Aos 35 anos, Fabiana Murer nunca havia olhado para frente em uma competição e encarado um sarrafo posicionado a 5,00m de altura. Com apenas mais três torneios pela frente na carreira, ela enfim conquistou o "direito" dessa ousadia. Reflexo do recorde sul-americano batido durante o Troféu Brasil de Atletismo, em São Bernardo do Campo (SP), no domingo, ao saltar 4,87m.
Principal esperança de medalha do atletismo brasileiro nos Jogos Olímpicos do Rio, Murer, agora líder do ranking mundial, chegou onde nunca antes havia chegado na carreira. Mas nem isso a faz pensar em desistir da aposentadoria.
"Isso nem é cogitado. Eu vou parar esse ano ainda. Não dá mais", disse, segura, depois de um resultado que tirou lágrimas até do marido, o técnico Elson Miranda, e dos juízes que validaram o salto.
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Passada a adrenalina do feito, que fez Murer "desempacar" dos 4,85m que ela já havia alcançado três vezes na carreira (em 2010, 2011 e 2015), ela resolveu arriscar os 5,00m. Uma altura que, até hoje, só a russa Yelena Isinbayeva conseguiu suplantar ao ar livre - Jennifer Suhr, segunda do ranking de todos os tempos, tem 4,92m.
Diante de um público extasiado na Arena Caixa, Murer falhou em duas tentativas e resolveu nem arriscar mais uma vez. "Em treino, eu já tinha tentado. Fico feliz de ter experimentado, é diferente encarar o sarrafo a 5 metros", contou. Ela nem de longe indicou que pode alcançar esse feito. "É muito para ela", admite Elson.
O marido e treinador, entretanto, ressalta que só a tentativa de 5 metros já é um feito. Na prática, qualquer atleta pode arriscar esse desafio em competições que não Olimpíada e Mundial. Mas o esporte tem seu próprio código de conduta. "Cinco metros, ou qualquer outra altura, é algo que você conquista. Não é que você chega lá e tenta saltar 5 metros. Você primeiro precisa subir todos os degraus antes disso."
Sem bons resultados na temporada até então - era nona do ranking mundial, com 4,70m -, Fabiana encontrou as condições ideais para um grande resultado. Estádio cheio, vento a favor, dia limpo, clima agradável e a vontade de se despedir do Troféu Brasil com um grande salto.
Murer se vai, mas deixa herdeiras. Pela primeira vez em sua longa carreira, a competição teve tantas inscritas que precisou ter uma fase preliminar. Foram 25 participantes, sendo 17 de menos de 20 anos. "Tem mais meninas fazendo salto com vara, e acho que também por causa dos meus resultados. É legal ter estimulado as meninas a fazer a prova. Espero que saiam boas atletas para continuar o que eu fiz", disse a saltadora, prata no Mundial do ano passado.
Antes da Olimpíada, ela participa de mais duas etapas da Diamond League: Mônaco, em 15 de julho, e Londres, no dia 23 do mesmo mês. "Depois de competir na Europa volto para o Brasil e fico treinando em São Caetano até a Olimpíada", avisou.