "Gastam um horror e tiram todos os itens que oferecem segurança ao carro, tornando-o um perigo mortal. O que deveriam era vir aqui ao autódromo para pilotar com segurança", prega ele.


CONQUISTA PARA A ADEFIL

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Para o presidente da Associação dos Deficientes Físicos de Londrina (Adefil), Paulo Lima, a conquista de Malaquias é de todos os integrantes da entidade. "Temos o compromisso de mostrar à sociedade que é necessário romper certos paradigmas e barreiras que foram sendo impostas ao longo da história. Já temos há anos atletas participando dos Circuitos Paraolímpicos da Caixa e de tantas competições no atletismo, natação e halterofilismo. Chegou a vez do automobilismo", anuncia.


Engajar a Adefil nesse projeto é algo novo, "embrionário", segundo ele. "Mas é importante divulgar a entidade a novos públicos e mostrar que a pessoa com deficiência tem condições de fazer quase tudo o que uma outra faz", afirma Lima.


O presidente disse que pode colocar o nome da entidade para angariar patrocinadores para Malaquias. "Temos muitos empresários que podem nos ajudar. Mas é importante lembrar que é apenas mais uma das vertentes a explorar. Não podemos tornar esse fato mais importante que as várias ações que a Adefil desenvolve junto à sociedade", ressalva.

A entidade tem aproximadamente 1.500 associados. Segundo Lima, o número aumentou muito em razão do trabalho de conscientização feito nos últimos anos pela diretoria, que tem cobrado das empresas e do poder público as oportunidades de trabalho que são garantidas por lei e o cumprimento dos deveres em favor da pessoa com deficiência. "Mas é lógico que ninguém vai dar um emprego por pena. Por isso incentivamos os nossos associados a se capacitarem para atender às necessidades do mercado."


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