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Amor e Paixão

26 ago 2003 às 19:08

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Um pouco antes do seu trágico acidente, referindo-se a sua mulher, esta frase foi dita por um dos grandes ídolos da música brasileira, Herbert Vianna.
Pessoa bem nascida, boa educação, líder de uma das mais criativas bandas de rock brasileiras - tanto assim que se fala em Paralamas do Sucesso e não lembramos de outro integrante. Preparado, carismático, famoso, jovem, rico, bonito. Em suma, o modelo mais do que perfeito do jovem que tem o mundo aos seus pés, a verdadeira materialização do sonho de ser do homem moderno.
E por que o destaque destas suas qualidades? Para termos, antes de tentarmos alcançar o profundo conteúdo presente nesta frase, a noção de que toda esta sua condição privilegiada colocava à sua disposição o que quisesse - por exemplo, ter e escolher lindas e maravilhosas mulheres.

Para de fato "alcançarmos" esta frase, há que se ter presente uma noção, a mais exata possível, de que um ídolo dispõe do que não imaginam os simples mortais. Não importa qual a sua arte - se músico, atleta, empresário ou político. Não importa qual a sua especialidade, se chique ou brega. Simplesmente o que importa é ser ou não ser famoso, o que no dizer de Dale Carneggie, o grande precursor das doutrinas de auto-ajuda, "é a necessidade básica número 01 do ser humano".

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Cumprida esta única condição, naturalmente vai se formando um ambiente cuja única razão de existir é alimentar permanentemente o ego do famoso, das formas mais variadas, dispondo à sua vontade o que no mundo está disponível. Poucos, pouquíssimos são os ídolos que conseguem escapar desta força, que é cômoda e tentadora.

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Existem apenas dois antídotos para este veneno e um deles Herbert Vianna o possui. Uma palavra apenas é pouco para defini-lo. É uma mistura de personalidade forte, cultura, índole, educação e ideal. É, ideal. É certo que em algumas vezes beneficiou-se desta sua condição; teve belas companhias, manteve até um relacionamento mais duradouro com uma das musas do nosso rock and roll, Paula Toller, mas parece que nunca Herbert Vianna perdeu o rumo do seu norte, e sempre o buscou.

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Um dia, em uma entrevista, conheceu quem tanto buscava; não era a mais bela, não era a mais jovem, não era 'a mais' em nenhum daqueles predicados, digamos, da moda. Era uma simples e desconhecida jornalista inglesa. Com ela foi casado por oito anos e por ela, na medida em que estes anos passaram, foi perdidamente apaixonado. Infelizmente, num daqueles insondáveis abusos do destino, ela partiu para outro plano; somos pequenos para compreender ou sequer ousar discutir a lógica dos céus.


Agora, voltemos à frase inicial: usa as palavras paixão e amor. Comumente são utilizadas como sinônimos, o que está errado. Como nesta frase, poucas vezes foram tão corretamente utilizadas. Para analisar suas sutis diferenças, façamos um teste prático: podemos afirmar, talvez de uma forma absoluta, que 100% dos seres humanos já se apaixonaram; quem, dentre todos os mortais, nunca sentiu por alguém aquele kit completo de emoções quase incontroláveis, uma verdadeira mistura envenenada de palpitações, sudorese, arrepios, sonhos, desejos, presentinhos, bilhetinhos, etc?

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Quando estamos apaixonados, as classificações convencionais somem, são pulverizadas; se rico ou pobre, se bonito ou feio, se gordo ou magro, alto ou baixo, azul ou amarelo, nada importa, pois duas das características mais exclusivas e típicas da paixão são a cegueira e a irracionalidade. Até mesmo a medicina já explicou a paixão: uma verdadeira explosão de neuro-transmissores, recentemente descobertos, que congestionam o cérebro. Foram chamados de serotoninas, de endorfinas e algumas outras inas. É, química, estamos falando de química.


Acontece que a estória é a mesma em quase todas as paixões; de repente, click, as coisas acabam! Quem ainda não passou por isso? O cérebro, não mais o coração, começa a funcionar. Percebemos que "a coisa não é bem assim", que "aquela qualidade" não é tão verdadeira como parecia, que aquele defeito "facilmente superável" é na verdade insuportável, que existem "tantas outras pessoas tão interessantes por aí", enfim. Além disso, todas as "inas" somem, desaparecem. É, a química termina! Em síntese, a paixão é rápida como uma montanha russa (e tão emocionante quanto). Tudo bem que existam montanhas russas que duram dois minutos e outras quinze mas, convenhamos, sob o prisma de uma vida, são tão rápidas!

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Mas continuemos o nosso (auto) teste; e que tal se todas estas fortes emoções durassem para sempre? Que tal, se a elas agregássemos ainda a admiração, a confiança, o respeito, a cumplicidade, a afinidade, enfim, aquilo tudo que Herbert Vianna tão bem sintetizou numa palavra maior: o companheirismo. É como se no momento do apagar das luzes um gerador imenso se ligasse e a luz viesse ainda mais forte. Apenas um quesito é necessário para que a metamorfose da paixão em amor possa sobrevir; identidade espiritual.


O amor(verdadeiro), é a verdadeira sublimação da matéria; nos seus domínios, estética, riqueza e poder, simplesmente não existem. Faça uma pergunta a si próprio; dentre as dezenas, centenas de pessoas que você conhece, quantas sabem o que é o verdadeiro amor? A estes poucos privilegiados que receberam a dádiva de permanentemente "consumir esta droga", minha admiração e, por que não dizer, a minha (boa) inveja.

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Portanto, quando em nosso aniversário fecharmos os olhos e fizermos o nosso pedido, ou quando no natal ao velhinho pedirmos o nosso presente, não nos esqueçamos, peçamos o presente maior que um ser humano pode desta vida esperar: o amor verdadeiro. Este, acredito, deve ser o sentido maior de uma palavra que tanto buscamos na nossa passagem por esta vida: felicidade.


Como na última cena de "Campo dos Sonhos", ao olhar sua família sentada na varanda de casa, Kevin Costner se pergunta; então, será que não é este o significado de paraíso?

E.T.; Nada, nem ninguém, falou melhor sobre amor e paixão do que o livro Tristão e Isolda mas esta,,.. é outra estória.


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