O presidente da Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD), Carlos Fernandes, pode ser afastado do cargo por suspeita de ter fraudado o estatuto da entidade, entre 2011 e 2012, às vésperas da eleição que o manteve no cargo. Na ocasião, três federações estaduais que lhe faziam oposição foram desfiliadas, incluindo a paulista, presidida por aquele que pretendia ser seu concorrente.
A decisão, em segunda instância, foi publicada nesta segunda-feira pela 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em documento assinado pelo desembargador Peterson Barroso Simão. Carlos Fernandes tem cinco dias para recorrer.
A ação foi movida pela Federação de Taekwondo do Estado de Minas Gerais (FTEMG), que alega que o estatuto da CBTKD, aprovado em assembleia realizada em novembro de 2011, não é o mesmo que foi registrado em 2012. A principal alteração impede que uma pessoa não nascida no Brasil seja eleita presidente da CBTKD.
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Modalidade desenvolvida na Coreia do Sul, o taekwondo brasileiro sempre teve dirigentes sul-coreanos, sendo Fernandes o primeiro brasileiro a assumir a CBTKD. As entidades prejudicadas são exatamente aquelas que têm dirigentes sul-coreanos, de estados onde a modalidade é mais desenvolvida. A FTEMG é presidida por Chang Seon Lim, enquanto a Federação de Taekwondo do Estado de São Paulo (FETESP) é liderada por Yeo Jun Kim. Também foi desfiliada a federação de Roraima, que havia declarado voto em Kim.
A disputa de poder vem de longa data. Em 2009, por exemplo, quando a CBTKD ainda era tocada pelos sul-coreanos (Jung Roul Kim era o presidente), houve uma eleição para vice. A federação gaúcha pediu para que o voto da Liga Nacional de Taekwondo (entidade ligada a Yeo Jun Kim) fosse impugnado. A federação de Roraima, por sua vez, pediu a impugnação do voto do Rio Grande do Sul. O Maranhão então solicitou a impugnação do voto de Roraima. Na ocasião, Yeo Jun Kim venceu Carlos Fernandes e assumiu a vice-presidência da CBTKD.
À época, foi Carlos Fernandes (então presidente da federação do Rio) quem recorreu à Justiça alegando adulteração de documentos de sete federações, todas aliadas de Yeo Jun Kim. A disputa política de bastidor continuou até que o dirigente carioca acabou assumindo a vice-presidência.
Aquela eleição acabou levando Carlos Fernandes à presidência em 2010, quando Jung Roul Kim foi afastado depois de ter as contas anuais da entidade rejeitadas, exatamente pelo grupo de Carlos Fernandes. O dirigente carioca seguiu à frente da CBTKD até as eleições de 2013, quando foi candidato único, uma vez que Yeo Jun Kim não pôde concorrer, por não ser nascido no Brasil.
"A FETESP, como era de se esperar, retorna ao seu lugar de onde nunca deveria ter saído em razão dos desmandos do suposto presidente da entidade nacional, como única entidade oficial do estado de São Paulo, lembrando que a decisão traz nulidades a todos os atos praticados pela CBTKD desde então", comemorou a entidade de Kim, nesta segunda-feira, após a publicação da decisão pelo TJ-RJ. O dirigente, entretanto, é investigado em auditorias das secretarias municipal e estadual de Esporte em São Paulo.
Kim comanda pelo menos seis entidades, entre elas a Liga Nacional e as federações paulistas de tae kwon do e tiro com arco. Em março, a Agência Estado mostrou que, entre 2013 e 2014, essas seis entidades receberam R$ 6 milhões em 34 convênios com a Prefeitura e o Governo do Estado de São Paulo.
Parte da verba - R$ 305,5 mil, em dois dos convênios, para aluguéis de equipamentos de arco e flecha e de taekwondo - foi usada para locar equipamentos da KI Sports, empresa que até 2012 era de Kim. A filiação de Anderson Silva à CBTKD não deve entrar na disputa política da CBTKD. Afinal, os sul-coreanos também se mostraram favoráveis à participação do lutador de MMA na seletiva olímpica do tae kwon do. Kim até se ofereceu para ser seu treinador.