A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) trabalha com a certeza de que "não há risco algum" de Sergio Sasaki não participar do Mundial, em outubro, na Escócia. Mas isso não é verdade. O mais completo ginasta brasileiro, imprescindível para a conquista da vaga olímpica, corre risco real de ficar fora da competição, pré-olímpica. A CBG desconhece a informação porque, desde que Sasaki foi submetido a uma complicada cirurgia para reconstruir o ligamento cruzado anterior do joelho direito, dia 8 de janeiro, o atleta não recebeu sequer um telefonema de qualquer representante da entidade. O prazo de recuperação estipulado pelos médicos vai de seis a oito meses.
"Ninguém me procurou, me ligou, perguntou se eu estava bem, se eu estava precisando de qualquer coisa", conta Sasaki, em entrevista exclusiva à Agência Estado. "A CBG quer você quando você ganha. Quando o atleta está passando por dificuldade, pelo amor. Ela só está com o atleta quando ele ganha. Se perde ou se está machucado, não ligam."
O ginasta se lesionou exatamente na melhor fase da carreira, disputando a etapa de Glasgow (Escócia) da Copa do Mundo de Ginástica, no dia 6 de dezembro, representando a seleção brasileira. Uma semana antes, pela primeira vez havia superado a barreira dos 90.000 pontos no individual geral (soma dos seis aparelhos) para ficar com a prata na disputadíssima etapa de Stuttgart (Alemanha) da Copa do Mundo. O resultado colocou Sasaki, sétimo colocado no Mundial do ano passado, em Nanning (China), como real candidato à medalha na edição 2015, exatamente em Glasgow.
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O Mundial começa no dia 23 de outubro e Sasaki tem exatamente nove meses para se preparar. Da presença dele praticamente depende a classificação do Brasil como equipe para os Jogos do Rio/2016. Sexta colocada em Nanning, a seleção precisa ficar entre as oito melhores para poder levar time completo à Olimpíada. Sasaki é o melhor do País em quatro aparelhos, e só fica atrás de Arthur Zanetti nas argolas e de Diego Hypolito no solo.
"Eu quero competir o Mundial. Tenho noção de que sou importante para a equipe, para a classificação olímpica. Se o Brasil ficou em sexto, tem grande ajuda minha", admite o ginasta, que não vai ao Pan de Toronto (Canadá). O COB também reconhece a importância de Sasaki e se prontificou a cuidar dele assim que soube da lesão. No mesmo dia que chegou ao Brasil, voltando da Escócia, Sasaki passou por exames de ressonância magnética. Em 15 minutos, ficou sabendo da gravidade da lesão.
Ouviu do médico do COB, Breno Schor, que, além do ligamento rompido (diagnóstico que já havia sido passado pelo médico que o atendeu em Glasgow), estava com uma lesão no menisco. Uma cirurgia poderia resolver os dois problemas de uma vez só, mas o tempo de recuperação seria maior. Optou por um tratamento conservador e, em um mês, estava com o menisco curado, pronto para operar.
"Se eu não falar que não fiquei assustado, estou mentindo. Estou com medo. É a insegurança vai passar na cabeça de qualquer atleta que opera. Mas meu corpo está dando respostas muito boas. Estou confiante que eu possa voltar 100%. Confio muito no médico", diz Sasaki, em referência ao médico que o operou, Caio D'Elia, da equipe de Breno.
Fazendo fisioterapia diária e musculação para os membros superiores, Sasaki pretende em breve voltar a subir em alguns aparelhos. Afinal, é possível realizar alguns treinos nas argolas, barras assimétricas, barras fixas e cavalo com alça, nos quais os principais exercícios dependem do tronco e dos membros superiores.
SEM CLUBE - Ginasta mais completo que o Brasil já teve, Sergio Sasaki está sem clube desde março de 2013, quando o Flamengo fechou sua equipe de alto rendimento e demitiu ele, Diego e Daniele Hypolito, Jade Barbosa, Caio Campos e Petrix Barbosa. Na época, os seis fizeram um pacto: formavam uma equipe e seguiriam trabalhando unidos, treinados por Renato Araújo. Foram todos demitidos juntos. Seriam todos contratados juntos.
Quase dois anos depois, Jade voltou para o Flamengo, Daniele Hypolito está no Cegin (Paraná), Diego Hypolito fechou com o ASA/São Bernardo e levou Caio Campos junto. Sasaki também teve a oportunidade de reforçar a nova equipe do ABC Paulista, onde foi construído um moderno centro de treinamento, mas manteve o pacto feito com Renato Araújo. A equipe que quiser contratá-lo tem que levar o treinador junto.
Na sexta-feira, Sasaki voltou de mala e cuia para o Rio. Depois de cerca de um ano e meio no Pinheiros (que cedeu seu ginásio, mas não contratou o grupo porque não desejava um novo técnico), vai treinar no novo CT da ginástica, na HSBC Arena, na Barra.
OUTRO LADO - A CBG refuta as reclamações de Sasaki: "A CBG, por meio do seu coordenador da seleção de ginástica artística masculina, Leonardo Finco, tem feito contato constante com o atleta Sérgio Sasaki, que integra a seleção. Esse contato é feito também com o técnico do ginasta e com toda a equipe médica que está cuidando de Sasaki".