Uma das modalidades mais populares do país, o MMA pela primeira vez teve lutadores contemplados com a Bolsa Atleta, do governo federal, e causou polêmica. Tudo por conta do Dragon Fight, evento regional realizado em Gramado (RS) que se tornou 'Campeonato Sul-Americano de MMA' por conta da documentação enviada ao Ministério do Esporte, em Brasília, pela Confederação Brasileira de MMA (CBMMA). Entre os beneficiados está o filho do presidente da entidade.
Campeão da categoria até 71kg, mas sem Bolsa Atleta porque não foi avisado pela CBMMA da abertura das inscrições, Brayon Cardoso alega só ter feito uma luta no evento. A documentação enviada pela CBMMA ao ministério, porém, garante que quatro estrangeiros estiveram presentes nesta categoria: um chileno, um argentino, um paraguaio e um boliviano. Graças ao caráter sul-americano do evento, nove atletas foram contemplados com Bolsa Atleta de R$ 1.850 mensais.
"Eu não vi nenhum estrangeiro lá. Talvez tivesse um uruguaio lutando por equipe brasileira, no máximo", disse Rafael Pivas, técnico do Maori Fight, de Gramado (RS). "Eu fiquei até a última luta. Não tinha estrangeiro, não", garantiu Brayon. O relato é o mesmo de um jornalista local que cobriu o evento e de outros dois atletas ouvidos pela reportagem.
Leia mais:
Moringão recebe Festival de Ginástica Rítmica de Londrina pela primeira vez
Equipe londrinense é campeã dos Jogos Abertos do Paraná em Apucarana
Apucarana recebe a fase final dos Jogos Abertos do Paraná a partir desta sexta
Atleta da Atril promove Oficinas de Atletismo para crianças no dia 8 de dezembro em Londrina
Não é isso que diz a documentação enviada pela CBMAA ao Ministério do Esporte. Só em cinco categorias válidas para o Bolsa Atleta foram 26 estrangeiros, de sete países que vão do Paraguai à Colômbia. "Olha, teve uns oito ou nove gringos. A gente chama, agora se eles vêm não é problema nosso", havia dito, há cerca de três meses, o organizador do Dragon Fight, Ronnie Lincoln, presidente da Federação Gaúcha de MMA. Procurado nesta segunda-feira, o dirigente disse que as súmulas do evento estavam no site da "confederação" e perguntou se o repórter "não sabia ler" quando a reportagem disse não tê-los encontrado.
Para evitar fraudes, a legislação do Bolsa Atleta exige a participação de cinco países em provas de modalidades não-olímpicas e não concede bolsa nacional a elas. Por isso, recusou, por exemplo, a documentação de um "Campeonato Mundial de Jiu-Jítsu Esportivo", realizado só com brasileiros, em São Paulo, no ano passado.
Fotos após a pesagem do Dragon Fight mostram atletas com camiseta de academias gaúchas, não mais do que 40. O evento foi realizado em formato de GP, em um único dia. Assim, caso uma categoria tenha realmente tido oito inscritos, o campeão fez três lutas de MMA entre as 17 horas e as 23 horas, quando terminou o evento. Foram disputadas 10 categorias e só havia um octógono.
Entre os beneficiados está Cristiano Bennedeto, técnico da equipe Inter Estilos, de Bom Princípio (RS), e contemplado com Bolsa Pódio na "categoria de idade" intermediária, "também conhecida por juniores/juvenil", como diz a portaria que regula a Bolsa. Cristiano tem 32 anos. Ele é próximo de Ronnie Lincoln.
Dos nove contemplados, pelo menos cinco são da equipe de Bennedeto, que proibiu seus atletas de concederem entrevistas depois que a reportagem informou o teor da investigação. Outro é Jefferson Nemeth Macambira, filho de Elísio Macambira, presidente da CBMMA. O dirigente se negou a apontar, em uma foto dos lutadores do evento, qual é seu filho.
O suposto atleta tinha perfil no Facebook até domingo, mas o apagou depois de a reportagem contactá-lo. De acordo com o ministério, ele foi terceiro colocado na categoria até 93kg. Fotos da mesma época mostravam que ele não pesava mais do que 80kg.
Elísio, vice-presidente da Confederação Brasileira de Luta Olímpica (CBLA), pediu que a reportagem procurasse Roberto Trindade, seu diretor executivo, para obter as súmulas do Dragon Fight. Ele inicialmente prometeu enviá-las, mas depois disse que só trataria do caso via advogado. O mesmo fez Elísio, que disse ter recebido orientação do seu advogado para não fornecer o telefone do filho.
"Todas as categorias de peso indicadas tiveram competidores de cinco países diferentes", garante o ministério do Esporte. Com relação a Jefferson, a resposta foi: "A confederação e o atleta enviaram documentação atestando que ele cumpre os requisitos exigidos pelo programa".