Verdugo era o seu nome. Na década de 70, o horário mais nobre de sábado mostrava "Os Reis do Ringue", um programa de luta livre também chamado de Tele Catch. Ainda hoje muito popular nos Estados Unidos, com transmissão nacional e audiência na casa de milhões, não mais no Brasil. Para quem não conhece, é um misto de circo, pastelão, luta combinada, que tem uns golpes de nomes esquisitos como tacle, tesoura voadora, etc., e cujos lutadores são divididos em dois times totalmente distintos e claramente caracterizados; bonzinhos e vilões. Neste ramo, sempre os bons lutam contra os maus e sempre, adivinhe, apesar de tantos golpes baixos como limão espremido nos olhos e outras trairagens que nunca são vistas pelos juízes, o bem sempre vence. Obs.; é a catarse social, por sinal, o mesmo combustível que move a imensa engrenagem das telenovelas.
Mas um, apenas um entre todos os lutadores destoava daqueles dois grupos, O Verdugo.
Era imenso. Não fazia parte de nenhum dos dois times, não era amado nem odiado, algumas vezes a torcida era contra, vaiava e outras, a favor; tudo dependia do perfil do seu adversário. Nem no céu nem no inferno, ele ficava no purgatório. Como todos os demais lutadores, tinha o seu ajudante que era chamado de "segundo", que nos intervalos entre rounds colocava o banquinho, etc.. Era o "caveirinha", um anão muito do desaforado. Também, o Verdugo tinha a sua indumentária; usava uma espécie de collant preto onde havia o desenho dos ossos. Era fechada, inclusive no rosto que era o de uma caveira. Nunca alguém viu o rosto do Verdugo e este, era um dos grandes mistérios daquele Brasil tão mais inocente e básico do que o de hoje. Além disto, ainda tinha uma perna dura, arrastava-a como faz o Frankstein. Era um horror o Verdugo. Mas fazia o estilo horroroso/sofredor que, ao invés de gerar repulsa, gerava pena. E daí vinha o seu grande apelo. Quando apanhava, urrava como um urso mas, quando(sempre) conseguia se desvencilhar de uma má situação, lá vinha ele em direção ao adversário com o seu golpe fatal; lentamente, mancando, com os dois braços esticados para cima e para a frente. As mãos, abrindo e fechando, sinalizando ao adversário que queria "medir forças", golpe que era quase que propriedade sua e que consistia no seguinte; ambos, mãos espalmadas lá em cima, tentavam dobrar o pulso do adversário. Já no início do golpe, a platéia delirava. Depois de "um tempo de tensão", o que cedia tendia a cair de joelhos ou, golpe perfeito; o que estava ganhando, num movimento muito rápido baixava os braços num arco lateral e, a partir daí, coitado do adversário do Verdugo; os pulsos eram dobrados de baixo para cima, até o (em breve) perdedor ficar na ponta dos pés, e pedir água. Algumas vezes, acabava o tempo durante o golpe e a luta terminava empatada. Os lutadores, extenuados, não tinham mais forças nem mesmo para levantar os braços.
Por natureza, sou um ser comparativo,
e na equação que move a minha lógica, sempre estou comparando novas situações que se apresentam com coisas, pessoas, fatos, frases, livros, filmes, personagens, que no meu passado conheci. E em duas situações, sempre me lembro desta estória do Verdugo; a- quando encontro pessoas que nunca somam, que nunca agregam e que sempre disputam, confrontam. Quanta perda de energia, quanta anulação de forças. b- e, pior do que isso; quando encontro pessoas que por um motivo ou outro do destino estão ligadas, (con)vivem mas........,,,,,, em desequilíbrio de forças. E essa 2ª situação é muito mais perigosa, muito mais complexa por que é muito menos aparente do que a 1ª, vocês verão. Para entender os motivos, de início,
destruamos dogmas;
não é o amor que une pessoas, seja um homem e uma mulher, amigos, parentes, não importa. Também, não são "incompatibilidades" que afastam pessoas. A célula matter, que na sua falta ou na sua presença dá origem a essas duas séries é anterior e chama-se; equilíbrio construtivo(existe o equilíbrio destrutivo). Equilíbrio de sonhos, equilíbrio de objetivos de vida, equilíbrio de gostos, equilíbrio de índoles, equilíbrios, equilíbrios......,, que trazem a paz, que trazem o sorriso, que geram o companheirismo(vide "Amor e Paixão), que trazem,..... vejam......, o equilíbrio. Notem, este é um círculo, a forma perfeita da natureza. É o caminho do meio do Budismo, percebam.
Mas, vamos ao oposto;
em qualquer belo relacionamento que começa, que está todo encaixadinho em tudo de bom que está aí em cima e que tem tudo para ser o céu, o que pode "desequilibrar"? O que pode dar o início ao distanciamento que gera...,,,, o desequilíbrio? Resposta; os pré-conceitos, aquelas porcarias que, acho mas não estou bem certo que seja a única fonte, são colocadas em nosso cérebro na educação e nos exemplos que recebemos. Se em nosso coração estão vivos(ou latentes) os conceitos que de início já classificam as pessoas de forma depreciativa por raça, religião, condição social, cultural, etc., começamos a dar peso e a destruir relacionamentos. E peso, sempre, é desequilíbrio. Equilíbrio é um negócio que nunca existirá na falta de uma coisa que se chama....,,,, leveza e que, por sinal, muitas vezes se inicia quando puxamos quem está ao nosso lado para cima. Ou o contrário, o peso-morto, que nisso se transforma por que somos nós mesmos que o(a) jogamos para baixo. Quando ligamos esta máquina, neste ponto, um dos dois inicia um silencioso duelo de medição de forças, o mais fraco fraquejará, pedirá água e, O Verdugo vencerá. Que melancólica vitória.